“Momento
deprimente
POR MERVAL
PEREIRA
É deprimente ter
que tratar de um assunto desses no momento em que o país tem em jogo tantos
assuntos importantes para o seu futuro. Ser fiscal dos costumes não é, definitivamente,
o papel de um presidente da República. Para isso, há leis e órgãos de
fiscalização e repressão.
Não se trata de
defender, muito menos de eximir de culpa os que praticaram os atos
pornográficos exibidos pelo presidente em seu Twitter. Atentado ao pudor merece
as penas da lei. Mas generalizar um comportamento pervertido como sendo o
retrato de blocos de carnaval é uma atitude desprezível, sobretudo para o
presidente de um país que tem no Carnaval a sua maior festa, que injeta
dinheiro em uma economia paralisada, promove empregos, mesmo que temporários, e
é o símbolo do povo brasileiro, que cativa os estrangeiros.
Bolsonaro,
postando um vídeo daquele nível numa rede pública, está cometendo um atentado
ao decoro, divulgando material pornográfico com a chancela da presidência da
República. O presidente Jair Bolsonaro tem é que estar empenhado em aprovar as
reformas importantes, sobretudo a da Previdência, sobre a qual são poucas suas
manifestações na internet.
Além do mais, ao
sugerir que esta é a imagem do Carnaval, está sendo injusto com a imensa
maioria dos foliões, e prejudicando um dos ativos intangíveis mais valiosos que
a cultura brasileira tem. Por que não publicar os milhares de vídeos mostrando
uma comemoração saudável, com famílias inteiras nos blocos, inclusive crianças?
Não tem sentido,
mesmo que tenha razão nas críticas, publicar um vídeo pornográfico em seu
twitter pessoal. Se quer dar prioridades aos temas de costumes, poderia ter
feito comentários, chamando a atenção para fatos como os que exibiu
explicitamente. Fazer campanha contra o turismo sexual é, sim, papel do governo
e saudável para o país.
É inacreditável,
no entanto, que Bolsonaro não tenha noção do que seja uma impropriedade da
função para a qual foi eleito. O perigo é que confunde suas convicções pessoais
com as da Nação. Se quer que seu moralismo exacerbado seja o novo normal do
país, tem que dar o exemplo. E postar pornografia não é certamente a melhor
maneira de preservar sua autoridade, a nível nacional e internacional.
Bolsonaro já
admitiu, entre gargalhadas, num programa CQC na Rede Bandeirantes, que, quando
adolescente, fez sexo com diversos animais como “jumentinho” e “galinha”. A isso chama-se zoofilia, atração sexual de
humanos por animais. Assim como a cena exibida por Bolsonaro é chamada de
urofilia. Ambas são patologias classificadas como parafilia, “preferências sexuais
anormais e doentias”.
Sua atitude, na
melhor das hipóteses, está sendo atribuída a uma revanche contra os blocos de
rua que o criticaram em diversas partes do país. Tomando a parte mínima pelo
todo, Bolsonaro estaria desqualificando as críticas.
Mas há também a
possibilidade de que tenha querido agradar uma parte importante de seu
eleitorado, que vê no Carnaval uma festa profana que não deve ser estimulada.
Seria a mesma atitude do prefeito Marcelo Crivella que nunca deu importância
para o Carnaval, viajando para fora do país no momento que deveria ser mais
importante, se recusando a entregar a chave da cidade para o Rei Momo, sem
assistir ao desfile das escolas de samba.
Infelizmente
houve vários presidentes brasileiros que protagonizaram cenas que os
desmoralizaram, ferindo o decoro do cargo. Como Collor quando disse, num
comício público, que tinha “aquilo roxo”. Ou Itamar, que recebeu no camarote
presidencial no Carnaval uma mulher sem calcinha. Esses foram atos públicos,
fora os privados, que chegaram ao público através de vídeos e gravações.
Como Lula, numa
campanha, fazendo piada com os homossexuais. Ou chamando as mulheres de “grelo
duro” a defendê-lo. Em todos esses casos, o machismo brasileiro se impôs,
ajudando a esvaziar a repercussão da fala inapropriada.
Bolsonaro
deveria entender que chegou ao Palácio do Planalto também com os votos daqueles
que o consideravam o mal menor, que não queriam a volta do PT ao poder. Numa
democracia, o eleito é presidente de todos os brasileiros, mesmo dos que não
votaram nele.
Dos seguidores
de todas as religiões, de todas as pessoas que brincam Carnaval, e das que não
brincam também. Por isso não tem o direito de querer impor suas convicções
pessoais ou politicas. O exemplo do veto à indicação de Ilona Szabó para a
suplência de um Conselho do ministério da Justiça mostra que ele não entende
que no governo, e especialmente num conselho consultivo, é preciso ter quem
pense diferente para ajustar as decisões do governo aos anseios da sociedade,
que não se expressa pelas redes sociais. Ou pelo menos não só através delas.
O conteúdo
explicito da pornografia acontecida em público, e sua divulgação, sob o
pretexto de defender a moralidade, foram momentos deprimentes do triste
cotidiano de um país que não consegue construir seu futuro.”
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AGD
comenta:
Frases
que devem ter inspirado o Bolsonaro em lançar o vídeo:
“Falem
bem, ou falem mal, mas falem de mim!
“Trate
o príncipe, pois, de vencer e conservar o Estado. Os meios que empregar serão
sempre julgados honrosos e louvados por todos”.
A
primeira frase não sei de quem é, a segunda é do Maquiavel. É a Política,
estúpido!
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