Por Zezinho de Caetés
Depois da bela vitória do Brasil
sobre o Paraguai, na qual ficou evidenciado que quando se tem um administrador
competente, como um Tite e um líder brilhante como o Neymar (perder pênalti faz
parte), o time consegue o que quer, leio na mídia que a Igreja Católica,
através da CNBB divulgaram um manifesto contra a Reforma da Previdência.
Só posso concluir que os bispos
entendem tanto de contas públicas quanto o Dunga entendia de futebol. O que
acontece é que os bispos e padres também pagam INSS e agora, com a Reforma, vão
ter que abençoar os fiéis por mais tempo. E isto é um sacrifício ou uma missão
do sacerdote?
Claro que os padres dizem que
falam pelos pobres que podem ser prejudicados e não se nega que a Igreja tem uma
história longa de defesa deles, mesmo que Jesus tenha dito que pobres sempre
existirão na face da terra. No entanto, neste caso, o que ela não está vendo é
que sem a reforma o Brasil vai à insolvência fiscal.
Uns dizem que não se pode
retroagir quando há avanço sociais. Eu digo que isto é verdade apenas quando a
irresponsabilidade não é tão grande ao se proporcionar este avanço. E isto não
só vem do PT, mas, sim desde a Constituição Cidadã, que sempre pensou em tirar
o Brasil da miséria na canetada, sem se preocupar em desenvolvimento econômico,
e mais acreditar mais em milagres.
Vejam o que diz o Maílson da Nóbrega
sobre o que isto pode significar, em resumo:
“A insolvência geraria o fenômeno conhecido como “dominância fiscal”,
isto é, a situação em que o Tesouro não consegue financiar sua dívida no
mercado e passa a fazê-lo mediante emissão de dinheiro. O Banco Central perde a
capacidade de assegurar a estabilidade da moeda. A inflação foge do controle e
pode nos levar de volta aos horrores da hiperinflação.
Como aprendemos, os pobres são os que mais sofrem com a inflação. Ao
contrário dos ricos, os pobres não têm como recorrer a mecanismos de proteção
contra a alta dos preços e à corrosão inflacionária de seus salários. Os ricos
até ganham. Por isso, a inflação é um meio perverso de cobrar indiretamente
impostos dos pobres e de concentrar a renda do país.”
O que os bispos estão dizendo,
que a reforma prejudica os pobres, não tem muito sentido, quando se sabe as
condições vigentes hoje na aposentadoria. Hoje, os pobres que trababalham no
mercado informal não conseguem se aposentar nem com 70 anos, quanto mais com os
65 que é proposto na reforma, com que todos passam a se aposentar.
É claro que isto tudo passa
também por uma Reforma Trabalhista que nos livre da CLT que nos impediu de
progredir durante quase um século e que só prejudicou os trabalhadores, pois
grande parte deles não tem carteira assinada, e nunca teve, mesmo no período
que o Lula dizia que inventou o pleno emprego, através do Bolsa Família.
O fato é que o Brasil passa por
um período onde poder-se-ia dizer que “É
a economia, estúpido” o nosso principal problema. As questões políticas vão
se resolvendo. E precisamos de pessoas que entendam da área, como a equipe que
o Temer montou. Ou seja, sem mantivéssemos o Dunga, o Brasil não iria à copa da
Rússia, certamente.
Os padres e os advogados (que
também se imiscuem pensando que leis geram recursos, pelo menos com a OAB
nacional) que se atenham as suas profissões com mais afinco, e passem a não interferir
tanto naquilo em que eles não entendem. Concluo com uma frase do Maílson no
texto citado:
“A CNBB não percebeu que o atendimento de sua proposta seria a desgraça
dos pobres.”
E ainda mais, deixo para vocês,
abaixo, um texto da Míriam Leitão (O Globo de hoje – “Cobrir o rombo”), onde ela mostra, com mais conhecimento, como é
que o governo tenta lidar com o cobertor curto das receitas. E nem é preciso
falar em Previdência para não encurtar mais o cobertor.
“O governo afiou mais a tesoura e
vai cortar R$ 32 bilhões para deixar o aumento de impostos ser o menor
possível. Nos últimos dias, várias opções frequentaram a mesa de conversas da
área econômica, mas o que está sendo fechado é o fim das desonerações criadas
pelo governo Dilma. Era para estimular o emprego e não teve o resultado
esperado. As empresas pagarão mais, mas não é aumento de imposto.
Quem vai bater o martelo sobre o
aumento de impostos será o presidente Temer. Mas o que se diz na equipe
econômica é que a resistência dos empresários à alta de tributos foi muito
grande. A lista de possíveis elevações incluía PIS, Cofins, Cide, IOF e IPI.
Foi intensamente discutida, impostos entravam e saíam da mesa, mas depois as
propostas foram sendo deixadas de lado. A Cide saiu logo da lista pelo impacto
direto na inflação.
No final do dia, a conta era
assim: receber R$ 12 bilhões com a venda das hidrelétricas que eram da Cemig e
serão licitadas, utilizar R$ 8,6 bi de precatórios depositados e não sacados
pelos seus donos, e recolher pelo menos R$ 8 bi de reoneração da folha. Mas
tudo estava meio em suspenso, no aguardo do STJ e da AGU. No tribunal, a espera
é por decisão de dois ministros que estão respectivamente com as decisões sobre
as hidrelétricas de São Simão e Miranda. Eles decidirão se o governo poderá relicitar
as usinas que estavam em concessão com a Cemig. A AGU está avaliando quanto
será possível recuperar dos precatórios depositados à disposição de
contribuintes que não foram retirá-los. Dependendo da evolução desses dois
pontos, o corte pode até crescer.
A contribuição das empresas para
a Previdência havia sido reduzida pelo governo Dilma com a expectativa de
criação de emprego. Não ocorreu. Pelo contrário, o país viveu uma escalada de
desemprego. A Previdência perdeu dinheiro pela redução da base de contribuintes
e porque as empresas passaram a pagar bem menos com a nova fórmula. Elevar
novamente a cobrança da contribuição previdenciária neste momento pode agravar
o problema das empresas, mas o fato é que a política não funcionou e, além
disso, era para apenas alguns setores.
A base na qual incidirá o corte é
pequena. Se for levado em conta que o PAC não pode ter cortes, mas apenas
atrasos nos pagamentos, o total sobre o qual pode incidir a redução de despesas
é de R$ 90 bi. Técnicos do governo admitem que o corte terá um peso grande na
administração pública. Por outro lado, se a situação econômica melhorar e
houver melhoria de arrecadação, o contingenciamento será revertido. Já o efeito
do aumento de imposto não pode ser anulado com a mesma rapidez.
A luta do governo nos últimos
dias para cobrir o rombo extra de R$ 58,2 bi mostrou o quanto o país está longe
do reequilíbrio das contas públicas. Elas se desorganizaram no governo Dilma, o
país entrou em recessão, e nesse ambiente a arrecadação despencou mais do que o
PIB. O governo Temer, ao chegar, cometeu o erro de conceder aumentos de
salários aos funcionários porque temia uma onda de greves.
O Tribunal de Contas da União
(TCU) tem sido, ao contrário do que pode parecer, um aliado. Parece um fiscal,
mas tem sido dado como o melhor argumento para quem quer pôr as contas em dia.
A qualquer vacilo na intenção de austeridade, ou concessão pedida por grupos de
pressão, alguém diz que não pode ser feito porque “o TCU não deixa”. Depois do
protagonismo do Tribunal no impeachment da presidente Dilma, o atual governo
consulta o órgão a cada passo.
Uma das ideias que estão sendo
estudadas no governo é a de reduzir o subsídio dos empréstimos do BNDES através
de uma elevação da TJLP. Como a Selic está sendo reduzida, a alta da taxa de
juros cobrada pelo banco público reduzirá o custo do subsídio concedido ao
crédito para as empresas que fazem operações com o BNDES.
Nos últimos dias, o governo
expediu mandado de busca e apreensão de qualquer receita que pudesse ajudar a
cobrir o rombo extra. Desta forma se chegou a essas ideias da venda das usinas,
do dinheiro dos precatórios, da reoneração. Toda essa ginástica para se chegar
no final do ano com um buraco de R$ 139 bilhões. O país está muito longe da
terra firme.”
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