Semana Santa em Bom Conselho (Fonte: Blog da CIT) |
Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho
Aproxima-se
a Semana Santa. Recordei sentado no silêncio da noite olhando para o céu escuro
com algumas nuvens carregadas prenunciando
chuva. No silencio o meu pensamento voltou-se para o
meu torrão natal, Bom
Conselho. A Semana era aguardada com
ansiedade pelos
moradores. E, comecei a recordar, o tempo de penitencia e observância no tempo quaresmal que a Igreja desejava para
os fiéis e, que
eram obedecidos rigorosamente. Lembro-me como coroinha que fui naquele tempo, às crianças que faziam parte das
celebrações, andava por dentro da Matriz vendo os preparativos para o
grande momento de sofrimento de Jesus. As
imagens eram cobertas totalmente por pano de seda roxo, fornecido
pelo grande benfeitor Gabriel
Vieira Belo, que retirava da loja de tecidos que tinha no “quadro”.
Deixando
de lado, a segunda, terça e quarta feira, esta com a realização da grande feira onde os
moradores saiam à rua para
comprar o
mantimento para os
dias, da quinta, sexta e sábado,
o pescado, o bacalhau, o
bredo, o coco, o
jerimum, o quiabo e maxixe, o
arroz, a
farinha e o feijão de coco e outras
frutas para o domingo.
Naquele
tempo, a quinta feira santa, fazia-se silencio. O
jejum e abstinência eram
rigorosos. A
oficina na Rua dos
Correntões, hoje, Barão
do Rio Branco, não fazia nenhum ruído, cessava a
atividade do malho
e martelo. Em casa a mamães se esmeravam, o dedo a toda hora diante dos lábios, para
que as crianças não fizessem barulho. Era proibido gritar. Era
proibido arrastar cadeira. Era proibido brigar com os irmãos,
tudo era pecado assim explicava as mães aos filhos. Não
castigava as crianças por nenhum motivo. O beliscão, o puxão de orelhas, o
cocorote e bolos nas mãos eram cessados. A palmatoria era guardada na gaveta ou
pendurada no lugar de costume, na parede.
A
igreja aberta pela sua porta
lateral, onde alguns
fiéis iam fazer
suas orações e penitência no silêncio e na escuridão. Nenhuma vela ou
mesmo luz era permitido. O
tempo nublado e triste demonstrava algo que estaria para acontecer. Ao meio do dia,
a cidade parecia dormir. Nenhuma
alma viva andava pela rua, todos recolhidos em suas moradias. A cidade era um
imenso velório guardado pela população. Cristo morrera. Os carros faziam silencio, não buzinavam. As pessoas pareciam andar devagar
pisavam mais suave. Falava-se baixinho para solicitar qualquer coisa. A notícia
de uma morte neste dia, por brigas, isso horrorizava o povo.
À tarde os
paus de arara vinham carregados de pessoas que moravam na zona rural, nos
sítios e fazendas, a maioria vestindo de preto, as mulheres, e os homens que
tarja preta no braço direito denominado “fumo”.
Sexta
Feira então o silencio era total,
não se ouvia nenhum ruído nem nas ruas e tampouco nas casas. O homem que fossem
ao barbeiro, cortar o cabelo ou raspar a barba era admoestado, em voz baixa. Os
meninos mais crescidos, principalmente aqueles
que eram os
coroinhas ouvia o
Sermão da Paixão na Matriz, onde o padre Alfredo, bom orador, incisivo, severo
nos conceitos e pronunciando vagorosamente as palavras
num profundo respeito e silencio dos fies que lotavam a igreja.
Por
volta das três horas à população se aprontava
para a procissão do Senhor
Morto, pelas ruas da cidade acompanhando cotejo a banda de
música da cidade, com um toque fúnebre que chegava muitas senhoras lacrimejar enxugando muitas das
vezes com o
véu ou chalé que cobria
as cabeças das
mulheres piedosas.
Os
garotos ansiosos para sair na
procissão vestindo uma
túnica branca representando
os doze apóstolos, Cada um tinha
uma faixa, cruzando
o peito em
varias cores, verde, azul, amarelo, rosa, verde escuro, amarelo claro, azul
marinho, cinza, vermelho
e a minha marrom, que ninguém queria sair com
esta cor, pois se dizia que era cor de “judas”, que aperreio meu. A
frente da procissão a cruz ladeada
por dois homens com castiçais e velas acesas em duas filas indianas, ali estava
o Apostolado da Oração, Legião de Maria, Vicentinos
e seminarista capuchinhos todos tristemente acompanhando o corpo do Senhor
Morto; A matraca
soava com tristeza com o seu traque e traque pela mão do sacristão.
No
sábado o silencio continuava. E
só depois de rompida a Aleluia, proclamada pelo padre, com judas malhado em
toda parte da cidade, os sinos
badalando, automóveis buzinando, os fiéis se abraçavam, uns ria outros choravam, pois corria na
cidade a fama de que o padre não achasse a aleluia o mundo se acabaria, e a
expectativa era grande nas pessoas.
Às cinco horas
da manhã a procissão da Ressureição, no domingo com muita afluência dos fieis
que aguardava com ansiedade e, assim depois a cidade se movimentava onde muitos
acorriam para bares e as famílias se reuniam em um almoço
fausto, regada de vinho e outras iguarias.
Então
me recordei deste momento, que atualmente é ignorado por muitos católicos
que não mais respeitam esta semana santa.
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