Por Zé Carlos
Eu não sei como uma escola de samba ainda não escolheu um
enredo, pelo menos que eu saiba, que tratasse da corrupção no Brasil.
Certamente, seria campeã este ano, ao invés da Portela que botou o Aladim para
voar no Sambódromo. Posso até fazer resumo de um para, quem sabe, orientar
algum carnavalesco para o próximo ano. Mãos à obra sucessores de Joãozinho 30.
A Comissão de Frente seria formada pelos últimos presidentes
da República, inclusive da ditadura militar, mortos e vivos, para não irmos
muito longe na História porque se fôssemos ela não caberia na avenida. Os vivos
iriam ao vivo e os mortos seriam representados por bonecos infláveis tão à moda
dos dias de hoje. Se escolhessem um fardão da academia como fantasia não
destoaria muito. Seria uma homenagem post mortis ao Getúlio, e o Sarney não o
precisaria nem comprar o traje.
A ala das baianas sairia vestida de torre de petróleo e
teria mãos afanando o petróleo, que era nosso um dia, e que agora serve apenas
como fonte de propinas para políticos. Seria a Ala Pré-Sal. Um verdadeiro
desbunde de alegria e comemoração.
O primeiro carro alegórico de proporções monumentais e nunca
vista nos desfiles seria uma homenagem ao patrimonialismo devastador que se
instaurou no Brasil logo após os índios comerem o seu primeiro bispo, o
Sardinha, pensando em se tratar de um peixe, passando pelo Lula tentando usar o
Palácio da Alvorada como se de Dona Marisa, que Deus a tenha, fosse. E o carro
seria tão grande que certamente, pelo peso, perderia o rumo na avenida e como
sempre, atingiria o povo pagante do desfile.
Outra ala viria em seguida mostrando as nossas riquezas
naturais sendo dilapidadas pelo homem, que tenta delas usufruir o que tem de
bom para sua subsistência, e seria bem representada por um Belo Monte, de onde
sairiam propinas para eleger políticos corruptos, e que seriam aqui
representados por pessoas mamando nas tetas das incorporadoras que ganhavam
licitações ilícitas.
E, finalmente, teríamos a chegada na praça da apoteose, onde
a escola perderia o título, por excesso de componentes, somente porque a ala
principal, chamada de Ala dos Idiotas, era composta por mais de 100 milhões de
eleitores que votaram nas últimas eleições.
No entanto, nem tudo foi carnaval nas semanas que se
passaram (fui ao carnaval na semana passada e não escrevi esta coluna), a não
ser que se queira chamar de carnaval, e não sem razão, a dança dos políticos
com os vazamentos das delações da Odebrecht. Confesso que fiquei pasmo com o
que li e ouvi, e com medo de que não chegássemos ao nosso pós-carnaval. Pela a
amostra que vazou, em absoluto sigilo para os marcianos, pois o mundo todo sabe
de tudo sobre o que nossa Justiça decreta sigilo, o pós-carnaval vai ser pior
do que a pós-verdade, que é uma palavra da moda para encher linguiça de
analista sem assunto.
A grande pergunta do momento é a seguinte: “Quem foi
realmente comprado pelo Marcelo Odebrecht: o Temer, a Dilma, o Aécio, o Lula ou o Trump?”. Hoje só se descarta
a última hipótese, ou seja, o Trump não foi comprado pelo Marcelo, embora não
se possa dizer que não tenha tentado e foi recusado porque o Trump quer é
comprar o Brasil. E, pelo que se sabe, pelo menos pela imprensa há versões para
todos os lados. Penso eu, pelas reações de todos, o Marcelo comprou um pedaço
de cada um. O Temer diz que a Odebrecht o comprou legalmente, e ele não disse
qual era seu preço. O Lula já se manifestou sobre Caixa 2 no passado dando a
impressão que foi comprada e perguntava: “E
quem não foi?”. O Aécio, por sua vez, diz que a compra foi legal e a vista
de todos, enquanto a Dilma, nossa musa, que ainda anda fazendo o povo rir com a
peça “O golpe de cada dia” que dizem
fazer sucesso no exterior, diz apenas que é “tudo mentira é não pode ser”.
Entretanto, o que mais chamou a atenção na semana foi o
sizudo Sérgio Moro querendo melar esta alegria geral, escrevendo para uma
revista semanal. Vejam o que ele diz, e meditem se ele não é o culpado por o
Brasil, nosso bispado e a paróquia em que habitamos não se tornem um verdadeiro
palco de alegria. Vejam o que ele disse quando os pândegos o tentaram criticar
por prender muita gente:
“A questão real —e é
necessário ser franco sobre isso— não é a quantidade, a duração ou as
colaborações decorrentes, mas a qualidade das prisões, mais propriamente a
qualidade dos presos provisórios. O problema não são as 79 prisões ou os
atualmente sete presos sem julgamento, mas sim que se trata de presos
ilustres.”
E além disso, pasmem ele ainda tenta arrematar:
“As críticas às
prisões preventivas refletem, no fundo, o lamentável entendimento de que há
pessoas acima da lei e que ainda vivemos em uma sociedade de castas, distante
de nós a igualdade republicana.”
E vai além em sua sisudez chocante para os dias de momo:
“Mesmo considerando-se
as 79 preventivas e o fato de elas envolverem presos ilustres, é necessário ter
presente que a operação revelou, segundo casos já julgados, um esquema de
corrupção sistêmica, no qual o pagamento de propinas em contratos públicos
consistia na regra do jogo.”
Querem mais?
“A atividade delitiva
durou anos e apresentou caráter repetido e serial, caracterizando, da parte dos
envolvidos, natureza profissional. Para interromper o ciclo delitivo, a prisão
preventiva foi decretada de modo a proteger a ordem pública, especificamente a
sociedade, outros indivíduos e os cofres públicos da prática serial e reiterada
desses crimes.”
E vejam até onde vai sua audácia:
“As críticas genéricas
às prisões preventivas na Lava Jato não aparentam ser consistentes com os
motivos usualmente invocados pelos seus autores. Admita-se que é possível que,
para parte minoritária dos críticos, os motivos reais sejam outros, como a
aludida qualidade dos presos ou algum desejo inconfesso de retornar ao status
quo de corrupção e impunidade.”
E como se não bastasse o Moro conclui:
“... nem sequer é
viável debater, pois tais argumentos são incompatíveis com os majestosos
princípios da liberdade, da igualdade e da moralidade pública consagrados na
Constituição brasileira.”
Então meus parcos leitores, vocês só podem concluir que
jamais o juiz Sérgio Moro fará parte desta coluna, pela sua seriedade e falta
de senso de humor. Já pensaram ele e Lula juntos!? Esta coluna se tornaria uma
guerra de facções. Portanto, continuemos com nossos humoristas habituais. Os
que aqui entram são pândegos incorrigíveis e imbatíveis. O que queremos é que
os Moro os provoque tanto que eles produzam grandes shows de humor como vem
acontecendo depois da Lava Jato.
E parece que tudo ficará realmente para quando o carnaval
passar de verdade, o que se espera seja na semana que vem, isto se não
inventarem um Bacalhau do Batata 2, para sair no fim da Quaresma. O que podemos
fazer é ficar na espera para voltar ao ritmo normal desta coluna, com um humor
político que nossos 15 leitores adoram e pedem bis. Até lá então.
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