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segunda-feira, 6 de março de 2017

A semana - Carnaval, corrupção e o Sérgio Moro atravessando o samba




Por Zé Carlos

Eu não sei como uma escola de samba ainda não escolheu um enredo, pelo menos que eu saiba, que tratasse da corrupção no Brasil. Certamente, seria campeã este ano, ao invés da Portela que botou o Aladim para voar no Sambódromo. Posso até fazer resumo de um para, quem sabe, orientar algum carnavalesco para o próximo ano. Mãos à obra sucessores de Joãozinho 30.

A Comissão de Frente seria formada pelos últimos presidentes da República, inclusive da ditadura militar, mortos e vivos, para não irmos muito longe na História porque se fôssemos ela não caberia na avenida. Os vivos iriam ao vivo e os mortos seriam representados por bonecos infláveis tão à moda dos dias de hoje. Se escolhessem um fardão da academia como fantasia não destoaria muito. Seria uma homenagem post mortis ao Getúlio, e o Sarney não o precisaria nem comprar o traje.

A ala das baianas sairia vestida de torre de petróleo e teria mãos afanando o petróleo, que era nosso um dia, e que agora serve apenas como fonte de propinas para políticos. Seria a Ala Pré-Sal. Um verdadeiro desbunde de alegria e comemoração.

O primeiro carro alegórico de proporções monumentais e nunca vista nos desfiles seria uma homenagem ao patrimonialismo devastador que se instaurou no Brasil logo após os índios comerem o seu primeiro bispo, o Sardinha, pensando em se tratar de um peixe, passando pelo Lula tentando usar o Palácio da Alvorada como se de Dona Marisa, que Deus a tenha, fosse. E o carro seria tão grande que certamente, pelo peso, perderia o rumo na avenida e como sempre, atingiria o povo pagante do desfile.

Outra ala viria em seguida mostrando as nossas riquezas naturais sendo dilapidadas pelo homem, que tenta delas usufruir o que tem de bom para sua subsistência, e seria bem representada por um Belo Monte, de onde sairiam propinas para eleger políticos corruptos, e que seriam aqui representados por pessoas mamando nas tetas das incorporadoras que ganhavam licitações ilícitas.

E, finalmente, teríamos a chegada na praça da apoteose, onde a escola perderia o título, por excesso de componentes, somente porque a ala principal, chamada de Ala dos Idiotas, era composta por mais de 100 milhões de eleitores que votaram nas últimas eleições.

No entanto, nem tudo foi carnaval nas semanas que se passaram (fui ao carnaval na semana passada e não escrevi esta coluna), a não ser que se queira chamar de carnaval, e não sem razão, a dança dos políticos com os vazamentos das delações da Odebrecht. Confesso que fiquei pasmo com o que li e ouvi, e com medo de que não chegássemos ao nosso pós-carnaval. Pela a amostra que vazou, em absoluto sigilo para os marcianos, pois o mundo todo sabe de tudo sobre o que nossa Justiça decreta sigilo, o pós-carnaval vai ser pior do que a pós-verdade, que é uma palavra da moda para encher linguiça de analista sem assunto.

A grande pergunta do momento é a seguinte: “Quem foi realmente comprado pelo Marcelo Odebrecht: o Temer, a Dilma, o  Aécio, o Lula ou o Trump?”. Hoje só se descarta a última hipótese, ou seja, o Trump não foi comprado pelo Marcelo, embora não se possa dizer que não tenha tentado e foi recusado porque o Trump quer é comprar o Brasil. E, pelo que se sabe, pelo menos pela imprensa há versões para todos os lados. Penso eu, pelas reações de todos, o Marcelo comprou um pedaço de cada um. O Temer diz que a Odebrecht o comprou legalmente, e ele não disse qual era seu preço. O Lula já se manifestou sobre Caixa 2 no passado dando a impressão que foi comprada e perguntava: “E quem não foi?”. O Aécio, por sua vez, diz que a compra foi legal e a vista de todos, enquanto a Dilma, nossa musa, que ainda anda fazendo o povo rir com a peça “O golpe de cada dia” que dizem fazer sucesso no exterior, diz apenas que é “tudo mentira é não pode ser”.

Entretanto, o que mais chamou a atenção na semana foi o sizudo Sérgio Moro querendo melar esta alegria geral, escrevendo para uma revista semanal. Vejam o que ele diz, e meditem se ele não é o culpado por o Brasil, nosso bispado e a paróquia em que habitamos não se tornem um verdadeiro palco de alegria. Vejam o que ele disse quando os pândegos o tentaram criticar por prender muita gente:

“A questão real —e é necessário ser franco sobre isso— não é a quantidade, a duração ou as colaborações decorrentes, mas a qualidade das prisões, mais propriamente a qualidade dos presos provisórios. O problema não são as 79 prisões ou os atualmente sete presos sem julgamento, mas sim que se trata de presos ilustres.”

E além disso, pasmem ele ainda tenta arrematar:

“As críticas às prisões preventivas refletem, no fundo, o lamentável entendimento de que há pessoas acima da lei e que ainda vivemos em uma sociedade de castas, distante de nós a igualdade republicana.”

E vai além em sua sisudez chocante para os dias de momo:

“Mesmo considerando-se as 79 preventivas e o fato de elas envolverem presos ilustres, é necessário ter presente que a operação revelou, segundo casos já julgados, um esquema de corrupção sistêmica, no qual o pagamento de propinas em contratos públicos consistia na regra do jogo.”

Querem mais?

“A atividade delitiva durou anos e apresentou caráter repetido e serial, caracterizando, da parte dos envolvidos, natureza profissional. Para interromper o ciclo delitivo, a prisão preventiva foi decretada de modo a proteger a ordem pública, especificamente a sociedade, outros indivíduos e os cofres públicos da prática serial e reiterada desses crimes.”

E vejam até onde vai sua audácia:

“As críticas genéricas às prisões preventivas na Lava Jato não aparentam ser consistentes com os motivos usualmente invocados pelos seus autores. Admita-se que é possível que, para parte minoritária dos críticos, os motivos reais sejam outros, como a aludida qualidade dos presos ou algum desejo inconfesso de retornar ao status quo de corrupção e impunidade.”

E como se não bastasse o Moro conclui:

“... nem sequer é viável debater, pois tais argumentos são incompatíveis com os majestosos princípios da liberdade, da igualdade e da moralidade pública consagrados na Constituição brasileira.”

Então meus parcos leitores, vocês só podem concluir que jamais o juiz Sérgio Moro fará parte desta coluna, pela sua seriedade e falta de senso de humor. Já pensaram ele e Lula juntos!? Esta coluna se tornaria uma guerra de facções. Portanto, continuemos com nossos humoristas habituais. Os que aqui entram são pândegos incorrigíveis e imbatíveis. O que queremos é que os Moro os provoque tanto que eles produzam grandes shows de humor como vem acontecendo depois da Lava Jato.


E parece que tudo ficará realmente para quando o carnaval passar de verdade, o que se espera seja na semana que vem, isto se não inventarem um Bacalhau do Batata 2, para sair no fim da Quaresma. O que podemos fazer é ficar na espera para voltar ao ritmo normal desta coluna, com um humor político que nossos 15 leitores adoram e pedem bis. Até lá então.

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