Por Zezinho de Caetés
Hoje, ainda de ressaca das
ladeiras de Olinda (não, não fiquei para o Bacalhau do Batata), é que comecei a
ler outra vez o que se passa neste país e no mundo. No fundo, no fundo, tudo
foi carnaval.
Aqui no Brasil aquela festa já
conhecida, mas com um ingrediente novo. Os carros alegóricos estão em pior
situação do que o PT, querem que a multidão os aplauda, mas, passa por cima
dela como um trator. Foi o que se viu no sambódromo carioca. Caía um folião por
minuto de cima dos carros.
E no mundo não deixou de ter
carnaval, com o episódio da entrega do Oscar em que trocaram os envelopes, numa
gafe internacional. Também, não era para menos, com um presidente como Trump,
que está há mais de um mês no cargo e até agora não disse nada que fosse
entendido, esperava-se o que?
E aqui dentro, deste nosso país,
que era abençoado por Deus, e agora nem bonito é mais, pelo desmatamento, mesmo
depois do carnaval, em plena quarta-feira de cinzas, o Marcelo Odebrecht rasgou
o verbo e disse com quantos paus se fez a vitória de Dilma, a incompetenta, em
2014.
E por que não reforçar e dizer,
antes que o “Fora Temer”, que agora
virou frase feita de artista desocupado e mamador de verbas públicas, se ouça
outra vez? É que, Marcelo, além de dizer
que era um otário, e bobo da corte do governo Lula, disse que o Temer também
recebeu seu dinheirinho, porque com financiamento privado de campanha, ninguém
é de ferro. Mas, ele não pediu o dinheiro. Se mandou, o Eliseu Padilha pedir,
então é outra história. Agora tem que ser o “Fora Padilha”, para serem coerentes.
No entanto, quem disse que há
coerência em alguma atitude de petista? O seu presidente, o Rui Falcão, agora
quer soltar Zé Dirceu, Vaccari, Palocci e outros, porque o goleiro Bruno, sim,
aquele que matou a mulher, cortou em fatias e deu para os cachorros comerem,
foi solto pelo STF. E pelo que me consta, os presos do PT fizeram o diabo com o
povo brasileiro, mas, pelo menos que eu saiba, não jogaram os restos para os
cachorros.
E o carnaval continua, mesmo
depois do carnaval, e ficará mais animado certamente na próxima semana que,
mais descansado, tentarei enfrentar o batente alto e grande de comentar sobre a
política da terra.
E para não ficar devendo letras
aos meus leitores e leitoras (progressismo é viciante), e depois de ter visto
tantas mulheres em Olinda e no Recife Antigo, eu os deixo com um texto da Míriam
Leitão, que as ajudará a lutar sem “machismo”
naquilo que a sociedade as tolheu durante todo este tempo.
Vem aí, e com muita propriedade
uma reforma da previdência, que apoio, mesmo sendo aposentado e podendo sofrer
com ela. No entanto, vejo que para que nossos descendentes não sofram mais ainda,
ela deve ser enfrentada. E a Míriam dá, sobre isto, um bom recado às mulheres,
que poderia ser assim resumido: “Mulher,
que é mulher de verdade, não é machista”. Fiquem com ela.
“É totalmente sem sentido, e
desatualizada, a proposta de que a mulher deve ser compensada com uma idade
menor de aposentadoria. Defendida por algumas profissionais — as quais, aliás,
respeito profundamente —, a ideia acaba fortalecendo o papel tradicional da
mulher, quando já passa da hora de rever essa divisão envelhecida dos papéis
masculino e feminino.
A diferença de tempo para se
aposentar é defendida com o argumento de que a mulher trabalha mais em casa e
faz o esforço biológico da reprodução. Quanto ao trabalho doméstico desigual,
ele vem do machismo. Se as mulheres passarem a ser compensadas pelo sistema
previdenciário, é como se o Estado convalidasse esse comportamento dos homens e
as indenizasse para tudo permanecer como está. A briga hoje, que tem tido
avanços, é a de dividir as tarefas e mudar os conceitos. Não desconheço as
estatísticas do IBGE que mostram essa desigualdade dentro do lar, medida em
horas dedicadas ao trabalho em casa, mas o remédio não há de ser a Previdência
compensar a mulher, como se isso fosse uma situação inevitável.
O corpo da mulher, claro, é onde
acontece a reprodução e por isso há quem defenda essa redução da idade de
aposentadoria, argumentando que esse “trabalho” é indelegável e importante para
a sociedade. Raciocinando por absurdo: se todas decidissem não ter filhos, o
país acabaria. Mesmo isso não é argumento convincente para manter a diferença
de tratamento junto à Previdência. De novo, seria como se o Estado dissesse que
este é o papel fundamental da mulher: a reprodução. E as mulheres têm inúmeras
funções na sociedade. Se essa ideia prosperar vamos criar duas classes de
mulheres: as que têm filhos biológicos e as que não têm. Mães que adotam crianças
podem se perguntar: o que dá mais trabalho, a gestação ou a criação dos filhos?
E o que aconteceria com o casal homoafetivo que tenha filhos? Há uma infinidade
de situações no complexo e diversificado mundo atual que não entra nessa
divisão binária e tradicional dos papéis sociais. O mundo, felizmente, está
mudando.
Está na hora de fazer o contrário
do tradicional e mirar-se em países cuja licença maternidade é substituída,
após as primeiras semanas, pela licença para cuidado com a criança, que pode
ter como beneficiário o pai. Mesmo em período de aleitamento, os pais em países
nórdicos tiram licença do trabalho para cuidar dos filhos pequenos e, como
consequência, desenvolvem uma paternidade mais completa. É dessa forma que se
fará um mundo com nova percepção do que seja o papel do homem e da mulher na
sociedade, velho sonho das feministas.
A mulher vive mais do que os
homens, no Brasil essa diferença chega a sete anos. Não há motivo para fugir da
tendência internacional de igualar a idade de aposentadoria. A idade mínima não
é punição, nem sua redução pode ser prêmio de consolação por desequilíbrios
domésticos e preconceitos.
O país precisa rever seu contrato
social porque ele está em profundo desequilíbrio. Tudo está em discussão neste
momento em que há um déficit previdenciário enorme com apenas 14% de
brasileiros com 60 anos ou mais. Com 86% da população com menos de 60, o Brasil
é jovem demais para estar com esse rombo e ele, evidentemente, vai aumentar,
mesmo no cenário da retomada do crescimento que eleva a receita da Previdência.
O paternalismo em relação à
mulher faz parte da discriminação contra ela. É a outra face da mesma moeda.
Foi partindo do equivocado pressuposto de que elas seriam incapazes de prover
sua subsistência, se não se casassem e ficassem sem o pai, que se criou o
absurdo das pensões para filhas de servidores de algumas categorias do setor
público, principalmente das filhas de militares. Isso mudou, mas o peso do
passado continua sendo carregado pelo conjunto da sociedade. O país está com a
Previdência quebrada porque homens e mulheres se aposentaram precocemente,
filhas de servidores tiveram benefícios excessivos, e a desigualdade da
sociedade foi reproduzida no acesso à Previdência. Isso à custa da exclusão de
milhões de brasileiros, a quem só foi dada a possibilidade de um benefício ao
fim da vida. Quanto menos desigualdade houver no sistema, melhor ele será.”
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