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terça-feira, 7 de março de 2017

"Sigilo" or not "sigilo", that is the question





Por Zezinho de Caetés

E finalmente volto do Carnaval. E já caio em outra folia que é a das delações da Odebrecht que parece não terminarem nunca. E só estão começando. Ou melhor, ainda nem começaram, porque o que se sabe delas é um “segredo de justiça”.

E aí está o ponto focal que coloco aos juristas de plantão, pois sou apenas um leigo da matéria. Qual a utilidade do sigilo, que se impõem a alguns fatos, numa época como a de hoje, que é a do império da internet e das redes sociais? Os tempos são outros e só se passam alguns segundos entre um “tweet” do Trump, autorizando o uso de bombas nucleares e todos no mundo estarem lendo os 140 toques, mesmo antes da explosão.

Sim, eu sei que o que pode dar em tudo, também pode dar em nada. Por exemplo, o Lula pode ser inocente e realmente não possuir nenhum tríplex lá no Guarujá, no final do processo. E seria injusto sua condenação antecipada pela opinião pública. No entanto, pensando bem, já pensou o estrago oposto? Ninguém saber de nada e o povo mal informado elegê-lo outra vez?

Qual seria o mal menor, então? Eu, no meu pobre juridiquês, acho que é melhor não ter sigilo nenhum, por um simples e singelo fato: Ele já não existe mesmo, para efeitos políticos.

Por exemplo, já sabemos a quem o Marcelo Odebrecht deu dinheiro, quem lavou o dinheiro e até quem o enxugou. Todos já sabem que a chapa Dilma/Temer só foi eleita com dinheiro de propina que jorrava por todos os cantos. Se isto é crime, cassa a chapa. Mas, aí é que mora o segredo de uma sociedade democrática com um Estado de direito. Pode-se até decretar sigiloso algo que todos sabem, para que a sociedade funcione, melhor. Não é a “justiça divina” , mas é a que temos.

São estes escapes naturais que fazem da Democracia e do Estado de Direito uma grande conquista para a humanidade. Se vivêssemos numa ditadura a lá Castro ou a lá Kim Jong-un a questão já teria sido resolvida por debaixo do pano, e o Lula já estaria preso, ou não. É aí onde a pressa é a inimiga da perfeição.

No entanto, a forma como vem agindo nossa Suprema Corte, aliada à excrecência do Foro Privilegiado, não tem justificativa dentro dos paliativos do Estado de Direito. É muita procrastinação nos julgamentos mais simples, quando se leva em conta o que o Sérgio Moro (adorei a blague do Zé Carlos ontem sobre o juiz, aqui) falou, o cargo e importância de cada um na política e na sociedade, quando os regimes republicanos não admitem isto.

Ninguém aguenta mais esperar uma tal de lista do Procurador Geral da República, que poderia se chamar o Procastinador Geral da República, que todos sabem que existe, sabem quem nela está mas continua em  “sigilo”. Ou seja, devagar se vai ao longe, mas, parado, não se vai a lugar algum, e andando para trás, só se volta ao lugar de origem que é a corrupção que assola este nosso lindo país.

Portanto, eu já começo a semana querendo quebra de sigilo para todos os lados, e direito de expressão de todos para comentar em todos os lugares o que é sigiloso. Dizem que é até mais excitante, e politicamente, leva sempre ao mesmo ponto, muito antes do longo prazo da Justiça, pelo menos, se outros crimes eleitorais não forem outra vez cometidos.

Agora leiam o Ricardo Noblat falando de sigilo em seu Blog num texto que ele chama de: “Lava Jato: Sigilo das delações só agrava a crise política”, onde ele vai a alguns detalhes sobre o tema de que trato acima.

“O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Claudio Melo Filho disse, ontem, ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin que o presidente Michel Temer pediu a Marcelo Odebrecht doações para a campanha do PMDB em 2014.

O que isso tem de novo? Nada. Melo Filho limitou-se a confirmar as informações que fazem parte de sua delação premiada com a Lava Jato. Benjamim é o relator da ação do PSDB que pede a cassação da chapa Dilma-Temer por irregularidades.

A delação de Melo Filho vazou em dezembro último. Segundo ele, em um jantar no Palácio do Jaburu, residência do então vice-presidente da República, Temer pediu “direta e pessoalmente” a Odebrecht apoio financeiro para a campanha do seu partido.

Participaram do jantar, além de Temer e Odebrecht, Melo Filho e o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil. Na ocasião, de acordo com Melo Filho, acertou-se que a doação seria de R$ 10 milhões, sendo que R$ 4 milhões foram repassados a Padilha em dinheiro vivo.

Em depoimento ao ministro Benjamim na semana passada, em Curitiba, Odebrecht disse não recordar de Temer ter falado ou pedido os R$ 10 milhões diretamente. O acerto do valor teria sido feito entre Melo Filho e Padilha depois da saída de Temer do local.

Há alguma contradição entre o que disse Melo Filho e o que disse Odebrecht a Benjamim? Aparentemente, não. Melo Filho não disse que Temer pediu R$ 10 milhões, e sim que pediu apoio financeiro. Odebrecht disse que o valor do apoio foi combinado por Padilha com Melo Filho.

O sigilo em torno do que acaba vazando de uma maneira ou de outra só serve para alimentar especulações e agravar uma situação que já é por demais explosiva. Informações a conta-gotas conspiram contra o correto entendimento do que de fato ocorreu, seja qual for o alvo delas.

Espera-se a qualquer momento a divulgação pela Procuradoria Geral da República de um novo pedido de abertura de inquéritos contra um número expressivo de políticos. É imprescindível que o pedido implique na quebra do sigilo em torno de todas as provas e indícios que os incriminem.


Os investigados têm esse direito, mas não somente eles, também o distinto público, quase sempre sujeito a julgamentos apressados.”

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