Por Zezinho de Caetés
Hoje soube que o Temer viajou.
Foi a uma reunião dos BRICS, cujo lema deveria ser “somos pobres, mas somos limpinhos”. Mas, meu assunto vai além.
Penso que o problema dos países que antes se chamavam de “periféricos”, no linguajar de alguns que odiavam o capitalismo
porque não podiam se tornar capitalistas, é a falta de reconhecer que hoje não
existe mais centro e periferia no mundo. No fundo no fundo estamos todos no
centro.
E no centro, significa que, com o
processo de globalização, não podemos ter tempo para pensar o que fazer, além
de viver sob as mesmas regras do capitalismo, que venceu a batalha desde a
queda do muro de Berlim.
O resto são puras elucubrações
vazias. E a prova é o que sobrou do socialismo, que tem como exemplos mais
evidentes, Coréia do Norte, Cuba e Venezuela. Os outros, inclusive a China,
descobriram que sem a liberdade de empreender por parte dos agentes privados,
não se alimenta bem um povo.
Isto gerou problemas políticos
sérios para os países que no passado achavam que o Estado e Governos eram panaceia
para todos os males, o que o Brasil, a duras penas, descobriu que não é,
principalmente, depois do desastre petista, que quis fazer 50 anos em 5, e só
conseguiu para alguns mais vivos, que hoje estão em Curitiba.
Por isso, vem a calhar o texto
que abaixo reproduzo do José Roberto de Toledo (“Confiando na desconfiança” – Estado de S. Paulo, de ontem), onde
ele tenta mostrar todos, de uma forma ou de outra, tentam se submeter às regras
da elite financeira internacional. Eu não chamaria elite, para não cometer o
erro de colocar as viúvas pobres americanas, europeias e até latino americanas,
nesta elite. Eu diria, que é capital financeiro que, pelo sua flexibilidade,
tornou possível a globalização, o que permite o jovem brasileiro a usar o mesmo
celular do americano, mesmo com o risco de explosão.
Mas, como ele diz, tudo isto
gerou um problema de representatividade política para aqueles que pretendem ser
usufrutuários (não como o Eduardo Cunha) das benesses do capitalismo. E a
Democracia, como a conhecemos, sofre hoje os mesmos problemas aqui e alhures.
Como administrar a globalização e manter funcionando um país, enquanto a ONU
não se torna num governo mundial de fato?
Não tenho solução, e se tivesse
já seria Secretário Geral da ONU, e não o português que ontem assumiu. São
coisas para lançar numa sexta-feira e deixar para meditação, enquanto o Temer
viaja, e o Lula é réu pela terceira vez, o que me leva, com a devida vênia de
meus sérios leitores, de terminar estas linhas com a repetida piada de que ele
agora já pode pedir música do Fantástico. Neste ritmo, ele vai terminar
passando o Renan Calheiros que já pediu música 4 vezes.
E, o meu conterrâneo anda todo
tempo agora pedindo a música de nossa adolescência, cantada pelo Waldick
Soriano que coloco lá em baixo em vídeo: “Eu
não sou cachorro não...”. Há controvérsias.
“Meirelles não é o primeiro nem
será o último a fazer reverência à elite financeira internacional. Dilma
Rousseff reelegeu-se com proposta econômica antagônica à que tentou, sem
sucesso, implementar. Ao renegar seu discurso de campanha, deu razão às
acusações da oposição de que aplicara um estelionato eleitoral. Perdeu seu
apoio na população e, ato contínuo, no Congresso.
Tampouco importa que o discurso
eleitoral – depois renegado – de Dilma fosse a continuidade da política
econômica que engatilhou o desastre. O que preocupa é que política e economia
estão divorciadas. Aquilo que é debatido em uma campanha eleitoral não tem nada
a ver com o que vem a ser discutido no Congresso e aplicado depois. Quem está
pagando o preço da separação é a fé no processo eleitoral e, em última
instância, na democracia.
“É possível haver um sistema
político sem confiança?”. A pergunta do búlgaro Ivan Krastev é a questão-chave
de seus livros In Mistrust We Trust e Democracy Disrupted. O sociólogo observa
que o fenômeno se repete com maior intensidade ao redor do globo desde a crise financeira
de 2008. Começou com o Occupy Wall Street, passou pelos indignados da Espanha,
atravessou o Mediterrâneo para deflagrar a Primavera Árabe (que virou
pesadelo), o inverno russo reprimido por Putin, o verão turco (que deu no
autogolpe recente) e o desmembramento da Ucrânia. Tudo isso sem falar na
tragédia da Síria.
A crise de representação é global
e cresce com a expansão da democracia. De protestos e revoluções na África à
abstenção na América, passando pela indignação sem objetivo na Europa.
Em toda parte, fatias expressivas
da população se julgam à margem da política, dos partidos e sem nenhum poderoso
para defendê-la.
A Etiópia decretou estado de
emergência por causa de protestos que se arrastam desde 2015 e já são os
maiores em 25 anos. Quem cruza os braços sobre a cabeça como se algemados –
gesto repetido pelo maratonista Feyisa Lilesa após ganhar medalha de prata na
Rio 2016 – são 38 milhões de Oromos. Apesar de serem 40% da população etíope,
não têm representantes no governo.
Nos EUA, a mais recente pesquisa
Gallup mostra que apenas 18% dos americanos confiam no Congresso. E um terço
dos eleitores hispânicos registrados não pretende aparecer para votar porque
não gosta nem de Hillary Clinton nem de Trump. Não se sentem representados. E
quem pode culpá-los?
No Brasil, o junho de 2013
destampou uma insatisfação contida nos anos Lula. A desconfiança com os
governantes de todas as esferas de governo teve seu efeito mais visível no
movimento que levou ao impeachment de Dilma, mas não parou por aí. No último
dia 2 de outubro, produziu a mais baixa taxa de reeleição de prefeitos em
muitos anos, e recorde de votos nulos e em branco.
Até quando um sistema baseado na
desconfiança e marcado pela falta de representatividade conseguirá se manter
estável?
Há um ano, Michel Temer dizia –
com razão – que com popularidade inferior a 10%, Dilma não duraria muito tempo
no cargo. Hoje presidente, Temer diz que respeita, mas não leva em conta
pesquisas de opinião. Não são elas que derrubam presidentes, mas o que
detectam. A PEC 241 não é o Plano Real de Temer, é sua única ponte para o
futuro. Se aprová-la era vida ou morte, fazê-la funcionar também será. Mas não
do jeito que ele imagina.”
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