Por Zezinho de Caetés
Hoje acordei com a notícia de que
a defesa de Lula pede 55 dias para provar que o tríplex do Guarujá não é dele,
e assim se livrar das garras do juiz Moro, pelo menos, quanto a este ponto. Não
pensem, no entanto, que isto inclui todas as coisas que pesam sobre meu
conterrâneo, que, até agora, está mudo quanto ao resultado das eleições
municipais, onde o PT foi morto e enterrado.
Ora, se eu fosse o Sérgio Moro
proporia uma boa transação aos seus advogados: “Deixem o Lula ficar aqui na carceragem em Curitiba enquanto vocês
tentam provar que o apartamento não é dele, e eu lhes darei 55 anos para
conseguir fazer isto”.
Será que o Lula aceitaria a
barganha? Claro que não, porque o que se está querendo é protelar a quase
inevitável prisão de Lula, pelo conjunto da obra. E, sendo justo, poder-se-ia
dizer que não foi só o Lula que tentou
ficar rico em sua luta pelos pobres. Enquanto, como ele diz, colocou os pobres
para andar de avião, ele já nem usava mais isto, pois tinha os jatinhos das
empreiteiras prontos para decolar.
E isto é uma característica comum
dos dirigentes chamados socialistas, sejam eles do século XX ou do século XXI.
Se não fossem os pobres eles não seriam ricos como o Fidel, o Maduro, e tantos
outros. Hoje, com o despertar da Democracia na América Latina, o que eles
querem mesmo é fugir e não sabem para onde. Para o Uruguai não querem ir porque
teriam que andar no fusca do Mujica.
Mas, por hoje é só. Fiquem com um
texto do Josias de Souza (“Advogados de
Lula pedem 55 dias para comprovar que tríplex não lhe pertence”), publicado
no seu blog, onde ele detalha o trabalho que terá a defesa de Lula para
desmentir o óbvio ululante, de que o Lula é realmente proprietário do tríplex.
Se eles forem expertos darão uma do Eduardo Cunha e dirão que ele era só “usufrutuário”. Certamente, ambos deverão
se encontrar em Curitiba.
“Convertido em réu sob a acusação
de cometer os crimes de corrupção passive e lavagem de dinheiro, Lula se deu
conta de que precisa cuidar dos minutos, porque as horas passam. Seus advogados
dispunham de dez dias para apresentar suas considerações iniciais. Em petição
endereçada ao juiz Sérgio Moro, pediram 55 dias para demonstrar que o tríplex
do Guarujá não lhe pertence.
Lula foi enviado pelo juiz da
Lava Jato para o banco em 20 de setembro. Moro escorou sua decisão na denúncia
do Ministério Público. Somando-se as 149 folhas da peça aos seus anexos,
chega-se a um total de algo como 16 mil páginas. A defesa alega que os
procuradores da força-tarefa de Curitiba levaram 55 dias para concluir o
trabalho. Em nome da “paridade de armas”, pedem o mesmo prazo.
Lula é acusado de amealhar R$ 3,7
milhões em vantagens indevidas bancadas pela OAS. Afora o custo do
armazenamento das “tralhas” que Lula acumulou nos dois mandatos de presidente,
há os confortos introduzidos no tríplex do Guarujá. Moro deveria conceder o
tempo requerido pelos advogados. Depois que ficou entendido que a conversa mole
da “perseguição política” já não resolve, há muito por explicar.
Os defensores de Lula podem
começar, por exemplo, explicando por que a assessorial do morubixaba do PT
admitiu que ele era dono do famigerado apartamento em dezembro de 2014. Em
notícia veiculada no dia 7 daquele mês, o repórter Germano Oliveira informou: a
Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, que deixara cerca
de 3 mil pessoas na mão por causa de fraudes atribuídas ao seu ex-presidente,
João Vaccari Neto, entregara a Lula o tríplex do Guarujá. Com a falência da
cooperativa, a OAS assumira as obras.
O edifício ficara pronto em
dezembro de 2013. Mas o apartamento de Lula recebera um trato especial. Coisa
fina. Antes unidos apenas por uma escada interna, os três andares foram
atravessados por um elevador privativo. O piso ganhou revestimento de
porcelanato. E a cobertura foi equipada com um ‘espaço gourmet’, ao lado da
piscina.
Ouvida nessa época, a assessoria
de Lula declarou: “O ex-presidente informou que o imóvel, adquirido ainda na
planta, e pago em prestações ao longo de anos, consta na sua declaração pública
de bens como candidato em 2006.” Candidato à reeleição naquele ano, o então
presidente Lula de fato havia informado à Justiça Eleitoral que repassara à
Bancoop R$ 47.695,38, uma cifra que não ornava com o valor de um triplex.
Na sequência, os doutores podem
esclarecer por que a assessoria de Lula mudou a versão sobre a posse do triplex
cinco dias depois de reconhecer que o imóvel era dele. Sob os efeitos da má
repercussão da notícia segundo a qual Lula tornara-se o feliz proprietário de
um tríplex à beira mar, na praia de Astúrias, uma das mais elitizadas do
litoral paulista, o Instituto Lula divulgou, em 12 de dezembro de 2014, uma
“nota sobre o suposto apartamento de Lula no Guarujá.”
Primeiro, o texto retirou a
encrenca dos ombros de Lula. Anotou que foi a mulher dele, Marisa Letícia, quem
“adquiriu, em 2005, uma cota de participação da Bancoop, quitada em 2010,
referente a um apartamento.” A previsão de entrega era 2007. Em 2009, com as
obras ainda inacabadas, os cooperados “decidiram transferir a conclusão do
empreendimento à OAS.”
O prédio ficou pronto em 2013. Os
cooperados puderam optar entre pedir o dinheiro de volta ou escolher um
apartamento. “À época, dona Marisa não optou por nenhuma destas alternativas”,
escreveu o Instituto Lula. “Como este processo está sendo finalizado, ela agora
avalia se optará pelo ressarcimento do montante pago ou pela aquisição de algum
apartamento, caso ainda haja unidades disponíveis.” Nessa versão, a família
Lula da Silva estava em cima do muro.
A defesa terá também a
oportunidade de sanar outra dúvida: Por que a mulher de Lula pegou as chaves de
um apartamento que dizia não lhe pertencer? Em 17 de dezembro de 2014, cinco
dias depois da nota em que o Instituto Lula alegara que Marisa Letícia ainda
hesitava entre requerer o dinheiro investido na Bancoop ou escolher um
apartamento no edifício Solaris, moradores do prédio informaram ao repórter
Germano Oliveira que a mulher de Lula apanhara as chaves do triplex número 164
A havia mais de seis meses, em 5 de junho.
''Todos pegamos as chaves no dia
5 de junho, inclusive dona Marisa”, disse, por exemplo, Lenir de Almeida
Marques, mulher de Heitor Gushiken, primo do amigo de Lula e ex-ministro Luiz
Gushiken, morto em 2013.
Outra interrogação inquietante
que flutua na atmosfera à espera de uma resposta é a seguinte: por que Marisa
Letícia demorou seis anos para decidir se queria ou não o apartamento do
Guarujá? Só em 8 de novembro de 2015 veio à luz a notícia sobre a decisão da
mulher de Lula acerca do apartamento do edifício Solaris. Nessa data, o
repórter Flávio Ferreira informou que Marisa desistira do triplex.
Os assessores de Lula
esclareceram que Marisa acionaria seus advogados para reinvindicar a devolução
do dinheiro que aplicara no empreendimento. Considerando-se que a OAS assumira
as obras do edifício Solaris em 2009, a ex-primeira dama levou arrastados seis
anos para decidir. Cooperados menos ilustres tiveram de decidir na lata, sob
pena de perder o direito de exercer a opção de compra.
Há mais mistério: por que diabos
Lula, Marisa e Lulinha, o primogênito do casal, inspecionaram as obras da reforma
do tríplex? Inquérito conduzido pelo Ministério Público de São Paulo, enviado
posteriormente à força-tarefa da Lava Jato, inclui carradas de depoimentos
curiosos, muito curiosos, curiosíssimos. Chama-se Armando Dagre Magri uma das
testemunhas. É dono da Talento Construtora.
Armando contou à Promotoria
paulista que a OAS contratou sua empresa para reformar o tríplex número 164 A.
Orçou a obra em R$ 777 mil. Realizou o serviço entre abril e setembro de 2014.
Avistou-se com Marisa. Estava reunido no apartamento com um representante da
OAS quando, subitamente, a mulher de Lula deu as caras. Acompanhavam-na três
pessoas. Descobriria depois que eram o filho Fábio Luís, o Lulinha, um
engenheiro da OAS e ninguém menos que o dono da empreiteira, Léo Pinheiro, hoje
condenado a 16 anos de cadeia na Lava Jato. Inspecionaram a reforma, atestaram
sua conclusão e deram a obra por encerrada.
Zelador do prédio desde 2013,
José Afonso Pinheiro relatou ao Ministério Público que Lula também vistoriou as
obras do triplex. Esteve no apartamento, por exemplo, no dia da instalação do
elevador privativo. Contou que a OAS limpava o prédio, ornamentando-o com
flores, nos dias de visita de Marisa. Uma porteira do edifício disse à
Promotoria ter visto Lula e Marisa juntos no local em fins de 2013. Em suas notas
oficiais, o Instituto Lula não explica o inusitado interesse pela reforma de um
imóvel cuja propriedade o casal nega.
Sempre que tem oportunidade,
Cristiano Zanin Martins, um dos advogados de Lula, reitera: Esse imóvel não é
do ex-presidente nem de nenhum parente. A família Silva comprou uma cota de um
projeto da Bancoop. E quanto às reformas bancadas pela OAS? O doutor costuma
dizer que não tem a menor ideia do porquê da reforma. Nem quer saber, já que
este imóvel não é do ex-presidente Lula ou de qualquer parente do ex-presidente
Lula.
Ou a OAS converteu-se de
empreiteira em instituição de caridade ou alguém ficará no prejuízo. Ou a
sentença de Curitiba levará às manchetes uma terceira versão: a verdadeira.”
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