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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Bom Conselho, o progresso e os cuscuzeiros


Nossa Senhora do Bom Conselho


Por Zé Carlos

Estive recentemente em Bom Conselho. O motivo de minha viagem não foi tão bom, mas, sempre é uma satisfação voltar à minha terra. Se disser que fui visitar os mortos, não fica longe da verdade, porque, fui a uma missa de 30º dia de minha sogra e, como sempre faço, visitei meus pais, lá no Santa Marta.

Também visitei o túmulo dos meus sogros lá em Caldeirões dos Guedes. Já fazia um tempo que eu não ia por lá. De lá de cima da colina do cemitério, avistei o povoado e notei que o número de habitações cresceu mais onde eu estava do que lá no povoado.

Mesmo assim, usando os meios modernos de locomoção, usei o GPS para me orientar  e encontrar o distrito que me é caro por ter sido sede de uma empresa que tive (CIT Ltda) e porque foi onde nasceu minha esposa. Não fui muito satisfeito porque a moça que fala no GPS, não disse nada quando passei pela Fazendo do Manuel Luna, pelo Pau Grande, pela Fazenda do Dr. Raul, pelo sítio de Maria Enéias, e outros dos quais me lembrei. No entanto, ao lá chegar, passando pela Rua do Comércio e adentrando o seu centro, a mocinha disse: “Você chegou a Caldeirões!”, e eu fiquei mais alegre do que uns pintinhos que vi na estrada bicando o estrume. Ou seja, Caldeirões ainda está mapa, graças a Deus.

Todavia, nem só de mortos viveu minha viagem. Revi alguns vivos e até alguns muito vivos. Isto fiz, descobrindo que missa de 30º dia de falecimento, já nos dá a certeza maior de que a vida deve conviver com a morte de forma mais natural. Chora-se menos, lamenta-se menos e, enfim, se descobre que todos teremos o mesmo destino. E digo isto porque foi na missa celebrada lá no Seminário, onde encontrei mais pessoas que levaram a cabeça a regredir muitos anos.

Daniel de Dona Lilia, cuja altura já é expressiva, com um filho maior do que ele, me levou ao Ginásio São Geraldo que estava a poucos metros da gente. Zé Oião (só para os íntimos) trouxe-me de volta o sofrimento que me causou, como dentista, mas, tive que dizer ser dele ainda metade de um dos poucos que ainda tenho. Disse que está pensando em se aposentar, e já fico pensando, como ficarão os dentes de nossa terra, pelo bom dentista que ele é. Esperei encontrar o Luis Clério por lá, já que não o encontrei em minha visita obrigatória a A GAZETA. Fui informado, pelo próprio Dr. José Tenório, de que ele anda meio preguiçoso e não trabalho aos sábados. Isto tudo regado por risadas contidas, pela liturgia da situação.

Alguns dizem que se lhe derem um limão, façam uma limonada, eu, depois da missa em sufrágio da alma de Dona Yale, eu digo, uma missa de 30º pode-se transformar em algo prazeroso, principalmente quando a alma é uma pessoa como a minha sogra, a quem aprendi a admirar.

Fora da missa, pela curteza da viagem, não fiz mais muita coisa, embora tenha feito coisas intensas. Eu encontrei o Zezinho Ponta Baixa (também para os íntimos), meu querido amigo e colega de Ginásio, o Zé Nunes. Em pouco mais de uma hora, andamos Bom Conselho inteiro em toda sua história passando por seus principais personagens, e sem esquecer nem o Coronel Zé Abílio. E paramos na nossa história recente, de crise em nossa combalida agropecuária, da qual o Zé é um mestre. Quando ele me disse que até o leite acabou por aquelas bandas, eu perguntei por quem os sinos dobram em Bom Conselho? Sem dúvida é pela vaca da ponta baixa.

E como sempre, hospedei-me no Hotel Raízes (juro que não estou ganhando nenhum cachê para citá-lo aqui) porque ele fica num local que também me lembra a história da nossa cidade, o Pátio de Santo Antônio. Há pouco tempo participava de bingos realizados no amplo local, depois construíram um equipamento esportivo/cultural, que foi logo apelidado de Cuscuz. O apelido se perde na irreverência do povo de Bom Conselho, mas, o seu significado leva a uma característica básica da nossa política, para a qual prédio ou local histórico é aquele que existe na fotografia para dizermos: “Aqui era o Cine Rex!”. E hoje, sinto isto quando olho para o seu centro e nem sei mais onde nasci. Uns dizem que é o progresso, eu já digo que até pode ser, apesar de ter saudade da Princesa do Norte, da Padaria Cordeiro e da Farmácia Crespo.

Mas, estávamos no cuscuz de Santo Antônio, que aproveitei a proximidade de onde estava para visita-lo. É um local interessante e que poderia ser melhor utilizado, ou, sendo mais radical, pelo menos utilizado para alguma coisa. Pelo que vi lá, é apenas um depósito de lixo, quando poderia abrigar alguma coisa, nem que fosse um local para comer cuscuz. Ou seja, foi-se a Praça, e agora, o cuscuzeiro está vazio.


Mas, isto tudo passa pela nossa política, que hoje já não a entendo mais. Soube que o novo prefeito, a quem não conheço pessoalmente, mudou a história e foi o primeiro prefeito que conseguiu se reeleger em nossa cidade. Deve ter seus méritos para isto. Quem sabe não terá o mérito de fazer com que Bom Conselho possa respeitar mais os seus cuscuzeiros. 

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