Por Zezinho de Caetés
Em minha infância lá em Caetés,
desde a época que ainda éramos de Garanhuns, quando chegava um circo por lá, a
propaganda do evento era feita pelo próprio palhaço com pernas de pau e com um
com um funil na boca gritando: “Hoje tem
espetáculo?”, a que a meninada, inclusive eu (remunerado com um ingresso
para aquela noite) respondia: “Tem sim
senhor!”.
Ontem relembrei disto com a
efusão de textos tratando do maior espetáculo político dos últimos tempos que
foi a prisão de Eduardo Cunha. Tal qual um circo, ela já era esperada por
todos. Ou seja, o circo tarda, mas, vem; e o Cunha tardou mas foi para
Curitiba.
E penso que sua prisão mexeu com
o mundo político, porque com seu tempo de política, com os cargos e funções
pelas quais passou, certamente, amarrou o rabo de muita gente no seu. E aqueles
que se sentem hoje pendurados pelo rabo, são muitos inclusive, o rabo mor da
nação, o Michel Temer.
Como foi noticiado, sua saída
intempestiva do Japão, depois da bênção do Hiroito, parece ter tudo a ver com o
espetáculo da prisão do Cunha. Afinal de contas, é sabido que ambos comiam no
mesmo prato (não quero ser indelicado) faz muito tempo. E o último prato, que
alimentou todo Brasil de esperança foi o impeachment da Vovó Dilma, para o qual
o Cunha foi o mestre cuca.
Este prato, sem a ajuda do Cunha,
não teria sido servido e, talvez, sem ele o Brasil não teria se visto livre do
PT, e teríamos que amargar mais 3 anos da ex-presidenta. E havia um risco muito
maior que seria a possível volta do Lula em 2018.
Mas, ainda estamos nas
preliminares da prisão do Cunha. Ele vai ter um tempo para pensar se vai
delatar ou não à Lava Jato, alguns que o acompanharam na sua trajetória
política. E como quem tem olho tem medo, já era de se esperar que Brasília está
em polvorosa, e já pergunta qual o próximo espetáculo.
Eu penso que é o de Lula, mas, há
controvérsias. O Temer corre por fora, junto com outros que a Lava Jato só
espera que deixem o foro privilegiado para formar um time completo lá em
Curitiba. O que espero mesmo é que o time seja formado antes de 2018, e que
escolham o Sérgio Moro como técnico. Com ele o time será imbatível!
Para analisar com mais
profundidade a formação deste possível time, onde quase todos, até agora
pertencem ao PT, tendo como craque o Zé Dirceu, agora, o PMDB e outros partidos
podem dar sua contribuição, para que este time só jogue nas penitenciárias
paranaenses, eu deixo vocês com o texto de hoje no Estadão, do José Roberto de
Toledo (“Novo silêncio dos inocentes”),
e volto para a mídia, esperando o circo de Lula gritar: “Hoje tem espetáculo?” e espetáculo contiuar:
... - Tem sim senhor!
- 8 horas da noite?
- Tem sim senhor!
- E o palhaço o que é?
- [Não] é ladrão de mulher!
“Como esperado, a prisão de
Eduardo Cunha foi, disparado, o assunto mais comentado pelos deputados federais
em seus perfis nas redes sociais. Mais de uma centena de tuítes em três horas.
Entre o desejo e a análise, duas projeções não necessariamente opostas dominaram
a timeline parlamentar: a implicação da prisão sobre os futuros do governo
Temer e de Lula. Curiosamente, raros arriscaram palpitar sobre o destino da
própria Câmara, porém.
Alguns deputados da nova oposição
(petistas e aliados que sobraram) comemoraram como prato frio a prisão do maior
responsável por eles terem deixado de ser governo. Resgataram o grampo de
Romero Jucá (PMDB-RR) – “porque o Michel é Eduardo Cunha” – para prever a queda
do novo presidente em futuro não muito distante, graças a uma eventual delação
premiada de Cunha.
“Cai o rei de ouros, cai o rei de
paus, cai, não fica nada” foi uma das citações usadas – em referência à
hipótese radical de uma eleição indireta pelo Congresso vir a ser necessária
para ocupar o vácuo deixado pela suposta deduragem do peemedebista. Vai longa
distância para as cartomantes emplacarem sua profecia.
Cunha tem o que dizer, não resta
dúvida. Mas é preciso uma sucessão de fatos para a vingança petista ser
completa: 1) Cunha querer falar, 2) Cunha falar o que a nova oposição espera
ouvir, 3) Procuradoria querer ouvir, 4) o Juízo aceitar a delação, 5) haver
provas físicas do que ele vier a dizer, 6) quem for delatado ser investigado,
denunciado e virar réu no Supremo.
É possível imaginar um atalho
para esse processo? Por exemplo, que a eventual delação desestabilize o governo
a ponto de comprometer a aprovação dos cortes de gastos e das reformas que ele
pretende propor ao Congresso? E que isso acelere o processo contra a chapa
Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral? Possível é. Provável? Nem tanto.
Vai depender do timing.
O que nos leva de volta à
timeline dos deputados, agora com viés oposto. Parlamentares da antiga oposição
usaram a prisão de Cunha para repetir que “as instituições estão funcionando”,
que a versão de que a Lava Jato só vai atrás do PT é mimimi e que a defesa do
ex-presidente, portanto, perdeu seu principal argumento. Nesse raciocínio, Lula
seria o próximo em Curitiba.
Prestidigitação política é
atividade de alto risco. Judicial, então, é suicida. Todavia, constata-se que –
comparado aos desígnios da nova oposição – os da antiga só dependem de uma das
seis etapas necessárias para as previsões petistas se confirmarem: a canetada
do juiz Moro. Probabilisticamente parece algo menos remoto do que o fim
prematuro do governo Temer. Apenas porque tem menos etapas a cumprir.
Todas essas hipóteses são apenas
isso, hipóteses, porém. Invertendo a frase de Conan Doyle: se no seu conjunto o
homem se torna uma certeza matemática, individualmente, é um quebra-cabeça
insolúvel. Ninguém sabe com certeza o que se passa na cabeça do juiz Moro – e
muito menos na do seu novo inquilino.
Nem ele. A prisão de Cunha é por
tempo indeterminado. O que o ex-deputado pensa hoje pode não ser o mesmo que
venha a pensar amanhã, ou daqui a um mês, ou um ano. Marcelo Odebrecht é um que
entrou na cela pensando de um jeito e está tentando sair dela justamente porque
começou a pensar diferente, a admitir delatar.
É por ter consciência de que
qualquer previsão sobre a disposição delatora de Cunha é um chute que a maioria
dos deputados federais não usou suas contas no Twitter ou seus perfis no
Facebook para fazer crítica, projeção ou um comentário sequer sobre o
ex-colega. Melhor não aparecer, não cutucar a memória nem dar ideias ao mais
poderoso presidente da Câmara desde Ulysses Guimarães. É o autêntico silêncio
dos inocentes.”
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