Por Zezinho de Caetés
Depois de ver, ontem, a PEC do
Teto, subir para o Senado, voltei às minhas atividades normais de bisbilhotar a
política no Brasil e alhures. E, pelo que vi, o Renan continua nas paradas. Só
não sei se de sucesso o de insucesso.
O episódio da suposta crise
institucional entre os poderes da república, que eu chamaria de uma verdadeira
“luta de foice no escuro”, gerada
pelas suas declarações “diminuindo juízes”, está tão em evidência que gerou até
história em quadrinhos como as que vi no O Globo. Em breve poderá virar até filme, como o Rei do Cangaço, Macunaíma ou o Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro.
Surgiram declarações de todos os
lados, menos do Temer. Tomando o espírito da Dora Kramer, de quem li um texto
no Estadão (“Pânico faz o valente”)
de hoje, eu diria que o presidente da República vai perder uma discussão por
não entrar nela, ao contrário do que fez a Carmem Lúcia, a presidente do STF,
enterrando o “cala boca”.
Ela se doeu por ter o Renan
Calheiros ter chamado um juiz de “juizeco”,
como ontem já abordamos aqui, e mostrou que a frase “Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”, (dita
anteriormente por ela para defender a liberdade de expressão) que sabe usar a
boca e que não é o Lewandowski , que não tinha mais nem boca.
Enquanto o Temer ficou calado e
não defendeu seu “chefete de polícia”,
digo, Ministro da Justiça, a não ser propondo uma reunião para acertar os
ponteiros dos poderes que não andam juntos no momento.
Dizem que ele está calado por
causa da PEC do Teto, pois o Renan pode complicar sua passagem pelo Senado. Se
isto é verdade e ele continuar pensando assim, que tal viajar, junto com o
Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, e deixar logo o Renan na Presidência? Eu
penso que ele é adepto de outra frase popular, que diz o contrário da Carmem
Lúcia: “Em boca calada não entra mosquito”.
O problema é que na situação atual os mosquitos podem entrar por outros
lugares.
Como já disse, o Renan está nervoso
tanto quanto o Lula. Ambos estão fazendo todo tipo de jogo de cintura para
ficar longe de Curitiba. O problema é que um dia, pela finura da cintura dos
dois, a cintura quebra. E esta quebradura poderá começar pela boca. Muitas
vezes é bom ressuscitar o “cala a boca”,
para se defender do Aedes Aegypti.
Eu só sei que está muito difícil
para o Temer, mas, quem manda ter sido o vice da Dilma? Agora aguente! Mas,
fiquem com a Dora Kramer para maiores detalhes, do que poderá vir por aí.
“Reza um dito muito difundido no
mundo político que quando os fatos criam pernas, as pessoas costumam perder a
cabeça. É o que acontece com o presidente do Senado, Renan Calheiros, uma das
(grandes) bolas da vez na Lava Jato, alvo de diversos inquéritos no Supremo
Tribunal Federal, frequentador assíduo de recentes delações premiadas.
Desprovido de pudor e movido a
ousadia na condução de seus interesses, o senador não é pessoa que se notabilize
pela noção de limite. Portanto, não chega a surpreender que recorra a termos
como “chefete de polícia” e “juizeco de primeira instância” ao se referir ao
ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e ao juiz Vallisney de Souza
Oliveira, da Justiça Federal do Distrito Federal. Este por ter autorizado
operação de busca e apreensão no Senado, sexta-feira última, e aquele por ser
superior hierárquico da Polícia Federal.
Foram presos quatro agentes da
polícia legislativa por suspeita de, com ações de varreduras em gabinetes e
residências de senadores investigados, removerem escutas instaladas pela PF com
autorização judicial. Ao que se sabe, ainda não está esclarecido se os agentes
agiram como de rotina na busca de grampos ilegais ou se realmente atuaram com o
intuito de desmontar os equipamentos da Federal e, com isso, atrapalhar as
investigações da Lava Jato.
É questionável também se a
operação poderia ser feita por ordem do juiz de primeira instância ou se seria
preciso autorização do Supremo Tribunal Federal. Pode ter havido precipitação
da PF no afã de assegurar a expedição da ordem que poderia ser recusada pelo
STF. Daí a dizer, como disse o presidente do Senado à moda petista, que a
polícia usou de “métodos fascistas” há grande distância.
As questões a serem dirimidas
pertencem ao âmbito da Justiça e devem ser abordadas mediante modos e linguajar
civilizados. Em dicionário algum o verbete “veemência” aparece como sinônimo de
grosseria nem a defesa eloquente de um ponto de vista autoriza o uso de vocabulário
rude. Notadamente em ambiente onde o decoro se impõe. Embora nem sempre seja
exercido.
Imediata e precisa a reação da
presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, às palavras do vizinho de Poder
exigindo respeito ao Judiciário, lembrando que o insulto é inadmissível e, no
caso, extensivo a todos os juízes, ela inclusive. Pena que o presidente Michel
Temer não tenha tido a autonomia partidária suficiente para também impor um
alto lá ao destempero do correligionário. Ao calar consentiu que seu ministro
da Justiça fosse chamado de “chefete de polícia”. E se concorda com isso é de
se perguntar o que ainda faz Alexandre de Moraes no cargo.
O presidente do PMDB, senador
Romero Jucá, apelou a que se desse um “desconto” a Calheiros.
Objetivamente pediu compreensão
para com o presidente do Senado. Faltou dizer a razão pela qual haveríamos de
conceder essa indulgência ao presidente do Senado. Estaria Jucá querendo dizer
que Calheiros está emocionalmente desestabilizado pelo fato de as investigações
estarem chegando aos calcanhares dele?
Se não for isso, parece que é. O
pânico realmente desestabiliza qualquer pessoa. A depender da pessoa, no
entanto, o ato da condescendência pode ou não ser a melhor atitude para a
coletividade. Mas, quem depende da invocação da piedade dos amigos só faz jus a
ela quando não tem a folha corrida na Justiça de Renan Calheiros.”
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