Por Altamir Pinheiro
Antes de se tornar uma banda de fama internacional e entrar para a História da música, o grupo BEATLES era composto por quatro rapazes da cidade de Liverpool, na Inglaterra, amigos que tinham em comum o sonho de serem sucesso e mostrar seu trabalho para o mundo. Antes de se tornar uma banda de fama nacional e entrar para a História da música espirituosa e debochada, o grupo MAMONAS ASSASSINAS era composto por cinco rapazes da cidade de Guarulhos, em São Paulo, amigos que tinham em comum o sonho de apenas ser mais uma banda brasileira de rock cômico e levar ou mostrar para os adolescentes músicas apimentadas, alegres, porém de dança e espírito satíricos...
Os componentes que cruzaram o mundo dentro de um avião CONCORDE, chamavam-se: George Harrison - Ringo Starr - John Lennon - Paul McCartney. Já os rapazes que faziam parte dos Mamonas Assassinas que cruzaram o país, em apenas oito meses, numa BRASÍLIA amarela, denominavam-se: Dinho (Alecsander Alves) vocal, Samuel Reoli (Samuel Reis de Oliveira) - baixo, Julio Rasec (Júlio César Barbosa) - teclados, Sérgio Reoli (Sérgio Reis de Oliveira) - bateria, Bento Hinoto (Alberto Hinoto) – guitarra e violão.
Por ironia do destino os Mamonas Assassinas sempre tiveram uma certa relação com AVIÕES. Quando adolescente, Samuel costumava desenhar aviões. No final dos anos 80, Sérgio, Bento e Samuel formaram a banda PONTE AÉREA, que depois se tornaria Utopia. Todos os integrantes do grupo moravam perto do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos. No disco homônimo do grupo Mamonas Assassinas, há um agradecimento a Santos Dumont "POR TER INVENTADO O AVIÃO, SE NÃO A GENTE AINDA ESTARIA INDO MIXAR O DISCO A PÉ"...
Depois de vinte anos, como adultos, Ainda está presente em nossas mentes o modelo irreverente de um grupo musical que contestava todos os costumes do mundo moderno e o desejo de mudança. Se para nós era assim, imaginem o que os MAMONAS ASSASSINAS representavam para os nossos filhos... Nem acabaram eles de agradecer a “Santos Dumont, que inventou o avião”, um acidente aéreo sepultava abruptamente a banda, surgida do anonimato e em vertiginosa ascensão no espaço da música popular brasileira. Quase dois milhões de discos vendidos em tempo relâmpago e a multidão de crianças e jovens chorando o repentino desaparecer daqueles seus ídolos, donde foram testemunhas do estrondoso sucesso e popularidade daquela banda irreverente que deixou um espaço vazio no mundo musical, no campo do devaneio e distração que até hoje, ninguém conseguiu ocupar.
Em suas letras, estrofes irreverentes e espetaculares denunciam essa doidice, como na música “PELADOS EM SANTOS”
Na Brasília amarela com roda gaúcha/
Ela não quis entrar/
Feijão com jabá/
a desgraçada não quer compartilhar/.
E, ainda, em “CHOPIS CENTER”:
Quanta gente/
Quanta alegria/
A minha felicidade é um crediário/
Nas Casas Bahia/.
Ela não quis entrar/
Feijão com jabá/
a desgraçada não quer compartilhar/.
E, ainda, em “CHOPIS CENTER”:
Quanta gente/
Quanta alegria/
A minha felicidade é um crediário/
Nas Casas Bahia/.
O som alegre e ruidoso, os gestos irreverentes, escondia uma profunda melancolia naqueles rapazes de Guarulhos, retrato de um mundo sem rumo, junto e misturado com o conformismo, pessimismo, passividade, ausência de força moral. Notava-se tudo isso em quase todas as letras dos Mamonas, como em “CABEÇA DE BAGRE”:
Fome, miséria, incompreensão/
o Brasil é tetra campeão/
Hoje eu tô arrependido de ter feito migração/
Volto para casa fudido/
com um monte de apelido.../.
OU, ENTÃO:
O meu andar é erótico/
com movimentos atômicos/
sou amante robótico/
com direito a replay/.
com movimentos atômicos/
sou amante robótico/
com direito a replay/.
Por fim, dedico este simples ensaio que ora escrevo aos meus filhos Gustavo e Tanandra Pinheiro, por ter compartilhado com eles aquela manhã trágica de 2 de março de 1996, no desaparecimento de uma banda que tocava ROCK BOBAGEM tão amada e curtida pela criancice deles dois. Por cúmulo da fatalidade, até o jeito de morrer desses garotos, repentino e inesperado, retrata a figura do sujeito humano no final do Século XX para o começo do XXI: transitório, passageiro e breve, como um meteoro fugaz cruzando o céu de um cosmo que ninguém sabe para onde vai. E lá se vão vinte anos...
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