Pirro, Rei de Épiro e da Macedônia. |
Por Zezinho de Caetés
Eu nunca vi se falar tanto em “Vitória de Pirro” como neste momento, desde que a gerenta
presidenta entregou o governo ao PMDB. Embora já saiba o que significa a frase,
eu fui ao pai dos burros, que hoje é o Google, para verificar o que havia de
tão semelhante com a vitória da Dilma.
O Rei Pirro, que viveu lá pelos anos 300 a.c., foi rei de
Épiro e da Macedônia e ficou conhecido por ser um dos principais opositores a
Roma. Em uma batalha, ao felicitar os generais pela vitória, depois de
verificar as enormes baixas sofridas pelo seu exército, disse a eles: “Com mais uma vitória destas, eu estarei
acabado!”. Daí vem a expressão “Vitória
de Pirro” para indicar alguma conquista feita com um esforço exagerado e
penoso.
Se não houvesse esta expressão milenar, a partir desta
semana, teríamos os termos para serem usados com o mesmo significado: “Vitória de Dilma”. Como se sabe, ela
praticamente entregou o governo ao PMDB, sob o conselho do meu conterrâneo Lula
que já foi useiro e vezeiro deste tipo de atitude. Segundo dizem, ele explicou
a sua pupila que deveria dar os anéis para ficar com os dedos. Os anéis eram
alguns ministérios, para satisfazer a sanha por cargos do PMDB, e os dedos era
seu cargo, ou seja, evitar o impeachment a qualquer custo.
O que se viu, foi uma Vitória de Dilma. Só quem ganhou foi o
partido do vice que agora não reina, mas, governa de fato o país, pelo menos de
maneira formal, já que é a dupla Renan/Cunha que dá as cartas. E a prova disto
veio na propaganda obrigatória do partido, onde se repete e se repete o chavão
de que “os governos passam e o Brasil
fica”. Deveria ser substituída pela frase, “os governos passam e o PMDB fica”.
Em suma, o que tivemos foi um “impeachment branco”, ou seja, a Dilma sabe que já foi, mas,
esqueceu de avisar. Neste quadro partidário brasileiro estava faltando um
partido novo. Agora já tem: O Partido Novo. Venha para ele você também.
Para o final de semana, escolhemos mais uma vez um texto do
imortal Merval Pereira, cujo título é quase igual ao meu: “Vitória desgastante” (O Globo – 24/09/2015), e que trata do mesmo
assunto, e mostra quanto esta vitória pode ter sido inútil. Fiquem com ele que
eu vou fazer meu retiro espiritual no final de semana, esperando que não seja
um retiro nem de Pirro nem de Dilma.
“Se era para segurar o dólar, não deu certo. E por que não deu? Por
que, na verdade, a vitória do governo no Congresso na noite de terça-feira não
foi definitiva, e é possível detectar-se por trás da manutenção dos vetos
presidenciais interesses diversos, e não apenas o compromisso de apoiar o
governo.
Poderia até mesmo ser chamada de "vitória de Pirro", em que o
governo se desgastou tanto para vencer que acabou se desmoralizando mais ainda.
Muitos deputados e senadores estavam realmente preocupados com os gastos que
desequilibrariam de vez as contas públicas, inclusive na oposição, mais
especialmente entre senadores oposicionistas. Mas muitos peemedebistas estavam
mesmo preocupados em não deteriorar de vez as contas públicas que herdarão em
caso de impeachment da presidente Dilma.
Daí a tirar-se a conclusão de que o governo já tem uma maioria
suficiente para impedir que o processo de impeachment seja instalado no
Congresso, vai uma distância grande. Foi uma vitória importante para o governo,
sem dúvida, especialmente pela coragem de enfrentar o monstro, coisa que o
governo Dilma vinha evitando há muito tempo, demonstrando uma fragilidade que
se auto-alimentava com os erros políticos que são cometidos em sequência.
A presidente pagou para ver e ganhou um fôlego, até que vetos
importantes politicamente e com efeitos econômicos desastrosos, como o aumento
para os servidores do Judiciário, forem à votação. Aí sim veremos se a maioria
governista é sólida a ponto de se desgastar com uma categoria importante,
especialmente para os petistas. O teste de fogo se dará com a CPMF, que
continua sendo rejeitada pela maioria do Congresso.
Mesmo tendo superado esse
obstáculo importante, o governo Dilma continua errando estrategicamente em
relação ao PMDB, repetindo o mesmo erro de tentar passar por cima da cúpula
partidária para negociar diretamente com as bases.
A troca vergonhosa de votos por ministérios como o da Saúde – com uma
relação de candidatos à vaga que assusta – é por si só a repetição de uma ação
que corrói por dentro a base aliada, que não dedica lealdade a quem se ofereceu
no balcão das negociações fisiológicas mais rasteiras, e provavelmente não
pagará a dívida quando enfrentar votações políticas fundamentais como o
impeachment.
Ainda está na memória de muita gente a votação do impeachment do então
presidente Fernando Collor, em que deputados que até a véspera juravam
fidelidade ao presidente votaram a favor de afastá-lo. O mais notório deles foi
o deputado Onaireves Moura, dirigente de futebol eleito deputado federal em
1989 na leva de Collor, fazendo parte da "tropa de choque", que
defendia o mandato presidencial a todo custo.
Na véspera da votação do impeachment Onaireves chegou a oferecer um
jantar para Collor, mas na hora de votar, não resistiu à tentação populista e
gritou ao microfone o “sim” que apoiava o fim do governo de seu amigo. Acabou
preso por outras falcatruas.
Na votação de terça-feira, houve um momento em que a verdadeira força
da base governista foi colocada à prova pela oposição, que passou a obstruir a
sessão para ver até onde o governo conseguia encher o plenário com os seus
aliados.
A sessão teve que ser suspensa por falta de quorum, apenas 127
parlamentares da base marcaram presença. Essa pode ser uma boa medida da
lealdade dessa base renovada a força de negociações nada republicanas, com
atores políticos de segunda categoria na hierarquia partidária.
Parece mais a rapa do tacho por parte desse grupo do que uma
reviravolta na posição do PMDB. Até 15 de novembro, esses novos protagonistas
poderão sugar até as últimas gotas o governo Dilma, mas nada indica que a
lealdade permanecerá até a decisão do partido, em sua convenção nacional, de
abandonar o barco governista.
Eduardo Cunha prepara seu
discurso de rompimento do PMDB com o governo Dilma para esse dia, querendo
dar-lhe a mesma dimensão que Tancredo, também num 15 de novembro, fundou a Nova
República num discurso épico.
Os momentos são outros, principalmente os autores são distintos em suas
histórias políticas e pessoais, mas a convenção nacional do PMDB pode marcar o
fim da era petista.”
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