Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Encontro Onofre em plena Avenida Guararapes, a boquinha da
noite cheia de bagulhos parecendo mais um mercado persa, vendendo-se de tudo,
bolinhos, pasteis, sorvetes, cachorro quente, milho e tudo o que você pensar,
está uma bagaceira. Cansado de guerra,
escorado em uma bela bengala comprada no Rio de Janeiro, vestindo como sempre
uma calça de linho branca e uma camisa azul de mangas compridas, apesar do
calor. Casado com Dona Esmeraldina, há quarenta anos, teve cinco filhos, quatro
homens e uma mulher, a todos eles deram o nome começando pela letra “O”,
Osvaldo, Onofre, Otacílio, Otoniel e Ofélia, como desejava. Cresceram estudaram
e se formaram. Casaram-se e deram-lhes netos. Desde que começaram a namorar eu
dei uma ordem a todos que chegavam. Olhem é casa de sogra, mas quem manda é eu,
portanto, tudo aqui é dividido no trabalho domestico. Ninguém fica de pernas pró-ar
enquanto Esmeraldina se lasca na cozinha, para cozinhar, lavar pratos, passar pano
na cozinha, colocar e tirar pratos da mesa e assim por diante. Não vai haver
moleza, se não vão almoçar em restaurante que lá tudo é fácil. Meus filhos
ficavam uma arara com esta recomendação. Ficavam chateados e as namoradas ficavam
de boca aberta estranhando esta maneira falar. Mas te digo, era um remédio
santo. Terminando o almoço ou jantar a que estava presente se levantava a
ajudava a mulher no que fosse preciso e depois se sentava no terraço para
namorar e botar conversa fora. Eu estou te confessando isto, porque o Zeferino,
tu o conheces o amigo das manhã/tardes sentados na mesa do Savoy tomando uma
cervejinha gelada e ouvindo as piadas de Careca, Índio e Ermenegildo, bons
garçons que nos deixou saudades, olhando para o local onde existia o Savoy com
hippies deitados no chão ou vendendo as suas bugigangas. Ele tem duas noras que
vão para a sua casa e lá fazem o que querem. Ele fica chateado olhando a sua
mulher Zezinha fazendo tudo e ajudado por mim que às vezes me chateio, mas nada
digo para não melindrar. É certo? Respondi que não. Colocasse em pratica o que
realizei outrora, ninguém ficou com raiva apenas ajudou o trabalho. A família é
para ajudar uns aos outros e não para se escorar como fazem algumas dondocas, ignorando
a ajuda de quem já esta cansada do trabalho domestico do dia a dia. Vamos tomar
uma cerveja para esfriar este calor infernal que esta acontecendo. Sentamo-nos
numa mesa na Praça do Sebo e ali tomamos três geladinhas como manda o figurino,
com um tira gosto de bacalhau. Deixamos o Zeferino com as suas noras e
começamos a recordar os bons tempos que nos reuníamos para tagarelar sobre
todos os assuntos que vinham na cabeça. Começou indagando sobre os festeiros,
Magauri, Melo, Jamari, Nelsinho, Maia, Antonio e tantos outros que frequentavam
o Savoy e suas adjacência, indo para a Portuguesa, Bar do Gordo, Estrela, do
Mijo, e tantas outros locais que havíamos desfrutados das tardes do Recife.
Alguns destes amigos ainda estão andando pelas ruas como eu e tu, outros já
morreram e outros estão indos para outros bares nos subúrbios, principalmente,
para mesas do Mercado da Encruzilhada e da Boa Vista, onde ainda se desfruta de
um recanto tranquilo com muitas vozes pelo violão cantado e tocado por Zinho. É
meu amigo o tempo passa e nós vamos ficando mais “novos”. Eu já beirei os 75
anos e hoje carrego o corpo encostado nesta bengala minha amiga. Já não tomo
mais cervejas como antigamente, já não frequento os salões de dança, na sexta
feira no Clube das Pás e assim vou vivendo. E tu? Eu? Tô vivendo por ai. Muitas
coisas que fazia antigamente deixaram de ser feita por motivos do tempo que nos ajuda a pensar,
que já não somos jovens para peregrinar pelos bares da vida e salões de festa
noturna. Vou vivendo e espero viver muito mais, mas.... Só Deus sabe. À noite
esta chegando e eu vou ter que ir embora. Um abraço brevemente quem sabe nós
nos encontraremos. Encontraremos, sim, respondeu Onofre já levantado escorado
na sua amiga bengala, por que vou pesquisar onde se encontra o restante dos
colegas e convidar você e outros para almoçar lá em casa ao som de um violão
tocado pelo meu filho, Onofrinho. Vai ser uma festa de arromba
e não uma despedida. Claro, disse.
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