Por Zezinho de Caetés
Conta-se que um assessor do Bill Clinton, num cartaz
pendurado na sede da campanha, em 1992, escreveu: “É a economia, estúpido!”. Naquela época, George H. Bush, o pai,
disputava a reeleição cercado pelo sucesso na primeira Guerra do Golfo,
enquanto o país submergia na recessão. E o Clinton, como sabemos, venceu,
insistindo no problema da economia. Isto é história e a frase ficou mais nela
do que o Clinton, que agora maneja para a família voltar à presidência com
Hillary, sua mulher.
Ontem (e mais uma vez devo chegar defasado na publicação da
AGD, mas, isto é o de menos), em reunião da Câmara Federal, penso que alguém da
oposição deve ter pregado um cartaz na porta dizendo: “É a política, estúpido!”.
Vi na TV. Parecia uma briga de quermesse. Acusaram até o
Roberto Freire de agredir uma deputado do PC do B. Ou seja, o sujo brigando com
a má lavada. Jogaram cédulas de dólares com as fotos do Lula, Dilma e João Vaccari,
os chamados “PTrodólares”, dando a
impressão do plenário da ter se tornado palco de comemoração da máfia pelo
sucesso do roubo. No entanto, ali estava se fazendo política.
Diante da estagflação causada pelo governo, parecia até que
a oposição era a situação e vice-versa. O PT votava a favor do governo (em
parte) e contra os “trabalhadores”, enquanto a oposição votava contra o governo
(em parte) e a favor dos trabalhadores. Se algum marciano chegasse por lá,
deveria perguntar o que significava PT. Enquanto as galerias, cheia de “trabalhadores”
gritavam contra o PT, os mesmos aplaudiam a oposição. E foi um bafafá dos
diabos.
O governo conseguiu vencer o primeiro round, e mesmo com
dissidências dentro do PT, conseguiu não levar o Brasil a ter retirado o “grau de investimento” (sem ele, o Brasil
é considerado caloteiro internacional) e a coisa ficaria muito pior do ponto de
vista econômico. E então porque a oposição é contra, quando defendia tudo isto
há pouco mais de seis meses?
É o que o imortal Merval Pereira chama no texto abaixo (Blog
do Merval – “Luta política” – 07/05/2015)
de “luta política” e que eu apenas digo: “É
a política, estúpido!”.
Fiquem então com o seu texto, que mostra com mais detalhes,
o ocaso do PT, que um dia chamou-se Partido dos Trabalhadores, e que hoje nada
mais é do que o Partido da Trambicagem.
“Foi uma segunda noite seguida de horrores para o Partido dos
Trabalhadores. Não bastando que até Lula tivesse sido vítima de um panelaço
nacional na véspera, ontem à noite os deputados petistas sofreram calados e sem
condições de reação na votação do ajuste fiscal.
Já haviam sido constrangidos pelo PMDB, que exigiu uma posição formal
do PT em apoio às medidas propostas, ameaçando não votar com o governo depois
que a propaganda oficial do partido, coordenada por Lula e sem a presença da
presidente Dilma, criticou as medidas como se elas fossem do ministro da
Fazenda Joaquim Levy, e não do governo.
A própria CUT, o braço sindical petista, está convocando uma greve
geral contra o “ajuste do Levy”. O líder do PT na Câmara, o deputado José
Guimarães – o que teve um assessor preso na época do mensalão com dólares
escondidos na cueca – resumiu bem a questão ao dar seu voto: “O PT, com muita
coragem, vota sim”.
É preciso coragem mesmo para apoiar as medidas propostas, todas
corretas do ponto de vista do equilíbrio financeiro do Estado, mas que só
precisam ser adotadas para ajudar a tapar os buracos orçamentários criados pelo
desacerto da “nova matriz econômica” da equipe econômica do governo Dilma, sob
sua vigilância permanente.
O problema do discurso governista é que ele não resiste à sua própria
contradição. Ajustar para crescer é o slogan que tenta juntar duas palavras
forças que se contrapõem: se é preciso reequilibrar as contas públicas para que
a economia volte a crescer, é sinal de que está desequilibrada no momento.
E a oposição passou a noite se divertindo, servindo ao PT doses
homeopáticas de seu próprio veneno. Quando o PT chegou ao governo federal em
2003, uma das primeiras medidas foi enviar ao Congresso uma proposta de reforma
previdenciária em tudo semelhante à que o governo tucano tentara aprovar,
contra a resistência petista.
Perguntei ao presidente da Câmara, o petista João Paulo Cunha, por que
o PT agira assim no governo de Fernando Henrique Cardoso, e ele me respondeu
sem tergiversar: “luta política”. Pois ontem foi um dia exemplar de como a
“luta política” está sendo usada pela oposição para sangrar o PT.
Foi um desfile de discursos oposicionistas de todos os matizes
ressaltando o ponto central, que o PT está traindo os trabalhadores, que o
governo Dilma mentiu durante a campanha eleitoral. As táticas mais rasteiras do
sindicalismo foram usadas, desta vez contra os governistas.
Até dólares falsos com as caras da presidente Dilma e do tesoureiro João
Vaccari foram jogados das galerias sobre os deputados, e a CUT uniu-se à Força
Sindical nos protestos contra o ajuste. A oposição obstruiu permanentemente as
sessões, e a maioria governista não conseguia impor o ritmo, era uma maioria na
defensiva, sem aquele vigor que o PT demonstrava “na defesa do trabalhador”.
O máximo que conseguiram foi tentar criar uma falsa crise política,
acusando o líder do PPS, deputado Roberto Freire, de ter agredido a deputado
Jandira Feghalli, provavelmente com o intuito de reverter o clima, que era
claramente contrário aos governistas que se preparavam para aprovar o reajuste
fiscal.
A provável vitória governista, a ser confirmada ainda hoje em novas
votações, não vai acontecer sem custos adicionais. A oposição conseguiu fechar
um acordo de votação nominal do texto principal e de destaques, como maneira de
pressionar os governistas, que certamente temem ver seus nomes em cartazes
espalhados pelo país como os “inimigos do povo”. Igualzinho o PT passou a vida
na oposição fazendo com os governistas de outrora.
Não se avançará no debate político com essa disputa radicalizada, mas
não há a mínima indicação de que a oposição estenderá a mão para ajudar o
governo, como pretendia o ministro da Fazenda Joaquim Levy, um técnico que veio
das hostes tucanas para implantar medidas econômicas que provavelmente seriam
aplicadas pela equipe econômica de um hipotético governo tucano caso Aécio
Neves tivesse vencido a eleição ano passado. Mas o PSDB alega que essas seriam
medidas menores dentro de um amplo projeto de mudança na economia que o PT não
apresentou.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário