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quinta-feira, 21 de maio de 2015

MÃE AMOROSA.




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Fui dormir pensando nela. Rezei. Acordei pensando nela. Rezei. Passei o dia pensando nela. Rezando. Assim foi o meu domingo dia das Mães. Recordei passo a passo da minha querida mãe Nedi, desde primeiro tempos na cidade Bom Conselho até a sua ida ao encontro do Pai Eterno. Levitei e fui até ao meu ninho na Rua do Caborje em Bom Conselho, onde nasci. Ali fui criado, mimado, e cheio de alegria por conta da alegria da minha mãe. Amorosa, gentil e carinhosa sempre atenta aos nossos desejos de criança. Lembro-me do seu trabalho diário em casa como mãe família, varrendo o piso de cimento queimado, preparando o almoço, lavando uma louça, lavando e estendo roupas no quintal, abanando as brasas no fogão pregado na parede e nós, eu minha irmã Auxiliadora limpando a cinzas. Limpava o terreiro, o pequeno chiqueiro com dois bacorinhos, limpando a gamela e semeando milho para as galinhas. Cantava, gostava de cantar. Trabalhava cantando que ainda hoje recordo todos os fins de semana pela Radio Capibaribe, através do programa Noite de Saudade suas musicas preferidas que a ouvia solfejar, quanta saudade me trás, desta querida e amada pessoa, minha mãe.  Recordo das nossas visitas à casa de Tia Maria, Joana e Maria Eugenia na Rua das Aguas Belas, sempre à tardinha, descendo e arrodeando o Coreto. Cuidado para não cair, gritava. Cuidado de mãe amorosa. Ao voltar comprávamos o pão crioulo e principalmente o pão sovado amarelinho coberto por açúcar fininho, uma gostosura.  Ouvíamos atenta a Ave Maria, às seis da tarde, ouvido pelo microfone instalado na Praça Pedro II, Ia para a loja de Tio Expedito comprar as roupas para o Natal e Dia de Ano. Visitava a loja do compadre Gabriel, padrinho da minha irmã Ana, com a caneta na orelha e as calças sustentadas por um suspensório, sempre a sorrir.  Das brincadeiras na frente do bangalô de Luisinha Correntão, correndo nas barcas, estrevolim e roda gingante sob o seu cuidado. É muito perigoso Antonio, os meninos ir neste brinquedo, dizia apreensiva.  Lembro-me das noites mal dormidas, no quarto com o candeeiro aceso, com abano na mão abanando-me para recuperar o ar, pois a asma não me deixava dormir nem ela, às vezes recostada na parede dormitando pelo cansaço da noite em vigília. Levava no outro dia ao consultório de Dr. Raul Camboim ou Dr. José de França. Receitava e lá íamos comprar o expectorante ora na farmácia Crespo, ora na farmácia de Manoel Lourenço. Vinha pegado em minha mão agasalhado num pequeno capote cinza.   Ela foi que me mostrou as primeiras letras e números, como professora, na escolinha no Corredor, descendo todos os dias a tarde junto a varias crianças. Cuidado para não cair, quando descia a ladeira do Cinema Rex após olhar os cartazes exposto no saguão. Alegres já comentava o que ia acontecer na matinê do domingo, principalmente, os capítulos dos seriados Capitão Marvel, Super Homem, A Deusa de Jova e os filmes nos fazia vibrar com John Wayne, Zorro, Rock Lane, Tarzan o Rei da Selva. Abria a porta corrida da escolinha pintada de verde, e duas mesas onde colocava o livro de chamada, comprido e uma capa dura amarela, como nome dos pequenos alunos, chamando um por um, respondendo “presente” com a nossa voz de criança. O livro depois do ano terminado servia para eu colecionar fotos dos artistas de cinema. Comprava gibi em Garanhuns, quando ia visitar Tia Maria Dionísia, freira no Colégio Santa Sofia. Mamãe era uma pessoa dócil e amável. Educada e respeitava todos sem distinção.  Nunca se perdia a Santa Missa no domingo na Matriz da Sagrada Família, às 9 horas, celebrada pelo Padre Alfredo. Meninos levanta já esta na hora da missa! Vamos trocar de roupa! Saiamos em família em direção a Igreja, arrumadinhos. Nunca teve discussão sempre benquista por aqueles que conviviam com ela, vizinhos. De vez em quando tinha que receber algum corretivo. A desobediência era fatal.  Pois a educação dos filhos, naquela época, passava por castigos, às vezes com bolos de palmatoria, que era pendurada na parede, uma branca, para os castigos mais leves, a preta esta sim, era usada com mais fervor acompanhado do castigo de não ir a matine, no domingo. Às vezes fica de castigo no quarto escuro por uma hora. Não repita mais senão vai novamente para o castigo.  Mas mãe é mãe, depois do castigo vinha a bonança, o sorriso, o carinho e o afago. Certo dia já adulto encontra-me deitado, enrolado pelo frio de Garanhuns, e mamãe entra no quarto escuro, pronta para ir a Santa Missa no Colégio Diocesano, passa a mão sobre os meus cabelos grisalhos, e diz – meu filho querido – saindo de mansinho, pensando ela que não ouvi aquelas belas palavras. As lagrimas vieram aos olhos. O dia todo fiquei olhando para ela enquanto tricotava na sala sentada no silencio da manhã.  E assim recordo a minha mãe Nedi, com saudades daqueles tempos que não voltam somente às lembranças através dos seus gestos ternos e carinhoso que acompanha a nossa vida por toda uma vida.

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