Por Lucinha Peixoto (*)
Ontem li um artigo do Zetinho, meu conterrâneo, também
iludido com a ideia de uma Academia de Letras em Bom Conselho, no qual ele
sonhava com a verdade no dia 1º de abril, que é considerado o Dia da Mentira.
Terrível azar do meu amigo. Com tantos dias no ano olhem o dia em que ele foi
sonhar! Embora, eu me pergunte, será que existe um Dia da Verdade!? Ele seria
aquele dia em que todos os nossos sonhos se realizariam. Por exemplo, o
Zetinho, ao sonhar com a Academia, já acordaria vestindo seu fardão, e fazendo
genuflexão para o retrato de Pedro de Lara, muito justamente, eleito seu
patrono. Por sinal, já estão tentando fazer justiça ao nosso artista maior, com
a criação do Dia de Pedro de Lara, por indicação do vereador Carlos Alberto.
Seria um belo dia para a inauguração da nossa Academia.
O Dia da Verdade, igual ao Bom-Bril, teria 1001 utilidades.
Eu ficaria o tempo todo esperando sua véspera para me deitar e sonhar. O meu
sonho mais esperado seria ver um dia, bastaria um dia, em que os políticos não
mentissem. Todos eles. Pelo que vejo até hoje, num dia como este, tenho certeza
ouviríamos poucas vozes nos palácios, parlamentos e em outras repartições onde
eles se abrigam. Talvez o chamassem o Dia do Justo Veríssimo, aquele personagem
do Chico Anísio, que repetia sempre:
- Eu quero que pobre
se exploda!!!
Nossa Capital Federal seria um túmulo pelo seu silêncio,
neste dia. Talvez algum recalcitrante e descrente na força do meu sonho,
arriscasse um discurso no Congresso Nacional:
“Senhor Presidente,
caros colegas parlamentares. Eu estou aqui falando para cadeiras vazias e
aproveito a oportunidade para dizer o quanto é gostoso este mandato que comprei
do povo e o uso como quiser. Dizem por ai que todos os meus funcionários são
fantasmas, que me aproveitei do cargo para nomear parentes, que só quero é me
dar bem e ser eleito nas próximas eleições. Tudo isto é verdade cristalina. É
por isso que estas reforma política e a reforma eleitoral não saem. Eu não sou
maluco para dar tiro no pé.
Senhor Presidente, sei
que V. Excia. não abrirá sua boca no dia de hoje, pois eu o vi dando boa-noite
ao porteiro, neste lindo meio-dia em nossa capital, pelo seu vício de mentir, e
eu apenas concordo com V. Excia.”
E o discurso se estenderia por mais alguns horas desfazendo
todas as mentiras ditas no dia anterior. O meu sonho foi bom enquanto durou,
mas, quando acordei, estava tão deprimida que os meus filhos se preocuparam com
minha vida. Um deles, que um dia já pensou até em ser padre, mas desistiu quando
soube o que era o celibato, me contou uma estória, que ele disse ser uma
parábola, dizendo chamar-se "A
Parábola da Governante Sofredora", no intuito de me tirar daquela
angústia quase mortal:
“Numa terra bem
distante viviam várias pessoas sob o comando de uma mulher, forte e destemida e
que por estas suas qualidades havia galgado posto de governante suprema da
comunidade. Não era um matriarcado e sim uma espécie de democracia direta, onde
de tempos em tempos realizavam-se eleições, e numa delas ela foi eleita para
ser a governante máxima da aldeia. Ela era uma mulher dentro dos padrões
normais daquela diminuta sociedade, tendo três filhos e um marido muito
trabalhador.
Como em toda
democracia, quando alguém ia para o poder, os outros, que perderam as eleições,
viravam oposição e abriam as críticas contra os que o conquistavam. Muitas
vezes as críticas tinha procedências outras não vezes não. Fazia parte do
processo político eleitoral daquela comunidade.
Houve um momento em
que, as críticas se tornaram tão pesadas, que a governante entrou num processo
depressivo, com outras várias consequências para sua saúde. Isto, como era de
se esperar, preocupou muito sua família, que via a cada dia mais doente. Houve
uma reunião familiar e o marido foi taxativo:
- É melhor você ficar em casa, do que ter sua saúde prejudicada!
De comum acordo, a
governante chamou sua substituta eventual e disse:
- Eu vou renunciar, por isso, por isso e por aquilo, e você deve
assumir!
Não se sabe até hoje
se a substituta ficaria alegre ou triste em assumir o governo, mas, ela aceitou
a situação e resolveu assumir.
Entretanto, a
comunidade era tão pequena que tudo que foi falado nesta reunião foi ouvido por
todos. Era como se mato tivesse olho e parede tivesse ouvido. E foi um alarido
geral. De um lado, aqueles que apoiavam a governante, dizendo, não renuncie e
trate sua doença sem deixar o cargo. De outro lado a oposição, que mesmo
dizendo não ter nada com isto, rezava para ver a governante pelas costas.
Neste intenso
burburinho, foram chegando os correligionários e, dando explicações de toda
ordem, pediam à governante para não renunciar. De tanto insistirem ela acedeu e
resolveu não cometer o extremo gesto político. Para comunicar isto ao povo,
como estava muito debilitada, reuniu seus apoiadores, e depois de conselhos
variados, resolveu escrever uma nota oficial para dizer que não renunciaria,
pois tudo não passava de intriga da oposição e nunca havia nem pensado nisto,
renúncia não era uma palavra que constasse do seu vocabulário.
O que ouve em seguida
foi um terrível golpe na credibilidade da governante, pois todos ouviram e
viram o que foi falado nas reuniões, e mesmo existindo alguns doidos e
pilantras na comunidade, nem todos eram assim. Alguns que ainda acreditaram
nela, por estarem longe do mato e das paredes do lugar, tentaram defendê-la,
mas logo desistiram.
Ao invés de curar-se
dos seus males, a depressão da governante aumentou pelo efeito gerado pela nota
oficial, que não correspondia aos fatos. Só havia uma solução. Havia um sábio
na aldeia, que orientava em questões espirituais e mesmo em doenças físicas,
porque segundo ele, elas estavam interligadas, e esta solução era procurá-lo.
Isto foi feito e ela
foi ao encontro do Pai Dantas, como o chamavam. E ela foi logo dizendo:
- Sua bênção, Pai
Dantas. Estou aqui porque não falei a verdade para o meu povo. O que devo
fazer?
E prosseguiu contando
sua estória, tintim por tintim. Então o Pai Dantas falou:
- Sente-se minha filha, acomode-se e tenha muita calma. Esta questão da
verdade é muito complicada. Disseram que Jesus, nosso guia maior, foi falar
para Pilatos que o interrogava:
"Vim ao mundo para testemunhar a verdade. Todos os que são da
verdade me ouvem", e diante desta declaração, Pilatos colocou o problema
permanente do ser humano: “o que é a verdade?” É uma pena que, assim como
Pilatos, muitos ainda hoje não queiram ouvir a resposta, que pode ser ouvida em
outras situações da boca do próprio Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará”. Aqui estar a verdadeira sabedoria, minha filha.
- Pai Dantas, eu sempre disse a verdade, mas desta vez meus assessores
acharam por bem não enfrentá-la porque pensaram que isto seria um sinal de
fraqueza.
- E agora, minha filha, como você está se sentindo? Mais forte? Mais
tranquila? Menos insegura?
- Não me sinto bem, Pai Dantas, eu preferia ter dito a verdade. Mas....
- Ainda está em tempo, minha filha, nunca é tarde para dizer a verdade
e se libertar de vez.
- Eu entendi, Pai Dantas, obrigada, e sua bênção.
- Vai com Deus minha filha.”
Quando meu filho chegou a este ponto da parábola eu já
estava prestando tanto atenção e minha angústia havia diminuído bastante, e
quase falei sem querer:
- Vai, homem, e o que
aconteceu depois!?
Ele continuou:
“A governante voltou para casa, pegou a caneta e escreveu
outra nota, que se recusou a chamar de oficial, para não haver quem dissesse
que ela deveria ser lida só nas entrelinhas, que dizia o seguinte:
Nota:
Eu como governante
desta comunidade declaro que menti em minha última comunicação, e que havia sim
pensado em renunciar mas depois, pela insistência de familiares e amigos,
resolvi não fazê-lo. Ainda tenho muito a fazer por este povo que me elegeu, e
cumprirei meu dever até o fim. Perdoem-me."
A nota foi divulgado
em todos os meios de comunicação e aos poucos ela começou a ganhar
credibilidade, e pelo seu trabalho na comunidade, demonstrado pela sua crença
na verdade dos fatos, na eleição seguinte foi reeleita, enquanto a oposição
ainda estava "chupando o dedo."”
Eu como boa católica que sou, acredito nas parábolas
bíblicas descritas pelos evangelistas, por que eu não acreditaria na parábola
do meu filho? Voltei a sonhar com o Dia da Verdade, e quando acordei fui
imediatamente procurar o meu filho para saber onde morava o Pai Dantas para
fazer uma consulta com ele, pois segundo dizem, ele também cura “barriga”
inchada, que é o meu mal atual, e, se for mesmo, chamarei o Zetinho pois, quem
sabe ele também nos oriente sobre o que fazer para o povo de Bom Conselho tomar
a iniciativa de fundar uma Academia de Letras? Não custa tentar.
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(*) Hoje é o Dia do Trabalhador ou Dia do Trabalho. Estou
viajando e na dúvida se poderia escrever ou não para este dia, resolvi, com
faço às vezes, procurar algumas coisas em blogs que eu conheci e, posso dizer,
hoje tenho até seus direitos autorais. Não encontrei coisas apropriadas para o
dia primeiro de maio, mas, encontrei uma sobre o Dia da Verdade, da Lucinha
Peixoto (Blog da CIT – 09/06/2010), minha amiga ainda em exílio voluntário.
Quem conhece a comunidade da qual ela fala, como eu conheço, gostará do texto,
pelas lembranças que ele traz de nossa vida política.
Também, me decidi a publicá-lo porque ela fala da nossa tão
sonhada pelo nosso colaborador Zetinho, Academia Bom-Conselhense de Letras,
assunto que ele abordou ainda este semana neste blog (aqui).
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