Por Carlos Sena (*)
O amor se acaba como tudo que
começa. Como tudo que se parte, o amor se quebra; como tudo que transforma, o
amor vira amizade; como tudo que se rompe, o amor corrompe o bom senso e
decreta ódio, inimizade; como tudo que se evapora, o amor se esvai em cada
traição, em cada má querência, em cada impaciência...
O amor se acaba em si. Muitas
vezes vai terminando sob os auspícios do dia a dia. Muitas vezes quando um dos
atores se sente atraído por outrem e, desta forma, surpreende-se consigo mesmo.
Há amores que sempre foram findos, mas apenas um dos pares não soube alcançar o
“jogo” da sedução estabelecido. Afinal, compreender um amor que termina é,
acima de tudo, compreender os reais motivos que levaram as pessoas a ficarem
juntas. Quando esses motivos não são muito claros, qualquer coisa gera motivo
de cobranças diárias que conduzem ao desgaste do que nunca nasceu para ser
gasto, na visão popular do amor.
Esquecer detalhes é um indicio de
que a relação está quebrando. Muitas vezes já se quebra na própria emenda –
sinal de que já se tentou evitar que ele acabasse. Esquecer o aniversário do
outro, pode ser um sintoma do “bye bye” da relação. Não se lembrar do dia em
que se conheceram, nem de pequenos gestos, alguns cacoetes de comunicação
interpessoais próprios e presentes nos bons tempos de cumplicidade. Demorar no retorno
das ligações de celular, rarear as visitas aos familiares deixando que apenas
um a faça sem o outro. Medir e controlar gastos querendo que tudo seja dividido
matematicamente é um dos grandes sinais de que a relação talvez nunca devesse
ter começado. Nesse mesmo diapasão estão as desconsiderações e os descuidos com
o outro naquilo em que ele mais tiver de sagrado e que só ao parceiro pode se
dado conhecer. Morre também o amor, quando numa doença o outro sempre se
socorre a si mesmo e, em casos de internações o parceiro sequer visita e
raramente telefona.
O pior do amor é quando os
envolvidos fingem que ele ainda existe. Quando se prometeram a eternidade
esquecendo que ela tem prazo de validade. A relação vai se levando por conta e
risco e do medo de enfrentar nova realidade. Leva-se, pois uma vida de
fingimento que é muito perigoso e cômodo para um dos parceiros ou para os dois.
Talvez seja nesse estágio em que mais cedo ou mais tarde a MENTIRA se
estabeleça como principio da separação sob o pior ângulo: o cinismo. Dele, (do
cinismo) dificilmente se consegue manter uma amizade após a separação. No
geral, o ódio se torna dominador.
O amor se acaba por nada pelo
simples fato de que por nada ele se estabeleceu. Os grandes amores acontecem
quando as duas pessoas são inteiras. Quando ele se acaba e as pessoas são
inteiras, cada uma irá para seu canto curtir o sofrimento que for necessário –
nem mais nem menos, mas apenas o necessário. Afinal, pra duas pessoas ficarem
juntas, as duas tem que querer. Pra separar, apenas uma.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 23/09/2012
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