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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A SOLIDÃO DO SOFRESSOR





Por Carlos Sena (*)

O que mais dói no coração do professor?

Qualquer resposta não serve! Não adianta querer dizer que é o salário baixo. Ele é importante, mas não é determinante para um bom Professor. Um bom Professor precisa de muito pouco pra ser feliz, mas mesmo esse "muito pouco" nossa sociedade não tem tido condições de, rompendo as barreiras, proporcionar. O sofrimento do Professor não está nele, nem no salário minguado do final do mês. Nele está o amor e, por isto, talvez seja mesmo melhor inferir de outra forma acerca do que mais dói no coração de um Professor: a SOLIDÃO dele diante de um processo educacional reprimido em si em benefício das classes dominantes. Como seria essa Solidão? Mais ou menos assim:

1)      Se o Professor colocar um aluno pra fora de aula, ele tem certeza que o pai do aluno da escola particular, principalmente, vai ao diretor e esse o bota (O MESTRE) pra fora;

2)      Se o Professor mandar um aluno deixar de atender ao celular, pode até levar uma tapa na cara e, mais uma vez, sozinho ficará, porque não há amparo para defender professor nesses casos, na maioria das escolas privadas. Nas públicas, nem se fala.

3)      Se o Professor puxar demais pelos alunos, alguns pais procuram o diretor para lhes dizer que o professor quer matar os seus filhos de tanto estudar. Além de mentirosos, esses pais, no geral, conseguem faze que o professor seja chamado à diretoria pra conversar. Ninguém vai lá com ele e só ele ouve, explica-se, mas o diretor, no geral, pede pra ele maneirar.

4)      Se o Professor tiver mente aberta (como deve ser) e defenda que todos os seres humanos sejam tratados igualmente, tais como gays, negros, etc., logo é taxado de gay e assemelhado. Poderá ser linchado, levar um tiro, perder o emprego se o emprego for privado. Se for publico, pode ser transferido e, mais uma vez, ninguém vai lá ficar com ele na questão e por ela lutar.

5)      Se o Professor for gay, então tudo lhe cairá sobre a cabeça, mesmo que ele seja um exemplo de retidão de professor. Nessa questão, sozinho muito mais vai ficar, haja vista a questão idiota que o chamado kit gay está proporcionando sem sentido.

6)      Se o Professor corrigir um aluno, constrange; se for ríspido com ele, constrange; se perder a paciência com ele, é grosso, mal educado; se permitir uma educação liberal é incompetente; se discutir sexualidade em sala é depravado, safado, enxerido, etc. Não acerta nunca e, de novo, sozinho fica na questão.

7)      Se o Professor chamar o pai do aluno ele não vai, manda a mãe. Se chamar a mãe ela não vai e não manda ninguém. Sua sina solitária continua feito um calvário cotidiano.

8)      Se houver bulling, o coitado do professor, não raro, é culpado de não ter impedido que ele acontecesse. Lá vai ele só, de novo, enfrentar os pais, a direção da escola, a delegacia, o conselho tutelar, ministério público, etc.

A gente fecha a SOLIDÃO do Professor no contexto da sociedade que a gente mais que viver nela, participa e compartilha. Uma sociedade que sua principal emissora de TV faz sucesso com um BIG BROTHER – ou seja, uma putaria vista por todos e não censurada pelos padres, nem pastores; uma sociedade que coloca na capa de sua principal revista SEMANAL, a Veja, uma personagem de novela das oito; um programa de Domingo que discute "quem-matou-quem" numa novela de horário nobre; um país que paga salário mínimo ao Professor e muitas cidades se recusam a pagar o teto salarial recomendado pelo governo federal; um país em que quem rouba um pote de margarina vai preso, mas quem rouba milhões que eram previstos para educação e saúde, nada sofrem, etc., etc.

Como se pode perceber, a SOLIDÃO é quem mais dói no coração dos SOFRESSORES, porque há muito Professor rico, dono de escola, mas que também lamentam e sentem essa dor moral que é ser professor por sacerdócio, mas não sentir que seu trabalho esteja servindo para modificar o que aí se perpetua deseducando mais do que ensinando. Depois, ironicamente, alguns pais de família, diante de filhos drogados,prostituidos, presos, vociferam: "onde foi que eu errei"?


PS.: Uma hora depois que screvi este artigo, o FANTÁSTICO entra no ar com a grande discussão: "quem matou Max", personagem da novela AVENIDA BRASIL. Levou para o programa Preta Gil, Alexandre Pires, um especialita comentarista de crimes, Tadeu Schimit coordenando a discussão. Tenho vergonha desse país. Já não basta perder a copa da educação e da saúde, ainda temos a copa de 2014 pela proa. Mais um anestésico para esconder nossas mazelas. Salve Paulo Freire. Salve eu, salve tu, salve o rabo do tatu...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 14/10/2012

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