Por Carlos Sena (*)
O que mais dói no coração do
professor?
Qualquer resposta não serve! Não
adianta querer dizer que é o salário baixo. Ele é importante, mas não é
determinante para um bom Professor. Um bom Professor precisa de muito pouco pra
ser feliz, mas mesmo esse "muito pouco" nossa sociedade não tem tido
condições de, rompendo as barreiras, proporcionar. O sofrimento do Professor
não está nele, nem no salário minguado do final do mês. Nele está o amor e, por
isto, talvez seja mesmo melhor inferir de outra forma acerca do que mais dói no
coração de um Professor: a SOLIDÃO dele diante de um processo educacional
reprimido em si em benefício das classes dominantes. Como seria essa Solidão?
Mais ou menos assim:
1) Se o Professor colocar um aluno pra fora
de aula, ele tem certeza que o pai do aluno da escola particular,
principalmente, vai ao diretor e esse o bota (O MESTRE) pra fora;
2) Se o Professor mandar um aluno deixar de
atender ao celular, pode até levar uma tapa na cara e, mais uma vez, sozinho
ficará, porque não há amparo para defender professor nesses casos, na maioria
das escolas privadas. Nas públicas, nem se fala.
3) Se o Professor puxar demais pelos alunos,
alguns pais procuram o diretor para lhes dizer que o professor quer matar os
seus filhos de tanto estudar. Além de mentirosos, esses pais, no geral,
conseguem faze que o professor seja chamado à diretoria pra conversar. Ninguém
vai lá com ele e só ele ouve, explica-se, mas o diretor, no geral, pede pra ele
maneirar.
4) Se o Professor tiver mente aberta (como
deve ser) e defenda que todos os seres humanos sejam tratados igualmente, tais
como gays, negros, etc., logo é taxado de gay e assemelhado. Poderá ser
linchado, levar um tiro, perder o emprego se o emprego for privado. Se for
publico, pode ser transferido e, mais uma vez, ninguém vai lá ficar com ele na
questão e por ela lutar.
5) Se o Professor for gay, então tudo lhe
cairá sobre a cabeça, mesmo que ele seja um exemplo de retidão de professor.
Nessa questão, sozinho muito mais vai ficar, haja vista a questão idiota que o
chamado kit gay está proporcionando sem sentido.
6) Se o Professor corrigir um aluno,
constrange; se for ríspido com ele, constrange; se perder a paciência com ele,
é grosso, mal educado; se permitir uma educação liberal é incompetente; se
discutir sexualidade em sala é depravado, safado, enxerido, etc. Não acerta
nunca e, de novo, sozinho fica na questão.
7) Se o Professor chamar o pai do aluno ele
não vai, manda a mãe. Se chamar a mãe ela não vai e não manda ninguém. Sua sina
solitária continua feito um calvário cotidiano.
8) Se houver bulling, o coitado do professor,
não raro, é culpado de não ter impedido que ele acontecesse. Lá vai ele só, de
novo, enfrentar os pais, a direção da escola, a delegacia, o conselho tutelar,
ministério público, etc.
A gente fecha a SOLIDÃO do
Professor no contexto da sociedade que a gente mais que viver nela, participa e
compartilha. Uma sociedade que sua principal emissora de TV faz sucesso com um
BIG BROTHER – ou seja, uma putaria vista por todos e não censurada pelos
padres, nem pastores; uma sociedade que coloca na capa de sua principal revista
SEMANAL, a Veja, uma personagem de novela das oito; um programa de Domingo que
discute "quem-matou-quem" numa novela de horário nobre; um país que
paga salário mínimo ao Professor e muitas cidades se recusam a pagar o teto
salarial recomendado pelo governo federal; um país em que quem rouba um pote de
margarina vai preso, mas quem rouba milhões que eram previstos para educação e
saúde, nada sofrem, etc., etc.
Como se pode perceber, a SOLIDÃO
é quem mais dói no coração dos SOFRESSORES, porque há muito Professor rico,
dono de escola, mas que também lamentam e sentem essa dor moral que é ser
professor por sacerdócio, mas não sentir que seu trabalho esteja servindo para
modificar o que aí se perpetua deseducando mais do que ensinando. Depois,
ironicamente, alguns pais de família, diante de filhos drogados,prostituidos,
presos, vociferam: "onde foi que eu errei"?
PS.: Uma hora depois que screvi
este artigo, o FANTÁSTICO entra no ar com a grande discussão: "quem matou
Max", personagem da novela AVENIDA BRASIL. Levou para o programa Preta
Gil, Alexandre Pires, um especialita comentarista de crimes, Tadeu Schimit
coordenando a discussão. Tenho vergonha desse país. Já não basta perder a copa
da educação e da saúde, ainda temos a copa de 2014 pela proa. Mais um
anestésico para esconder nossas mazelas. Salve Paulo Freire. Salve eu, salve
tu, salve o rabo do tatu...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 14/10/2012
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