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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

PESO DE CONSCIÊNCIA





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Uma das piores coisas que pode acontecer ao ser humano é não poder voltar às atitudes tomadas erroneamente. Todos sabem quando isto acontece. Fica aquela culpa em nosso ser e o pensamento nos consome ao longo da vida. Fica intricado em nosso cérebro, remoendo as lembranças que a cada momento vem à tona. Como a minha consciência está doendo? Interroga-se. Reclama a todo instante. O humor desaparece. Não dorme direito.  O travesseiro amigo dos desabafos silenciosos, não o consola. Nada posso fazer para aliviar esta culpa que trago na consciência! Repete sempre.  

Este fato foi comentado por Luvino, apelidado de LUA. Não é por menos que isto acontece em nossa vida. Pois é, meu amigo. Eu sofro deste mal. Eu nunca dei atenção aos meus pais; nunca dei uma palavra de carinho; nunca me sentei para conversar com eles; entrava mudo e saia calado de casa; chegava tarde da noite e não lhes dava satisfação, pelo contrario lá estavam eles me esperando, o que me aborrecia e assim o tempo passava. Queria tudo na hora, roupas lavadas e engomadas; sapatos engraxados, cuecas e meias arrumadas na cômoda. E assim eu ia levando a vida. Nunca pensei que algum dia pudesse me arrepender. Os anos se passaram, e o meu pai ficou doente. Sentado na cama gostava de ler o jornal e ouvir o radio, seu passatempo favorito. Sabia de cor e salteado os acontecimentos políticos da Nação e gostava de entabular conversas sobre o assunto. Mas, eu nunca me sentava para ouvi-lo, ignorava. O seu olhar de suplica nunca me incomodou.  Morreu aos 82 anos de idade de embolia pulmonar, no Hospital Português. O que eu queria dizer a ele não podia mais. Queria pedir-lhe perdão. Queria dar um abraço carinhoso. Afagar os seus cabelos brancos. E chorar no seu ombro amigo. Não foi possível. Esta magoa carrego penosamente.   Foi um choque para mim, vendo-o no velório deitado de mãos posta entrelaçado por um terço, de olhos fechados como estivesse dormindo. Olhei aquela figura que tanto carinho me deu e eu naquela aflição querendo agora conversar e dialogar e já era tarde de mais.  O arrependimento aflorou em mim, nada mais podia fazer. Avalias a situação. Pouco tempo depois minha mãe faleceu vitima de um AVC, mas uma vez fui ao velório. Lá estava a minha mãe serena de olhos fechados cercada de flores brancas, sua cor preferida em vida. Quantas vezes a deixei sem dormir? Quantas vezes eu não lhe dei carinho merecido? Quantas vezes não a encontrei alisando os meus cabelos na cama? Minhas calças e camisas passadas ao ferro penduradas no guarda roupa, somente tendo o trabalho de vestir? Nada disso me importava. O amor que ela dedicava a mim e eu sem corresponder a estes afagos? Morre aos 78 anos. É meu caro! È dolorido a gente conviver com estes dissabores que nós mesmos produzimos.  Como tu sabes sou casado e bem casado há 18 anos. Tenho dois filhos, que ao contrario de mim, são carinhosos e amorosos conosco. Dialogam conosco. Partilham conosco as dificuldades do dia a dia. Como vão ao trabalho. As decepções que encaram na vida. E ai é que eu não me contento de ter sido um rebelde na minha fase de adolescência e de adulto. Não me perdoo.  Já era por volta do meio dia quando LUA com olhos d’água se despediu. Apenas eu disse: Adeus! Com certeza teus pais já te perdoaram há muito tempo, pois o AMOR é muito grande para se desgastar com as coisas da vida.

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