Por Zezinho de Caetés
O jornalista Sandro Vaia, semana passada, publicou no Blog
do Noblat um texto com o título de “O
fígado em recesso”, que abaixo transcrevo e aqui comento alguns pontos.
Já começo dizendo que discordo do jornalista por ter
insinuado que o atual PT, ou seus dirigentes, usaram o cérebro durante os
últimos 10 ou 15 anos. Os que tinham cérebro no partido já saíram dele há muito
tempo ou, se ficaram, estão calados ou esperando o momento propício para sair.
A ideia de lançar um manifesto contra a decisão da Suprema
Corte, ao oficializar como chefe de quadrilha o Zé Dirceu e condenar os outros
por vários crimes é uma ideia de jerico, sem querer desrespeitar os jericos,
inclusive porque ele é até um símbolo do Partido Democrata americano, que,
provavelmente vencerá as eleições este ano, lá pela terra de Obama.
E estes rompantes vem sempre junto com as acusações contra o
que eles chamam de “a grande imprensa”,
que na realidade é aquela que não come no coxo do governo federal, e com a
velha ideia do “controle social da mídia”.
Isto é uma excrescência sem tamanho. Na Venezuela e em todas as republiquetas
há algo semelhante para tornar um partido, normalmente, com um candidato a
ditador no poder, e com a esperança de um partido único, manter a hegemonia.
Não há limite para desfaçatez desta turma.
Meu conterrâneo Lula continua calado sobre as falas do
Marcos Valério, e, tenho certeza, pressionando seus asseclas para falarem o
quanto podem para evitar o pior: Ele ser vizinho de cela do amigo Zé Dirceu e
do Delúbio em um presídio qualquer. Quem diria, um homem que admirei um dia,
não deixou escolha aos historiadores, de colocá-lo na História do Brasil pela
porta dos fundos, como alguém que chefiou o maior escândalo da república. Eu
sinto apenas pela minha terra, que não terá nenhuma rua com o seu nome.
Deixo-os com o Sandro Vaia, que mostra o fígado cansado dos
petistas, por tentarem uma missão impossível: Verem-se livre do mensalão.
“Salvo melhor juízo, o PT resolveu criar juízo, pelo menos
provisoriamente, e adiar para Deus sabe quando, a divulgação do seu manifesto
contra o STF criticando a condenação de algumas de suas eminências pardas no
julgamento do mensalão.
Depois de conquistar a jóia da coroa - a prefeitura de São Paulo - numa
eleição enfraquecida pela falta de entusiasmo dos eleitores, e de
contrabalançar vitórias e derrotas em outros pontos importantes do País, o PT
estava prestes a dar um sinal de inaudita arrogância, preparando um manifesto
destinado a criticar a mais alta corte de Justiça pela condenação de alguns de
seus membros mais históricos e eminentes.
Matéria publicada pela “Folha de São Paulo” de quarta-feira,1 de
novembro, explica a decisão de adiar o manifesto atribuindo a um ministro
petista a avaliação de que “a ordem é agir com mais cérebro e menos fígado”.
Na verdade, toda vez que o partido se entusiasma com a falsa ilusão de
que finalmente conseguiu a hegemonia política completa no país, a sua direção
nacional mexe no embornal de ameaças e acena com manifestos como esse, ou com a
iminência de um “controle social da mídia”, eterno sonho de uma noite de verão
de uma ala do partido que ainda não aprendeu como é a convivência madura com a
democracia.
Para não sair do terreno da própria esquerda e não correr o risco de
ser linchado como um neoliberal - o verdadeiro monstro dos tempos modernos -
vou buscar no ensaísta gramsciano Luiz Sergio Henriques, em artigo publicado no
reacionário Estadão, um conselho sobre o qual os petistas mais ilustrados e
letrados poderiam muito bem meditar:
“A esquerda não deveria “sofrer” a democracia como se fosse concessão
penosa e temporária aos “inimigos do povo”, mas promovê-la, ao lado de outras
tendências, inclusive moderadas e conservadoras, como conquista da
civilização”.
Em palavras menos acadêmicas, se quisermos usar um pouco de
irreverência realista, o que o ensaísta está tentando dizer a seus companheiros
de esquerda do PT é “menos, rapaziada”.
Sim, o PT ganhou a Prefeitura que mais lhe interessava – é bem verdade
que com um pouco mais de 39% dos votos das pessoas aptas a votar, e menos por
grandes méritos seus do que por inadequação plena do adversário - mas perdeu
outras em que seu líder máximo empenhou seus bigodes, como BH, Manaus, Recife,
Campinas, Salvador (para só citar algumas) e na redistribuição de poder nacional
o consórcio progressista/conservador que governa o País ficou mais ou menos do
mesmo tamanho.
Nada que justifique ou sustente atos, gestos e bravatas de desprezo à
democracia.”
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