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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

SAÚDE DE FERRO!



CEMITÉRIO DE SANTO AMARO - RECIFE
(AMARO BOCÃO)


 Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Gabava-se de ter uma saúde de ferro. Nunca tinha visitado um consultório médico nem hospital ou casa de saúde. O seu remédio era uma pinga com limão e mel e depois lavada com alguns copos de cerveja. Quando se falava do exame de próstata, dizia para todos, - eu lá sou “frango” para outro homem botar o dedo no fiofó, não isto eu garanto vou morrer virgem - e acrescentava - isto exame é para vocês. Cuidado para não ir todos os dias ao consultório se não se vicia. Todos riam desta conversa que Esperdião não gostava de falar. Era um adepto em assistir a Santa Missa na Igreja dos Militares na Rua Nova, nas quartas feira e, na Basílica de Penha, as sexta feira, para receber a benção de São Felix, às 10 horas. Falasse de tudo menos da religião – dizia – “deixe os santos com a sua santidade e nós com os nossos pecados”, e acrescentava – se é uma coisa que eu não gosto de discutir – religião, futebol e política – todos já têm a sua opinião formada e a discussão trás muita das vezes grosseria, leva ao desafeto, zanga e muitas das vezes até morte acontece, ria. Vamos jogar uma porrinha! E assim a manhã na mesa do Bar Savoy continuava alegre, cada um contando suas piadas e as suas estripulias, muitas das vezes “aumentando” o fato. Lá prá tantas horas da tarde saímos para o A Portuguesa, na Rua Diário de Pernambuco, completando a bebedeira no Largo da Encruzilhada, no Bar Salete. Os dias se passavam sem que Alfredo aparecesse nos lugares onde costumávamos ir – Bar Savoy, A Portuguesa, Bar do Gordo, Flor de Ouro, Bar do Mijo, Bar Estrela – o que acontecera? Alfredo não era homem de ficar em casa e muito menos de abandonar as amizades de bar. O tempo passa e numa manhã ensolarada, um calor danado, o vai e vêm das pessoas pela Avenida Guararapes, e as buzinas dos carros, as pessoas em pé esperando o ônibus e os gritos ensurdecedores dos vendedores de pipocas e maçã vermelhinhas. Éramos servidos pelo garçom Careca, com a seu terno de garçom, calça preta, paletó branco e a gravata borboleta preta que trazia a cerveja bem geladinha.  Enquanto comentávamos algum assunto chegou o companheiro Maguary com a sua bolsa Zero sete colocando na cadeira e dizendo – sabe quem está internado no Hospital Osvaldo Cruz? O Alfredo! Encontrei ontem com a Dona Zuleide na Rua da Palma e ela me contou que Alfredo começou há certo tempo com dores na bexiga, urinava a conta gota, e como vocês já sabem, ele relutava ir ao médico, por qualquer doença – dizia sempre – doença se cura com uma boa dose de Pitu e uma Antarctica bem gelada e, ai o cara está curado – mas dessa vez ele se deu mal. As dores aumentaram e ele se decidiu ir ao médico – Marcamos a consulta. No dia aprazado chegamos ao Hospital por volta das seis e meia da manhã. Dezenas de pacientes já se aglomeravam uns sentados outros em pé aguardando a chegada do médico. Não sabíamos que enfermidade o Alfredo tinha. Sentia dores. Ele sentado em uma cadeira, de vez em quando fazia uma careta – o que tu tens Alfredo? É uma dorzinha que me incomoda bastante quando estou sentado, vou ficar de pé e, assim fazia. Lá pelas dez horas entramos no consultório. Alfredo sentou-se em frente ao medico e ele começou anotar em uma papeleta, os sintomas que o paciente ia dizendo. Deitou em uma maca, apertou ali, apertou acolá, deitou de bruços e frente, examinaram os olhos a boca e depois de olhos abaixados passou alguns exames e assim que estivesse pronto voltasse. E assim procedeu. Fez os exames laboratoriais e dentro de uma semana lá estava ele em frente ao médico. Olhou e examinou e disse – o Senhor vai até um urologista para ele observar estes exames.  Alfredo já saiu desapontado, tinha medo da doença e muito mais ainda de morrer, mas que já estava no barco tinha agora que remar. Foi ao urologista, o medico depois de examinar, disse o Senhor tem problema na próstata vamos medicar e com certeza vamos ter fazer uma cirurgia. Alfredo embranqueceu, caiu-lhe um suor frio e uma fraqueza nas pernas. Saiu cambaleando do consultório. Doido para ir embora Maguary ainda o final da estória, Dona Zuleide completou – Se fez a cirurgia no Hospital Barão de Lucena, mas foi constatado câncer de próstata. Foi uma gota d’água. Deste dia em diante, começou a se despedir de todos. Lamentava-se Deu-lhe um abatimento na vida. Não sorria e pouco falava. Certo dia disse a todos – hoje vou tomar as minhas últimas cervejas com alguns amigos ouvindo o que mais gosto às musicas de Nelson Gonçalves. E assim se fez. Alguns amigos foram lá prá casa e com os olhos lacrimejando brindou a sua vida, ou melhor, dizendo o final da vida.  A doença era incurável e o destino era Amaro Bocão, referindo-se ao Cemitério de Santo Amaro. Agora esta no Hospital Osvaldo Cruz aguardando somente o chamado de Deus. Já não existe mais esperança. Estou aqui na Rua, pois tinha um compromisso. Vou comprar alguns remédios e voltar para casa. Até breve, se despediu.

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