Por Carlos Sena (*)
A OAB informou seu pior resultado. De cada 10 advogados inscritos, 9 foram reprovados nos testes que ela executa para que os "doutores" possam tirar a carteira de advogados e, dessa forma, exercerem seu ofício na plenitude. Parabéns, OAB! Aplausos! Enfim, existe neste país uma instituição que vigia seus pares e faz a "peneira" da competência que deveria ser construída nos bancos das universidades.
O PAÍS tem mais faculdades do que precisa. O governo parece que, não resistindo às pressões dos parlamentares, liberou geral as autorizações para funcionamento de faculdades "pés de escada" como se diz na minha terra. Só deve perder para as farmácias, mas pelos menos não ignoramos que somos um país doente. Só que não somos um país inculto, posto que somos uma das maiores economias do mundo emergente. Só que faculdade dá dinheiro com pouco trabalho - melhor do que abrir um negócio tipo supermercado, farmácia, shopping, etc., que é de risco certo e lucro duvidoso. Investir na "educação" é lucro certo. Principalmente em faculdades caça-níqueis! É certo que vai quem quer, que faz vestiburlar (assim mesmo com "R") quem quer. Contudo, os resultados da má formação acadêmica, intelectual somos nós quem sofremos. No caso dos advogados, meno male. Mas no caso dos médicos, quanta vida não deve estar sendo ceifada, mutilada?
Ser DOUTOR neste país virou moda. Quem não pode dar "carteirada" por ser parlamentar ou autoridade constituída no pior sentido, poderá fazê-la ao pior estilo do "FULANO, NÃO, DOUTOR"! Mas da hora da onça beber água, na hora de fazer uma petição, na hora de fazer um texto, na hora de contextualizar um trabalho, de usar um bisturi, de defender uma tese, de argumentar uma ação de trabalho, BABAU: borram-se todos e ficam com a cara de BUNDÃO fingindo que foi o teste, a prova, o trabalho, a atividade, etc., que foram difíceis demais. Pior: na vida particular são uma bosta no uso do verbo, da transacionalidade interpessoal. Certamente que nesse bojo existem honrosas exceções, pois senão seria o fim da linha.
O que nos conforta diante dessa disseminação descontrolada de escolas superiORES é que os que as procuram estão na ilusão de comprarem títulos, mas não compram conhecimento. Um pouco da lógica da farmácia que vende remédio, mas não vende saúde.
Portanto, parabéns O A B. Há quem não ache ela correta, mas quem tiver juízo e souber o que é que compõe um bom profissional, sabe que ela tá certíssima e até torce para que o CREMEPE, por exemplo, faça o mesmo. Os "filhinhos de papai", que não são os meus irmãos graças a Deus, são os maiores investidores nessa prática de formatura, de compra de diploma fácil. Resta-nos um consolo a mais: o mercado nem sempre absorve esses maus profissionais! Não raro ficam dançando a valsa da mediocridade, vivendo sob o manto dos pais, procurando casar com pessoas abastadas e manter a pose. Vestidos de terno – paletó e gravata até parecem doutores. Mas por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento.
Se a marcha é lenta
melhor que seja à ré
Faculdade pé de escada
não forma doutor
quando muito bacharé...
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(*) Publicado no Recanto das Letras em 05/07/2011
Eu não tenho uma opinião formada sobre este tema tão importante para nossa vida social, pois envolve um setor crucial para o nosso país que é a educação e a formação de profissionais habilitados. Apesar de ser um defensor da liberdade de escolha em todas as instâncias eu ainda não chego ao ponto de, com firmeza, indicar que o exame deveria ser opcional. Não desenvolverei esta ideia aqui , mas apenas cito Luce Pereira, em sua coluna do Diário de Pernambuco, como uma forma de contribuir ainda mais com o importante tema, abordado pelo excelente texto do conterrâneo Carlos Sena.
ResponderExcluir“Sim, é claro que a tentativa de acabar com o exame da Ordem dos Advogados do Brasil, na berlinda sob o argumento da inconstitucionalidade, pode não dar em absolutamente nada quando sair o parecer do ministro do STF Marco Aurélio Mello, relator do processo. Se for mesmo batido o martelo em favor da manutenção do exame – um instrumento que dá dinheiro, força e prestígio à OAB –, pelo menos estará posta uma discussão há muito adiada no país : a qualidade do ensino oferecido pelos cursos de direito. É inegável que se a avaliação da Ordem chamusca mais da metade dos candidatos, em muitas de suas edições, é porque os alunos saem das ditas escolas sem o conhecimento devido, encontrando pela frente, também, um exame para lá de rigoroso, capaz de fazer tremer nas bases até os postulantes a uma vaga no ensino superior. Desde a mais tenra idade, os candidatos sabem que não basta se submeter à exploração de escolas caça-níquel, pagando mensalidades exorbitantes, porque a principal parte da conta fatalmente será cobrada na hora da avaliação. A maioria das vozes parece se levantar a favor da permanência do teste, desde que ele seja revisto e se adeque a essa realidade incômoda de alunos pouco qualificados. Mas, pensando assim, o verdadeiro “x” do problema vai ficando embaixo do tapete, com os donos de “escolas de mentitinha” assistindo a tudo de camarote. Os primeiros a merecer uma sabatina medonha, que avaliasse também o que pensam sobre ética, seriam, exatamente, esses bem nutridos empresários. O segundo, o próprio MEC, ao autorizar o funcionamento das instituições deles. E, lá na ponta do processo, os estudantes, que, afinal, sempre pagaram o pato degustado pelos donos do “negócio”.”
Zé Carlos