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sábado, 23 de julho de 2011

O chefe de quadrilha e o imortal




Por Zezinho de Caetés

É tanto assunto já escrito, que me dá preguiça de escrever. Ontem vi um texto do José Dirceu, acusado de ser o chefe da quadrilha do mensalão, cujo título era muito claro, para quem viveu um pouco a política no Brasil contemporâneo: “A opção da oposição pelo udenismo”, onde ele quer mostrar que os escândalos que pipocaram recentemente na mão da presidente, é intriga da oposição, como fazia a UDN no século passado.

Hoje já li um texto do imortal Merval Pereira com o título de “Dilma e sua Armadilha”, no qual ele procura ver esta tendência da oposição em resumo, citando um frase de Brizola onde ele chama o PT de: “UDN de macacão”.

Eu transcrevo os dois textos abaixo, colocando o do José Dirceu em vermelho e o de Merval Pereira em azul. Nos folguedos do pastoril em sempre torci pelo cordão azul. Julguem os senhores para minorar a modorra deste fim de semana.

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“Nada mais ilustrativo da total ausência de projetos, propostas e alternativas por parte da oposição do que o clima com feições udenistas que se tenta criar com o beneplácito e a estridência de setores da grande mídia.

O momento requer um recado claro em alto e bom som a essas forças do atraso: o Brasil seguirá sua rota de desenvolvimento sustentável com crescimento econômico e distribuição de renda.

O movimento inicial da parceria oposição-mídia se deu nos primeiros meses do governo Dilma Rousseff, quando a tentativa foi de cooptar e mudar as políticas com pressões para a administração mudar o modelo econômico.

O objetivo era fazer Dilma abandonar o ex-presidente Lula e o PT, algo que realmente só faz sentido para quem desconhece a relação profunda entre os dois governos, os dois presidentes, o PT e os demais partidos da base aliada.

Sem conseguir êxito, a ação passou a ser o velho recurso do denuncismo desenfreado, para tentar criar um clima de “mar de lama”. Nesse contexto, a oposição deixa de lado de debater as principais questões políticas e econômicas do país, com as quais poderia contribuir com papel importante. Aliás, são essas questões que preocupam os brasileiros.

O país pede um debate sério e comprometido sobre como superar adequadamente a crise internacional que ainda assola a Europa e os EUA e pode trazer novas ondas negativas à economia mundial.

O que se quer é refletir sobre as conquistas que o governo conseguiu no enfrentamento da primeira onda da crise e buscar as melhores maneiras de nos proteger e fazer valer nossos interesses nacionais.

O problema é que fazer isso pressupõe primeiro o reconhecimento das ações positivas que o governo já tomou, como os extraordinários investimentos públicos e privados na infraestrutura do país. Em seguida, pressupõe apresentar alternativas, o que a oposição não tem.

Resta, assim, o denuncismo, não importando se há comprovação ou não das acusações. Sem o reconhecimento de que o país está preparado hoje para investigar, fiscalizar e punir, pois possui órgãos de controle e fiscalização do Estado —que, inclusive, são a origem da maioria das denúncias.

As instituições democráticas nunca tiveram tanta independência e autonomia como hoje —para se ter uma ideia, nos governos tucanos, o procurador-geral da República ganhou a alcunha de “engavetador-geral da República”.

Ora, o objetivo dos que transformam de novo a questão ética e moral em principal campo de batalha não é a luta contra a corrupção, mas sim golpear o governo Dilma e o PT.

São práticas usadas pela UDN (União Democrática Nacional), existente no país de 1945 a 1965, o mais reacionário e golpista dos partidos na história brasileira. A ação udenista consistia em adotar o denuncismo desenfreado, ainda que sem fundamento, para propagar um falso “mar de lama” e desestabilizar os governos.

Foi assim com Getúlio Vargas, que acabou se suicidando em 1954; foi assim com as conspirações e difusão do medo do comunismo que levaram à derrubada do regime democrático em 1964 e a instalação de 20 anos de governo militar autoritário.

Enquanto oposição e grande mídia jogarem esse jogo, não haverá espaço verdadeiro nesses canais para debatermos a reforma política, a reforma tributária, as melhorias em Educação, os avanços na Saúde, as políticas para a juventude, o equilíbrio cambial e as medidas de fortalecimento da indústria, desenvolvimento tecnológico e inovação.

As forças que apoiam o governo Dilma precisam estar atentas a essas práticas nocivas ao ambiente político profícuo. É preciso difundir o que o governo tem feito via canais democráticos de discussão e transmissão de informações, como a blogosfera.

A opção da oposição pelo udenismo é uma tentativa de nos empurrar uma agenda que não interessa ao país e à sociedade. Cabe a nós intensificar nossa ação política para levar adiante a agenda comprometida com a melhoria do país.”

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“Pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto mostram que a opinião pública está gostando do termo “faxina”, e o marketing oficial vai investir nesse conceito. Certamente será mais difícil fazer uma campanha publicitária na base da limpeza ética do que foi, por exemplo, nos idos dos anos 1960 para Jânio Quadros, que se elegeu tendo como símbolo uma vassoura para varrer a sujeira que acusava Juscelino Kubitscheck de ter produzido.

Mas Jânio era da UDN, e JK do PSD, um combatia o outro e a polarização era natural. É interessante até notar que os petistas têm mania de acusar os que denunciam as irregularidades no governo de “udenistas”, para transformar as denúncias em meros reflexos de um moralismo hipócrita.

E também é engraçado lembrar que Leonel Brizola colocou no PT o apelido de “UDN de macacão”, justamente por que o PT baseou toda sua luta política, até chegar ao poder, nas denúncias contra os governos do momento, fossem eles quais fossem.

O PT se vendia ao eleitorado como o guardião da ética na política, e hoje se transformou em vidraça, acusando os que o acusam do mesmo moralismo inconseqüente.

Hoje, Dilma está no Palácio do Planalto por obra e graça de Lula, e seu papel é o de realizar um governo de continuidade, para isso foi eleita.

Como então fazer uma faxina geral onde se pressupõe o prosseguimento dos mesmo projetos, dos mesmos planos, que aliás eram coordenados por ela, Dilma, que na Chefia do Gabinete Civil era uma espécie de alter ego de Lula, a se acreditar na campanha eleitoral que a elegeu?

A própria presidente Dilma, em conversa recente, declarou-se um "avatar" de Lula.

As circunstâncias políticas fizeram com que a “faxina” tenha começado pelo Ministério dos Transportes, por coincidência (ou não) um dos muitos ocupados por indicações pessoais do ex-presidente Lula.

E, para azar de seus pecados, um ministério onde as principais obras do PAC estão aninhadas, o que equivale dizer que essa “faxina” deveria ter sido feita lá atrás, quando Dilma despachava quase que diariamente com o então ministro Alfredo Nascimento, responsável por todos os órgãos hoje envolvidos nas denúncias de corrupção.

Na crise do ex-ministro Antonio Palocci (outra indicação pessoal de Lula, por sinal), a presidente Dilma agiu com lentidão, e acabou tendo sua imagem prejudicada junto com a do seu principal ministro, e justamente por isso nessa segunda crise está agindo mais rápido.

E está dando certo, está sendo bem percebida pela opinião pública. É evidente que ela sai dessa crise com maior apoio de setores que provavelmente não votaram nela, uma classe média dos grandes centros urbanos que tende a votar com a oposição justamente devido, entre outras coisas, a valores como a questão da corrupção governamental.

Esses eleitores-cidadãos estão vendo nas atitudes da Dilma uma mudança de posicionamento que lhes agrada, e continuam dando um voto de confiança à presidente para ver se ela está realmente se afirmando nesse combate.

Essa mudança de estilo de governar diz muito, mas ainda não está claro o que surgirá dessa metamorfose. Ela certamente perde apoio no Congresso ao não aceitar que o pragmatismo que marcou o relacionamento de Lula com os aliados prepondere, acima dos valores éticos da atuação política.

Vai ficar muito fragilizada junto à sua base aliada por que além do PR que está na berlinda, todos os demais partidos da base devem estar muito inseguros com essa mudança de ventos, com a nova maneira de a banda governista tocar.

Ainda mais tendo Lula como padrinho, dando palpites sobre a adequação das medidas e insinuando que ös inocentes" têm que ser readmitidos.

Não é por acaso que os parlamentares do PR, e até mesmo do PMDB, já estão ameaçando engrossar as assinaturas para a convocação da CPI do Ministério dos Transportes, uma maneira de pressionar o Palácio do Planalto, pois faltam apenas quatro assinaturas para a oposição conseguir convocar a CPI.

Além do mais, a presidente, se colocando nesse caminho, está armando uma armadilha para si própria, pois vai ter que agir da mesma maneira em qualquer outro ministério em que apareçam acusações de corrupção.

E elas aparecerão, por que o “fogo amigo” vai continuar a atuar firmemente, não há dúvidas de que o PR já está fazendo levantamentos sobre o PT, o PMDB, e outros partidos que porventura estejam envolvidos em tramóias, para criar uma situação de constrangimento generalizado, ou até mesmo exigir isonomia no tratamento dos aliados.

Não foi à toa que o diretor do Dnit indicado pelo PT, Hideraldo Caron, acabou tendo que pedir demissão. Ele estava conseguindo se segurar no cargo às custas de muita pressão do partido, mas acabou tendo que sair quando surgiram denúncias de corrupção na sua área de atuação direta.

Antes mesmo das denúncias, porém, a presidente Dilma já o havia tirado das reuniões do PAC em que ele seria o relator do andamento das obras, ocasião em que pretendia demonstrar seu prestígio junto ao Palácio do Planalto.

A presidente Dilma terá que enfrentar uma rebelião em sua base aliada, mesmo que seja uma rebelião surda, que não se explicite em denúncias como as que, vindas do PTB, que também estava na base aliada de Lula, desencadearam a crise do mensalão. Somente um aliado sabe do papel de cada um nas negociações internas, e pode fazer esse tipo de denúncia.

A presidente Dilma está agindo certo, desde que tenha um Plano B para enfrentar essa rebelião previsível. Se suas atitudes obedecerem apenas a um voluntarismo sem base de sustentação política, certamente temos uma crise institucional grave a caminho.”

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