“O custo da
embromação
Por José Casado
Dilma, Temer e
o Congresso foram avisados várias vezes nos últimos 42 meses sobre os riscos de
paralisação do país. Ninguém se mexeu. Deu nisso que está aí
É farta a
documentação demonstrando que Dilma, Temer, governadores estaduais e o
Congresso passaram os últimos 42 meses, literalmente, enrolando na discussão de
alternativas para o setor de transporte de cargas. O custo da letargia será um
bilionário subsídio, socializado pelo aumento de tributos no curto prazo.
No domingo, 26
de outubro de 2014, quando Dilma foi reeleita, o problema já dormitava em sua
mesa no Planalto. Nem prestou atenção, até porque vivia um paradoxal “luto” da
vitória, segundo a descrição feita pelo aliado Lula, no livro “A verdade
vencerá”: “A sensação que tive foi de que ela não tinha gostado de ganhar.”
Ambos governaram segurando os preços da Petrobras.
Ela demorou a
reagir. Em fevereiro de 2015 houve bloqueio de rodovias, sob a alegação de que
mais de 90% do frete entre São Paulo e Nordeste estavam sendo consumidos no
custo de óleo diesel, pedágio e manutenção dos veículos. Dilma autorizou Miguel
Rossetto (PT-RS), chefe da Secretaria de Governo, a receber representantes do
setor. Depois do carnaval.
Duas semanas
depois, sancionou em ato fechado a Lei dos Caminhoneiros, aprovada pelo
Congresso. Rossetto tratou-a como dádiva pela “liberação das rodovias”. A lei
previa coisas não efetivadas, como isenção de pedágio para caminhão vazio —
anunciada de novo no último domingo, agora ao custo de R$ 50 milhões mensais.
Nada aconteceu
nos oito meses seguintes de 2015, além de três reuniões, a última num certo
“Departamento de Diálogos Sociais” do Planalto. Até que na terça-feira 9 de
novembro, caminhões pararam em 14 estados. José Eduardo Cardozo (PT-SP),
ministro da Justiça, anunciou aumento de multa por bloqueio.
Os protestos
voltaram em janeiro de 2016. Dilma acenou com uso da força: “Meu governo não
ficará quieto”. Cardozo enxergou “vários crimes”, e o ministro dos Transportes,
César Borges (DEM-BA), viu conspiração. As conversas só foram retomadas em
abril, cinco semanas antes do afastamento de Dilma da Presidência.
Em agosto, sob
Temer, caminhoneiros se queixaram no Senado dos compromissos não cumpridos.
Repetiram advertências sobre “parar o país”. Promessas legislativas adormeciam.
Quando Temer
completou o primeiro ano no Planalto, transportadoras paulistas divulgaram um
video sobre como fazer “a sociedade entrar em colapso”. O governo atravessou os
19 meses seguintes fingindo que o problema não existia. Na quinta-feira 5 de
outubro de 2017, chegou outra advertência à Casa Civil. Temer foi visitar a
base espacial, no Maranhão. E o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS),
foi para casa, em Porto Alegre, em voo da FAB por “motivo de segurança”.
Passaram-se
sete meses. No último 14 de maio, novo documento chegou ao Planalto. Nele,
pedia-se que “o governo leve mais a sério!!!” Ameaçava-se: “Imagine o Brasil
ficar sem transporte por uma semana, ou mais???” Temer e Padilha estavam
dedicados à campanha “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. E o chefe da Secretaria
de Governo, Carlos Marun (PMDB-MS), curtia Nova York.
Novo aviso
aterrissou no palácio 48 horas depois: “É altamente inflamável, como palha
seca”. Indicava até a data (21/5) dos protestos. Nesse enredo de 42 meses
ninguém se mexeu na máquina de 53 mil órgãos, com mais de 49.500 chefes,
espalhados por 1.400 cidades. Deu nisso aí.”
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AGD
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