“Dilema do combustível
POR MÍRIAM
LEITÃO
No arsenal de
medidas contra a alta dos combustíveis não há solução boa. O governo pensa em
reduzir impostos, e a reunião do presidente Temer com a Petrobras aumenta o
risco de intervenção nas decisões da empresa. No governo Dilma houve as duas
coisas: redução de tributos e intervenção na Petrobras. Só à estatal isso
custou US$ 40 bilhões. Perdeu-se receita sem que houvesse ganho para o país.
Que o dilema
apareceria era previsível. Os preços oscilaram conforme as cotações internacionais
enquanto não tinham disparado. Mas agora o barril está acima de US$ 80. Entre o
dia primeiro de maio e esta terça-feira, a gasolina foi reajustada pela
Petrobras em 15,5% e o diesel subiu 13,6%. Um aumento nessa proporção pesa
ainda mais porque a economia está tentando se recuperar de uma longa recessão,
e o percentual parece desproporcional para um país que está com inflação abaixo
de 3% ao ano. Além disso, a eleição está chegando, e a tentação
intervencionista aumenta. Diante disso, fazer o quê? Repetir os erros do
passado?
Parece justo
evitar a alta dos preços da gasolina, dado que esse não é o custo da Petrobras,
e sim o valor da cotação externa. Esse raciocínio sempre aparece nas campanhas
eleitorais na boca dos candidatos. O problema é que na economia se trabalha com
o conceito de custo de oportunidade. Se a Petrobras exportar terá esse ganho.
Se vender aqui mais baixo — por imposição governamental — terá prejuízo. A
empresa passa, então, a ser usada pelos governantes para fazer política de preços.
Esse tipo de intervenção na estatal prejudica principalmente o seu maior
acionista, o Tesouro.
Fazer populismo
com o preço dos combustíveis é um caminho sem volta. Nos governos do PT isso
prejudicou os cofres públicos e a empresa. Primeiro, a Cide passou a ser
reduzida até ser zerada, depois outros impostos foram diminuídos, a empresa
passou a absorver o custo. Chegou a importar mais caro do que vendia. Criou-se
um círculo vicioso. O subsídio aumentava, isso estimulava o consumo, o que
elevava o prejuízo da Petrobras e piorava a perda tributária. O subsídio aos
combustíveis fósseis durou anos, não evitou a inflação, o preço represado um
dia teve que ser corrigido, e o setor de etanol entrou em crise.
O governo Temer
discutiu ontem a possibilidade de reduzir tributo para que a alta dos
combustíveis não seja tão alta. O problema é de onde tirar. Quase metade do
preço da gasolina é imposto, 45%, sendo que desse percentual os estados ficam
com 29 pontos através do ICMS, e 16 pontos percentuais são PIS/Cofins e Cide,
segundo a Petrobras.
O consultor e
especialista em energia Adriano Pires acha que o menos prejudicial seria se a
base sobre a qual incide o ICMS fosse fixada em um preço como R$ 4,00. Eles
teriam a sua arrecadação e não mexeriam na alíquota que é de 25% em São Paulo e
de 34% no Rio. Mas acha que os estados não vão aceitar. Ele lembra que se o
governo diminuir imposto sobre combustível fóssil terá também que diminuir o
tributo sobre o etanol.
— Na verdade, a
melhor forma de fazer essa mitigação das oscilações cíclicas dos preços de
petróleo seria ter uma Cide alta quando a cotação caísse, e baixa quando o
preço internacional subisse — disse Pires.
A Cide foi
pensada para funcionar dessa forma, com uma alíquota flexível. O que houve é
que o governo passado zerou o imposto e quando ele voltou foi com um valor
muito baixo. O governo Temer preferiu aumentar o PIS e o Cofins.
A Petrobras
argumenta que tem controle apenas sobre um pedaço da cadeia de custos, que é o
preço da gasolina nas refinarias. Segundo a empresa, isso representa 32% do
valor final nos postos de gasolina. Sobre todo o resto, o preço do etanol que é
misturado, os impostos, as margens da distribuição e revenda, ela não tem
ingerência. Para evitar a confusão, passou a divulgar o preço na refinaria.
— O petróleo é
preço cíclico. Agora está subindo por causa da Síria, acordo com Irã,
Venezuela. Além disso, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita quer fazer um IPO
da Saudi Aramco e está forçando o preço com corte de produção — conta Adriano.
O custo é de
fato influenciado por fatores geopolíticos, mas o Brasil já tentou diversas
vezes controlar o preço do combustível e só criou distorções na economia. O
risco é repetir os erros do passado.”
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AGD
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