“O legado de Janot
Por Fernão Lara Mesquita
A Odebrecht roubava pela via
tradicional do superfaturamento de obra pública. Já a JBS assaltava direto o
Tesouro Nacional, via BNDES. Não precisava de gazua. Era uma “marca fantasia”
dos guardiões das chaves. Simplesmente entrava e se servia.
Se a delação de Marcelo Odebrecht
e seus 77 asseclas, construída num trabalho de anos, fez sumir de cena a
“narrativa” do costume e varejou de rombos o casco do lulismo com os seus
modestos 415 políticos “ajudados”, é de imaginar o estrago que poderiam fazer
as dos 2ésleys até a eleição que decidirá se a democracia no Brasil vai ou não
se tornar “excessiva” como a da Venezuela se tivessem tido, de Brasília, os
mesmos incentivos para contar tudo o que eles tiveram de Curitiba.
Não pelos 1.820 desencaixes que
confessam ter feito para 4,3 xs mais políticos que a Odebrecht, como era de
lei. Pela saga épica, mesmo, da nata do banditismo petista infiltrada no
comando dos fundos de pensão e dos bancos públicos alistando a escória
planetária do crime organizado em Estados nacionais – Venezuela, Cuba, a
Argentina kirchnerista, Angola, Guiné Bissau e por aí – para montar, a partir
de um modesto matadouro de Anápolis, sob a batuta de um Foro de São Paulo
voando nas asas do Estado brasileiro, uma lavanderia global de dinheiro roubado
abarcando 30 países. Como foi, bilhão por bilhão, que o PT fez da Petros,
entregue à “gestão” de um fundador da CUT, sócia dos carniceiros de Goiás. O
que mais, além do casal Santana, exportou de cleptotecnologia proprietária para
párias da civilização e aprendizes de genocida para ter o conforto de
superfaturar em dólar longe dos controles brasileiros e, ora com, ora sem o
concurso da Previ, do Funcef, do Postalis, do Itamaraty e sabe-se lá do que
mais, mas sempre com o dessa gente boa, ir comprando a “competência” com que os
2ésleys esmagaram um a um os seus concorrentes nacionais e internacionais até
toda a jogada ser “branqueada” pelo BNDES e os maiores laranjas de todos os
tempos ficarem sozinhos na arena global com mais de R$ 180 bilhões no caixa por
ano. E tudo para, como foi minuciosamente mapeado na sentença do mensalão e
eles repetem de viva voz todos os dias, ressuscitar dos mortos, agora marrom, o
totalitarismo que foi vermelho no século 20.
O resultado prático da cruzada de
Rodrigo Janot e Luiz Edson Fachin – aquele que subiu ao Supremo Tribunal
Federal (STF) pelos palanques dos comícios do MST para Dilma, em que discursava
cheio de paixão, e acaba de avalizar a “isenção” do companheiro – foi privar o
mundo de conhecer essa odisseia, o que, incidentalmente, livra Lula das
manchetes todas que ela poderia render até outubro de 2018. Quinze anos de Lula
por 15 minutos de Temer e lá se vão, em velocidade recorde, os 2ésleys, com
seus iates, aviões, bagagens e arquivos, para o mundo dos muito, muito ricos,
liquidando a toque de caixa suas operações na América Latina enquanto o Brasil,
à beira do colapso, discute firulas à espera do momento de decidir nas vésperas
do dia da eleição se arranca Lula do palanque para a cadeia em pleno comício ou
carrega-o para a Presidência da República.
No fim de agosto, o acinte: a
plena e eternamente indultada JBS, na qual até o STF soberanamente proibiu-se
de tocar, mandou informar a quem interessar possa que, sendo assim, fica
recusada a auditoria forense requisitada pelo BNDES para medir os prejuízos
incorridos e mantido Wesley na presidência para comandar, ele próprio, uma
“investigação independente” sobre o paradeiro do dinheiro que os Batista são
acusados de nos roubar...
Tudo isso pede uma reflexão
serena sobre os custos e benefícios desta nossa exaustiva ciranda. Ministério
Público, Judiciário e imprensa dificilmente erram por aquilo que fazem. Acusar
ou prender alguém que não tem culpa nenhuma; mentir frontalmente contra fatos
seria expor-se a ser desmascarado na sequência. Mas omissão é o assassinato sem
cadáver. Não acusar quem esteja atolado em culpas; não expor a falcatrua de que
se tem conhecimento; e suprimir ou supervalorizar a circunstância que qualifica
o fato são opções que não produzem flagrante nem prova.
Mas como matam!
O instrumento da delação premiada
foi importado dos EUA pela metade. Não há dúvida nem sobre a eficácia da
ferramenta nem sobre a perigosa discricionariedade que o seu uso requer. Mas lá
o eleitor tem o poder de cassar ou eleger juízes e promotores, o que faz a
discricionariedade pender sempre para o lado certo. No Brasil, promotores e
juízes habitam o Olimpo, e para sempre. E tudo o que põem para andar “fecha”
necessariamente no máximo em 11. Reclamações para o bispo...
Isso de bom ou mau negócio
depende sempre da parte na transação de onde vem a avaliação, mas, se algo
ficou indiscutivelmente demonstrado nestes quase quatro anos é que o sentido
das delações, agora reajustadas “on demand”, depende tanto de quem as colhe
quanto de quem as faz; que os marajás com seus “reajustes” leoninos para
corrigir inflações que não há estão ficando cada vez mais ricos e o Brasil,
cada vez mais pobre; que a reforma dessa mamata está cada vez mais longe e os
impostos, cada vez mais altos; e que as instituições democráticas estão mais
arrebentadas a cada minuto que passa.
Muitos políticos merecem o que
estão recebendo, mas o Congresso é só a ponta mais televisionável do longo
mergulho do Brasil inteiro na permissividade. Fingir que não era essa a regra
pela qual todos jogaram não vai nos levar a nada de bom. A alternativa possível
é construirmos pela e com a política que ainda podemos eleger e deseleger a
cada quatro anos uma saída para reformar o País, em vez de atirar (ou não) em
pessoas. Oferecer a quem quiser aderir ao Brasil a oportunidade de
comprometer-se com uma nova regra do jogo a ser “apitada”, daqui por diante,
diretamente pelos eleitores seria um tipo de contrato com garantia de execução.
Mas, abandonados à vingança da vingança da vingança, como vamos, seguiremos nos
entredevorando ao sabor de um jogo que, definitivamente, não é o nosso.”
-----------------
AGD comenta:
Sem comentários
Nenhum comentário:
Postar um comentário