Por Diretor Presidente (*)
Infelizmente, como já disse, não
pude assistir ao desfile de 7 de setembro, completo. Cheguei muito cedo, ouvi
alguns exaltados oradores, e um pouco de nossa maçonaria, que se não me falha a
memória é Segredo e Caridade. Tirei também algumas fotos e tive que partir para
o bairro de São Rafael, onde encontrei o Seu Salviano, cuja conversa, contarei
outro dia.
Durante o pouco tempo que lá
estive, deu para notar certas coisas que merecem ser comentadas e, se possível
explicadas. Quanto ao número de pessoas presentes não é possível fazer uma avaliação,
pois o desfile ainda nem havia começado. Apenas as solenidades de praxe, como
hasteamento da bandeira, discursos e saudações. Deu para ver, entretanto que o
pequeno público daquele momento, se mostrava interessado no que acontecia, e
deveria estar lembrando do último ano, quando alguém falou sobre as margens do
Riacho Ipiranga onde D. Pedro proferiu as palavras mágicas, que tornaram o
Brasil independente: “Abra Cadabra!” E então nos tornamos uma grande e rica
nação. Óbvio, como qualquer mágica, só dura o tempo de chegar algum Mister M, e
descobrir seus segredos.
Eu estava ali e lembrei agora que
o D. Pedro I era maçom. Todos sabem que ele teve bastante influência da
maçonaria, e dela fez parte, desde foi proposta sua iniciação pelo José
Bonifácio de Andrade e Silva, que era o Grão-Mestre da Ordem do Grande Oriente
do Brasil, em assembleia realizada no dia 13 do 5º mês maçônico do Ano da
Verdadeira Luz, 5822, que em nosso calendário corresponde ao 02 de agosto de
1822. Conta ainda a nossa história, através do registro de ata desta sessão,
que foi “aceita a proposta com unânime aplauso, e aprovada por aclamação geral,
foi imediata e convenientemente comunicada ao mesmo proposto, que se dignando
aceitá-la, compareceu logo na mesma sessão e sendo também logo iniciado no
primeiro grau na forma regular e prescrita na liturgia, prestou o juramento da
Ordem e adotou o nome heróico de Guatimozin”. Em outra sessão, do dia 5 de
agosto, Guatimozin recebeu o grau de Mestre Maçom.
Em uma ata posterior, do dia 17
de junho de 1822, menciona-se que a Assembléia decidiu ser imperiosa a
proclamação da independência do Brasil e da realeza constitucional, na pessoa
de D. Pedro. Mostra, também, que o dia da sessão, 20º dia do 6º mês maçônico do
Ano da Verdadeira Luz de 5822, era o dia 9 de setembro. Isso porque o Grande
Oriente utilizava, na época, um calendário equinocial, muito próximo do
calendário hebraico, situando o início do ano maçônico no dia 21 de março
(equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era
Vulgar. Desta maneira, o 6º mês maçônico tinha início a 21 de agosto e o seu
20º dia era, portanto, 9 de setembro, como diz o Boletim de 1874. Muitos ainda
confundem esta data com 20 de agosto, que é Dia do Maçon no Brasil, mas isto é
um erro histórico, embora não esconda o fato de que a Maçonaria atuava
ativamente na direção da independência, particularmente através do Grão Mestre
José Bonifácio e do Primeiro Vigilante, Ledo Ivo.
Tudo isto é para mostrar que o
Blog da CIT também é cultura, e comentar o nosso grande desfile, explicando
porque a maçonaria é tão prestigiada neste evento, além de sua importância
histórica em nossa cidade.
Eu, me considero quase um maçon.
Pois passei alguns dos melhores anos de minha vida tentando desvendar seus
segredos e mistérios que povoavam nossa imaginação infantil, minha e de meus
companheiros da Rua da Cadeia, onde tivemos por vários anos a sede da Loja
Maçônica Segredo e Caridade. Nossa atividade principal da época, “jogar bola”,
tinha seu lugar principal em frente ao prédio, que era prá lá um pouco da casa
de D. Noca, também famosa por ter recebido o Waldick Soriano. Além disto,
lembro bem, a entrada era pelo oitão do prédio, onde havia uma porta onde
cometíamos todos os pecados possíveis e imagináveis, em pensamentos, palavras e
obras. Se aquela porta falasse, os segredos de nossa maçonaria não seriam
tantos quantos aqueles que seriam revelados pela nossa turma.
Atrás do prédio, onde havia um
terreno de onde avistávamos o Colégio N. S. do Bom Conselho, estava o palco sem
cortinas de nossas brincadeiras de caverna, bandido e mocinho e outras, menos
inocentes, que nós inocentes crianças cometíamos. Mesmo tentando olhar para
dentro da maçonaria, quando havia reuniões, através da fresta da porta, nunca
foi possível descobrir se era verdade que os maçons quando se reuniam matavam
um bode preto, ou alguma criança xereta. Só os mais corajosos se arriscavam a
olhar. Um deles, que era tão corajoso quanto mentiroso, por isso não posso por
a mão no fogo por ele, mesmo sendo meu amigo, disse que, quando olhou, só viu
um jato grande de sangue jorrando de um vaso. Eu fiquei apavorado, pois naquela
época, por terem sido acusados pela Igreja Católica de terem matado o D. Vital,
estas duas instituições viviam como cão e gato. Hoje eu não sei se podemos
convidar para a mesma mesa o Dr. José Tenório e o Monsenhor Nelson. Naquela
época isto seria impensável.
Só sei que o desfile foi muito
bonito, e pedimos ao nosso colega Jameson Pinheiro, para fazer um filme do
evento, e usamos algumas fotos do SBC, pois o Saulo, seu administrador, nos
horários de folga do seu novo cargo, de secretário de controle interno, ou
através de terceiros, nos atendeu e o site voltou a cumprir sua grande missão
de divulgação de nossa terra, pelo menos iniciou, ao que todos agradecemos.
Tenho certeza de que com esta nova responsabilidade, sua protuberância
abdominal diminuirá bastante, e o terno de Antônio da Tupi (ou seria de Seu
Genésio?), começará a lhe cair melhor.
Este texto não ficaria completo sem
mencionar minha satisfação em rever pessoas com as quais convivi e ainda
convivo, como José Maria Pereira de Melo, Arnaldo de Naduca, que conheci ainda
menino, dando trabalho aos professores do São Geraldo, Dr. José Tenório, que
tinha um irmão mais novo que a turma chamava de Fernando Oião, não sei porque,
onde estará ele? Neinha, de cuja voz, nos próprios desfiles de sete setembro,
jamais esquecerei. O Paulo Luna, que já comprou seu caixão, segundo li em algum
lugar, se não for verdade, me desculpe, mas se for verdade, digo, pelos
exemplos que tenho, que a melhor forma de não morrer é comprar o próprio caixão
ou a própria mortalha. Eu já encomendei minha urna, pois vou ser cremado. Exigi
apenas que tivesse gravado nela uma imagem da Serra de Santa Terezinha, e que,
quando minhas cinzas forem jogadas no Açude da Nação, poupem a urna, e a
coloquem lá na Ermida, juntinho do retrato de Padre Alfredo. Estarei mais perto
do céu.
Antes de terminar, houve uma
coisa neste desfile que não entendi: O que faziam as mulheres garbosamente
vestidas que desfilavam com a Maçonaria? Pelo que me consta, maçonaria e
mulheres eram incompatíveis. Vou perguntar a Lucinha para ver se ela está
sabendo de algum avanço nesta área.
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(*) O texto acima foi
originalmente publicado no Blog da CIT (aqui)
(Zé Carlos – Administrador da
AGD)
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