“O custo dos vereadores
O Estado de S. Paulo
Um estudo da Confederação das
Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) mostra que quase 20% dos
3.762 municípios que prestaram contas ao Tesouro em 2016 e 2015 gastaram mais
com seus Legislativos do que arrecadaram como receita própria. Assim, em razão
das despesas com as Câmaras Municipais, essas cidades dependem exclusivamente
das transferências constitucionais para financiar serviços básicos.
Considerando-se que 1.807 municípios nem sequer prestaram contas ao Tesouro, o
que autoriza presumir que sua situação econômica seja ainda mais precária,
tem-se um quadro de total desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal e à
própria Constituição.
Com a intenção de descentralizar
a administração, a Constituição de 1988 conferiu aos municípios um papel
relevante na execução de políticas públicas. Esse novo status deveria fomentar
o exercício da autonomia do município, mas o que se observa, diante da
irresponsabilidade de muitos prefeitos e vereadores, é uma crescente
dependência dos repasses da União – isto é, de recursos de contribuintes de
outras cidades e Estados –, que deveriam servir para equilibrar as
desigualdades regionais. Mais uma vez, assiste-se à transformação de um
dispositivo constitucional em letra morta, algo bastante comum em um país onde
se aceita candidamente o fato de que há leis que “pegam” e leis que “não
pegam”.
No caso dos municípios, a lei,
obviamente, não “pegou”. Nem se está falando, aqui, dos municípios que deveriam
prestar contas e não o fizeram, pois a ausência de dados impede um exame mais
acurado. Basta fixar-se nos municípios analisados na pesquisa da CACB, que
levou em conta apenas os gastos com as Câmaras.
O levantamento mostrou que, nesse
universo, a receita própria média per capita dos pequenos municípios equivale a
23% da receita dos grandes municípios, mas a despesa legislativa média per
capita dessas pequenas cidades é 70% maior do que a das grandes.
Dentre as despesas, destaca-se o
pagamento de salários aos vereadores. Uma amostragem dos municípios
pesquisados, com cidades de todos os tamanhos e em todas as regiões, mostra que
esse gasto representa em média 38,7% das despesas legislativas totais; já nos
municípios de até 50 mil habitantes, esse porcentual chega a 59%. O
levantamento mostrou, ademais, que o número de vereadores eleitos aumentou
11,8% nas três últimas eleições, enquanto a população cresceu apenas 7,2% no
período.
A CACB sugere que se limitem os
gastos dos Legislativos municipais apenas às receitas geradas pela própria
prefeitura, isso é, sem levar em conta as transferências constitucionais, como
é hoje. O objetivo seria gerar uma folga de caixa para que as transferências
cumpram sua função, isto é, sejam usadas para promover o desenvolvimento dos
municípios com menos recursos, além, é claro, de bancar os serviços essenciais
à população. A CACB calcula que essa medida geraria uma economia de R$ 7,6
bilhões anuais, levando-se em conta somente os municípios pesquisados. Numa
projeção que inclui todos os municípios do País, a conta chegaria a mais de R$
11,3 bilhões.
Há municípios que não geram
receita própria suficiente para cobrir os gastos com as Câmaras, tal o nível
que essas despesas atingiram. Para esses casos, a CACB sugere que se transforme
o trabalho do vereador em atividade voluntária. A Constituição já prevê, em seu
artigo 38, que aqueles que se elegem vereadores podem continuar com suas
atividades profissionais, inclusive recebendo salários, desde que haja
compatibilidade de horários. Ou seja, é perfeitamente aceitável que a vereança,
nas cidades pequenas, seja remunerada apenas com alguma ajuda de custo, uma vez
que não se exige muito dos vereadores, chamados em geral para aprovar o
orçamento do município e uma ou outra lei. O resto do tempo, como se sabe, é
dedicado a aprovar nomes de rua, algo cuja importância não justifica tamanho
sacrifício do contribuinte.”
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