Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho
Diariamente pela manhã logo cedo ao acordar já com o sol entrando pela janela ela, se espreguiçava, passava as mãos pelos cabelos compridos enlaçando com as mãos fazendo um cocó. Olhava ao seu redor, a cama desfeita pela inquietação da noite, com sonhos audaciosos, abraçada ao travesseiro seu companheiro fiel de confidencias, enrolada num lençol cor de rosa. Calçava a chinela macia, a camisola branca aberta pelo meio, observando as suas pernas e seu colo branco. Andava pelo quarto de um lado para outro. Ia até a janela, o céu azul era convidativo para sair correndo pela relva ainda molhada pela madrugada, subindo na goiabeira cheia de frutos amarelinhos. Ria, sorria naquela manhã bela, e se perguntava o que fazer? Eram férias escolares, descansava. Via o lenhador, cortando lacas de madeira, o leiteiro acariciando o focinho do seu jumento entregando leite na casa de Dona Zefa, seu Marcolino já sentado na calçada em um tamborete fumando o seu cigarro de palha apanhando o sol da manhã enquanto seu vizinho Josué vinha ao seu encontra para o papo corriqueiro. Saia para tomar o café matinal com a chamada de Dona Benedita. Ela ali ouvia o sino da Igreja de São José já tinha dado a sua hora da missa matinal do Padre Joaquim. Eram assim todas as manhãs ao acordar na Vila São Miguel, interior baiano. Depois ia até o espelho grande instalado do lado e ali se despia devagarzinho gozando de sua beleza, se orgulhava do corpo belo e pele morena e perguntava: espelho, espelho meu existe mulher mais bonita do que eu? Contorcia sorrindo olhando languidamente pelo seu belo corpo ali somente apreciado por ela. E, repetia, levando os braços até em cima da cabeça e repetia rodopiando no assolho de cimento queimado, olhando sorrindo para o espelho, e perguntava: espelho, espelho meu existe mulher mais gostosa do que eu? Ficava ali alguns minutos, se olhando, se admirando e que gostaria de compartilhar aquela bela figura com o seu namorado. Refletia a todo instante este desejo. Não tinha coragem, mas quem sabe um dia eu farei isto. Mais ao mesmo tempo ficava indagando-se – como será a sua reação? Volúvel! Escandalosa! Sem vergonha! Sem caráter! Tudo lhe passava pela cabeça. Mas és somente tu que me vês assim! Namorava Norberto, um homem já calejado na vida, mais velho do que ela, mas a idade não tem problema, pois o amor na escolhe idade e sim a pessoa que ali se apresenta. Assim ela pensava noite e dia. Já amanhecia pensando nele, indo para escola no tempo escolar, o que já sentia saudades deste momento caminhando para escola encontrando na volta o seu amado, ou mesmo quando encontrava a noitinha para o bate papo amoroso. Alguns beijinhos saia escondidos e alguns apertos na parede do terraço acontecia com a lua no céu azul claro como testemunha. Somente isso, e nada mais. Bem que queria algo mais. Mas, não sai da sua cabeça o intuito de mostrar ao namorado a sua bela imagem nuazinha, como nasceu. Aquele pensamento e vontade martelava sua cabeça, até que um dia resolveu presentear a sua imagem para o seu amado. Prostrou-se como fazia toda manhã de frente para o espelho e ali começou a se fotografar em pé do jeito que veio ao mundo. Cada pose, cada momento ali se fotografando já se via acariciada pelo amado. E, assim conclui o seu desejo. Se, pois a pensar como agir, se mandaria ou retinha consigo aquele desejo. Pensou, avaliou durante alguns dias a sua decisão. Mandava ou não mandava? Mandava, e assim o fez. Casaram-se depois, sem tocar neste assunto passado, mas as fotos ficaram guardadas e um belo dia foi descobertas pelas suas concunhadas que se horrorizaram com aquele gesto e ai começaram as fofocas que aborreceram Amelinha. Ignorou as conversas, pois, seu intento já foi realizado.
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