Por Zezinho de Caetés
Bem, ontem seria o dia D da Lava
Jato, com a promessa do sorteio do seu novo relator. E eu, este brasileiro
otimista, fiquei a tarde toda esperando o “globo”
e as “bolas”, mas, no final das
contas nenhum nem outro.
Houve apenas uma sessão em
homenagem ao Teori Zavascki, que, lá onde estiver deve estar dizendo: “Deixem de mimimimi e prendam logo o Lula!”.
O que?! O que se viu foi a velha desculpa da presidente dizendo que cancelou o
convite ao Temer e aos outros poderes da República, para ser uma homenagem mais
íntima, e que tudo continuaria amanhã.
E o ano começou para a justiça
brasileira. Primeira coisa que vi foi o Gilmar Mendes salvar o Renan Calheiros
ao pedir vistas no processo, já resolvido, que proíbe a presidência dos poderes
para quem é réu. Se o processo tivesse terminado, nem a última sessão de sua
presidência o Renan poderia presidir. Já começou mal a justiça. Ou melhor,
depois da morte do Teori, continuou mal.
E o outro evento do dia, a
eleição para presidência do Senado, não deu outra, o Renan venceu outra vez.
Aliás, do jeito que ele vem vencendo eu não sei por que o Temer não formaliza
logo e entrega a presidência da República a ele. Seria mais transparente.
Não tem outra conclusão para os
males do Brasil: “É a política, estúpido!”,
parafraseando aquele americano que ficou famoso por ter chamado seus compatriotas
de estúpidos. Ou o Brasil faz uma reforma política séria, ou a política engole
o país.
Eu não chegaria a propor a volta
da Monarquia, por falta de reis confiáveis. Mas, por que não um parlamentarismo
à brasileira, onde o Primeiro Ministro seria escolhido fora da classe política?
Não, o Eike não! Que tal um religioso? Não, o Edi Macedo não! Este é mais político do que os políticos
atuais. São só sugestões de quem está perdido e usa a jocosidade para a vida
não ficar tão monótona.
Mas, o Pedro Simon seria uma boa.
E digo isto porque ontem vi uma entrevista antiga dele, e que parecia, mutatis mutandis, que foi na semana
passado. Tudo de ruim que ele descobriu na política brasileira, no seu longevo
tempo de político praticante, continua aí. Conchavos, conchavos e conchavos. O
que seria bom se os conchavos não fossem para atacar o erário em causa própria.
No entanto, temos um novo
presidente do Senado, que também é citado nas planilhas da Odebrecht como o “Índio”
(Um delator premiado diz que ele recebeu propina da Odebrecht para influenciar
um MP de interesse da empresa). Quem sabe, mudando a etnia a coisa não melhore?
E o que mais me comoveu na eleição foi aquele clima de “já sei o que vai acontecer” inclusive no discurso do candidato de oposição,
o Senador José Medeiros. Meu Deus, a política está se tornando a arte da
enganação, o que sempre foi, mas era pelo bem público.
Pelo menos a eleição serviu para
mostrar que o PT abandonou seu discurso de que houve um “golpe” no Brasil, se aliando para votar no “Índio”, com a raras exceções
do Gleisi Hoffman, Lindberg Farias e Fátima Bezerra, ou seja, os que ainda esperam a volta do Lula.
Triste fim do Quinteto Abilolado. Pois até a Vanessa Graidiotin também votou no
vencedor. Ou seja, Dilma perdeu o discurso.
E no judiciário, estamos
esperando o Bingo para hoje, onde
será conhecido o substituto do Teori. E ontem, li a respeito de como se faz o
sorteio do STF. É através de um programa de computador, que se supõe gerar
números aleatórios. Eu fico logo pensando, o que pode ser aleatório no Brasil
além do Jogo do Bicho. Será que vai dar Macaco?
E para que nossos leitores fiquem
mais informados ainda, eu transcrevo um texto do Carlos Alberto Sardenberg (no O
Globo de hoje), intitulado “Pela
economia, ok. Já na política...”, onde ele mostra, com palavras mais
técnicas, que poderemos até sair do buraco pela Economia, mas, a Política torce
contra. Ou seja, repito: “É a política,
estúpido!”.
“Deixemos a política
provisoriamente de lado e olhemos os números da economia, aqui e lá fora. O
resultado, já adiantando, é claro: 2017 será melhor que o ano passado, isso
querendo dizer mais crescimento por toda parte, em ambiente equilibrado. Vale
para o Brasil e para o mundo.
Os Estados Unidos terminaram o
ano passado em aceleração e devem seguir assim ao longo de 2017, com um PIB um
ponto acima do resultado de 2016. Pouco? Pois coloque 1% sobre uma economia de
US$ 18,5 trilhões. Dá um bocado de produto.
Inglaterra ainda cresce mais de
2% anuais. Os países do euro e até o Japão aceleraram no fim do ano passado. A
China vai garantindo a expansão dos seus 6,5%, e os emergentes em geral
ganharam mais condições com a alta e depois estabilização dos preços de
commodities.
Tudo somado e subtraído, o PIB
mundial pode crescer 3,5% neste ano, meio ponto acima de 2016.
E o Brasil? Também está melhor.
Verdade que depois de dois anos de recessão, com uma queda do produto acumulada
de quase 9%, qualquer coisinha já é melhor. De todo modo, há quase um consenso
de que o país volta a crescer, acelerando moderadamente no segundo semestre,
podendo chegar ao final de 2017 com uma expansão do PIB entre 0,5% e 1%. A
inflação está desabando, pode cair ainda mais, o que significa que os juros vão
cair mais e mais depressa — dos atuais 13% para 9,5% em dezembro.
Isso explica a melhora nos
índices de confiança medidos pela Fundação Getulio Vargas. Esses índices
chegaram ao fundo do poço durante o processo de impeachment, passaram a se
recuperar com a troca de governo, tiveram uma pequena queda em dezembro,
recuperada agora em janeiro.
Com base em entrevistas, os
índices procuram medir a disposição das pessoas nos diversos setores da
economia, consumo, indústria, comércio, construção e serviços. E separam a
percepção da situação atual das expectativas.
Por exemplo: os consumidores
brasileiros, em janeiro, deram 68,1 pontos na avaliação da situação presente,
mas 88,1 quando perguntados sobre expectativas para os próximos meses. Esse
padrão se repete nos demais indicadores: a situação hoje não é lá essas coisas,
mas deve melhorar.
Resumindo: os dados econômicos,
desemprego em alta, especialmente, e renda em queda, jogam para o pessimismo.
Inflação em queda, custo de vida mais comportado, juros desabando jogam para
uma expectativa realista de saída da crise. Com a ajuda da economia global.
Certo?
Certo até que se introduz o fator
político. Trump, por exemplo, pode iniciar uma guerra comercial e cambial
dentro do mundo desenvolvido e com a China, o que comprometeria o comércio
global e reduziria o crescimento mundial. Sem contar os rolos que o presidente
pode criar na geopolítica, com ameaças à segurança internacional.
A Inglaterra, a rigor, ainda não
iniciou o Brexit, mas o processo terá efeitos contracionistas.
Há eleições na zona do euro neste
ano — inclusive nos três grandes, França, Alemanha, Itália — com chances de a
direita nacionalista e antiglobalização ganhar ou ao menos impor partes de sua
agenda.
A registrar: nunca houve
prosperidade global em ambiente de protecionismo e guerras comerciais. Muito
menos quando isso é combinado com disputas geopolíticas.
E no Brasil, temos, claro, os
estragos da Lava-Jato. Quais efeitos negativos podem ocorrer para a economia?
O ponto principal está nas
reformas — previdenciária, trabalhista e tributária — sem as quais o Brasil não
tem como voltar a crescer de modo sustentado. As reformas dependem de ação
política do governo Temer e de suas bases no Congresso. Se a um dado momento,
todos ou, vá lá, muitos líderes estiverem mais preocupados em se livrar das
delações da Odebrecht, a tramitação das reformas fica prejudicada.
Por outro lado, a Lava-Jato não
tem dado trégua e, mesmo assim, o governo conseguiu avançar com as reformas e
outras medidas pró-recuperação, como a nova Lei do Petróleo. É o que precisa
manter, tocar as reformas mesmo em meio às investigações. E dar ênfase a coisas
que pode fazer sem o Congresso, como acelerar as concessões de obras públicas,
instrumento poderoso para novos investimentos.
Convém ressaltar: o principal
efeito econômico da Lava-Jato é positivo para o país. Trata-se de eliminar a
corrupção que compromete a produtividade da economia e desperdiça investimentos
públicos e privados.
Pode, porém, criar obstáculos no
curto prazo, na medida em que atinge políticos e empresários que estão operando
a economia. Paciência. Temos que passar por isso. O esforço deve ser o de
manter o ritmo de reformas mesmo no meio da confusão. O que pode ser feito, ou
só pode ser feito pelas lideranças que não estão na Lava-Jato.”
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