Por Zezinho de Caetés
Hoje, o analista político tem tantos assuntos para o seu
trabalho, que na escolha precisa pedir a ajuda dos universitários, tal qual nos
velhos programas de TV. Dilma sai ou não sai? O Lula vai preso ou na vai? O PT
explode de vez ou não explode? Quando o Renan será preso? E o Cunha? Quantos “baruscos” ficaram com o Lulinha? Etc.
Etc....
Para aliviar minha tensão da escolha, eu pego o primeiro texto
que encontro, faço um nariz de cera e o coloco para o julgamento dos leitores.
Estou apenas esquentando os motores, depois de um merecido descanso lá pelo
Agreste Meridional. Ainda estou um pouco “zen”.
Bati os olhos no texto abaixo, do Fernando Gabeira, que hoje não usa mais “sunguinha” em público, nem é mais do PT,
mas, continua um bom escritor (“Um cerco
de muitos anéis” – O Globo – 09/08/2015).
O mote do texto é mostrar porque a desculpa do PT para a
corrupção, de que todos foram corruptos, desde o Pero Vaz de Caminha, não está
adequada para o momento. Ele o faz quase criando um “corruptômetro” para
avaliar a grandeza, intensidade e consequências da corrupção, e conclui que,
por esta medida, o PT atingiu um grau tão alto que ameaça quebrar o aparelho de
medição.
Para vocês terem uma ideia, do que isto significa, basta dizer
que, quando usado o “corruptômetro”
num português, durante o descobrimento, quando ele ofereceu um espelho a um dos
nosso índios, o ponteiro não passou da marca 0, 005, quando o máximo que ele
atinge é de 120 unidades. No caso do PT, já está em 108,06, e a operação Lava
Jato ainda está no seu primeiro quarto.
Dizem que o “corruptômetro”
marca zero em alguns países, como a Dinamarca e só em países africanos ele
chega a 119. O Brasil, com a ajuda do PT, vai nos levar mais uma vez ao pódio da
corrupção internacional. Então se alguém pensava que o legado do Lula teria se
perdido, foi um engano atroz. Só com a corrupção medida no caso do petrolão,
que é de sua responsabilidade, já quase atingimos o maior nível da história.
É claro que o Lula jamais poderia ter feito isto sozinho, porque
houve uma grande ajuda do Zé Dirceu, e já comprovada (o que não é o caso de
Lula) porque ele já está preso. Então antes de passarem para o Gabeira, uma
pergunta que não quer calar é: Quando será que farão justiça ao meu conterrâneo
Lula, dando-lhe oficialmente o lugar que ele merece no panteão da corrupção
mundial? Ou seja, quando ele será preso, com todas as honras que o Zé Dirceu
teve? Estamos de olho!
“Estava na Lagoa da Confusão, na cidade do mesmo nome, em Tocantins.
José Dirceu foi preso. A televisão do quarto na pousada era cheia de chuviscos,
ruídos e fantasmas. Sobretudo fantasmas. Em aparelhos ainda do século passado,
acompanho no interior as operações da Lava-Jato. A julgar apenas pelo que vejo
nas telas sempre divido o número de presos por dois. José Dirceu preso. Ou foi
irmão preso? Ou ambos?
Vejo esses programas, às vezes, ao lado de cozinheiras, porteiros
noturnos, costumo ouvir essa frase: “eles roubaram demais”. É uma expressão
comum entre o povo e pressupõe que exista um nível tradicional, moderado e
regular de roubo com o que Brasil conviveu.
Vejo aí uma das razões do fracasso do PT ao se defender dizendo que não
inventou a corrupção pois ela sempre existiu na política brasileira. Isso é uma
espécie de senso comum. O que as pessoas acham é que o PT e aliados
ultrapassaram todos os níveis anteriores, fizeram da corrupção uma política de
governo, arruinando, simultaneamente, a credibilidade do sistema político e
empresas estatais.
Saí da Lagoa em busca de melhor contato com as notícias. Em Palmas,
descubro, diante de uma tela bem definida, que desemboquei num mar de confusão.
Está tudo desmoronando. Temer acha que o Brasil precisa de alguém que o lidere
na crise. Mas e a presidente para quem ele pediu voto? Ele queria dizer que
Dilma já era.
De Brasília, recebo mensagem de um deputado: PTB e PDT saem do bloco,
governo entrou em fase agônica. É a crônica dessa agonia que começo a escrever
ao som das panelas.
No seu patético programa, o PT nos tratou como os portugueses trataram
os índios. Estão unidos pela fé na imagem. Os portugueses deram espelhos para
os índios maravilhados. O PT nos ofereceu um espelho mágico: as pessoas batem
panelas vazias nas ruas, a superfície da tela reflete panelas cheias de
alimentos coloridos.
É uma estupidez política ironizar a opinião da maioria do país que os rejeita.
Marcham para um processo pessoal doloroso. Outro dia, o senador Delcídio do
Amaral foi vaiado numa casa noturna de Fomentera.
Não conheço o lugar, sei apenas, através da canção de Gil, que
Fomentera é uma ilha aonde se chega de barco, mãe. Delcídio foi celebrar num
lugar onde havia brasileiros. Isso no auge do escândalo na Petrobras. Gritaram
“ladrão” e sacaram os celulares.
Ainda é uma sorte frequentar lugares em que, ao grito de ladrão, as
pessoas sacam os smartphones. Em outros, sacam objetos mais contundentes.
O juiz Sérgio Moro bloqueou R$ 20 milhões de José Dirceu. Alô, alô,
velho guerreiro. Mais grana do que qualquer marechal.
Se roubassem por uma causa e adotassem o estilo de vida de José Mujica,
o ex-presidente do Uruguai, já seria condenável, pois seria uma opção
autoritária, ilegal e secreta.
Mas para desfrutar o estilo de vida da elite que tanto condenam é uma
opção de vida que merece um cerco de vários anéis, grades cada vez mais
próximas.
A vaia que Lula e seus amigos levaram no Copacabana Palace é um momento
cinematográfico. Escolheram os melhores quartos, mas não puderam ocupá-los
depois de ouvir os gritos na pérgola.
Não conseguem perceber os anéis do cerco. José Dirceu os viveu nos
extremos: preso em casa, terminou na cadeia.
Quando é que o PT vai fazer uma delação premiada? Mercadante desceu um
degrau na autoestima e reconheceu que o governo teve erros, como todos os
outros. É um pouco como dizer “errar é humano”. E para o Mercadante admitir que
é humano foi preciso a maior crise dos últimos 20 anos. Se as coisas se
agravarem, acabará admitindo que também é mortal.
Tudo bem, diria a cozinheira na Lagoa da Confusão: “Mas vocês erraram
demais, roubaram demais. Quando vão reconhecer isso, assumir as consequências?”
No dia 16 de agosto, o PT verá que o espelho não funcionou. Não há
marketing para a desgraça de um projeto político. Na minha experiência de queda
em trilhas e barrancos, ao senti-la inevitável, o melhor é cair com jeito. Dói
menos.
O PT aprendeu a derrubar, em 1989, precisa agora aprender a cair. A
melhor saída é a renúncia de Dilma, a menos traumática. É inacreditável que,
num momento agônico, ela ainda pense em governar por três anos. Não há espaço
para uma rainha da Inglaterra com o peso de tanta rejeição, cortando fitas
simbólicas ao som de panelaços.
O PT usou o programa de televisão pedindo juízo aos opositores. Nesse
mar de confusão, o que se espera é que o PT tenha juízo.
Mais uma vez as coisas podem não acontecer como espero. De qualquer
forma, continuo cantando na estrada: Cai, cai, balão. Eu não vou te segurar.
Cai, cai Dilma. Cai, cai Cunha. Cai, cai Renan, eu não vou te segurar.”
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