Por Zezinho de Caetés
Faz já algum tempo que não transcrevo textos do imortal
Merval Pereira. Não foi por discordância e sim por ausência minha. Ontem, no
Globo, num texto que ele chamou de “O
ocaso de Cunha”, ele faz considerações sobre o que acontecerá depois da
denúncia do presidente da Câmara, pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo
Janot.
Talvez seja este o fato mais importante desta semana tendo o
mérito de ofuscar as bobagens do Renan com a tal Agenda Brasil, e que,
dever-se-ia chamar de Agenda Renan. Afinal, só serve a ele mesmo, se alguém
acreditar que não está envolvido com a Operação Lava-Jato. E deixa no ar a
pergunta que todos fazemos: E o Renan, por que não foi denunciado?
Aliás, por que o Janot não denunciou outros envolvidos, que
é um argumento político para defesa de Eduardo Cunha? Inclusive, alguns sugerem
que também deveria ser denunciada, ou pelo menos investigada mais a fundo, a
Dilma, sem querer falar do Lula, que já tem trabalho demais para brigar como o
“pixulula”.
De uma forma ou de outra, o mundo político pós-denúncia,
mesmo não significando o “ocaso” do
Cunha, pelo menos alguma sombra pairará sobre sua figura pública. Afinal a
acusação é que ele manipulou, nada mais nada menos do que 5 milhões de dólares (embora digam que é mais).
Se, pelo menos fosse em real, eu tentaria entender, mas, com a moeda americana
nas alturas, eu desisto. É muito “pixuleco” para o meu bestunto.
No entanto, eu suponho que, antes do “ocaso”, o presidente da Câmara pode fazer muitos estragos ao
governo Dilma, e como eu acredito que Dilma não é a solução, e sim o problema
para o Brasil, qualquer ajuda será bem-vinda para apeá-la do poder, dentro da
lei e da ordem constitucional, onde se enquadra o impeachment, como comprovou o
próprio PT quando defendia o de Collor.
A oposição, à qual parece que o PSDB se juntou recentemente,
depois de ouvir os gritos das ruas, já está se reunindo para propor o impeachment,
que, se Cunha não renunciar, vai depender muito dele. Que não renuncie,
portanto! E depois do impeachment pode ser preso também.
Fiquem agora com o Merval, e tenham um bom e reflexivo final
de semana.
“A partir da denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot,
ao Supremo Tribunal Federal, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, o que deve acontecer ainda hoje, o deputado Eduardo Cunha passará de
todo-poderoso líder político a investigado na Operação Lava-Jato, o que lhe
retira boa parte do poder que esbanjava.
A concretização da acusação fragilizará a posição de Cunha, que
enfrentará necessariamente um movimento dentro da Câmara pela sua renúncia ao
cargo. Provavelmente ele ainda tem uma
maioria que o apóia, mas ficará exposto à execração de um grupo político suprapartidário
que tirará de seus atos a legitimidade.
Se como conseqüência de sua denúncia Cunha acelerar o processo de
impeachment contra a presidente Dilma, por exemplo, ficará do ato a suspeita de
que se trata de uma retaliação pessoal.
Eduardo Cunha tentou nos últimos dias vários movimentos para reverter
sua situação e pelo menos retardar o processo contra si, todos infrutíferos. O
ministro Teori Zavascki, que é o relator da Operação Lava-Jato no Supremo, não
aceitou os argumentos da defesa de Cunha para retirar da Justiça Federal do
Paraná a investigação sobre os contratos de navios-sondas pela Petrobras com a
Samsung, pelos quais, segundo delação do empresário Júlio Camargo, Cunha teria
recebido propina de US$ 5 milhões.
Nesse mesmo processo, Cunha é acusado de ter usado sua influência política
para chantagear a Samsung quando a empresa coreana desistiu do negócio. A
Procuradoria-Geral da República, investigando o caso, descobriu que saíram do
computador da presidência da Câmara textos de projetos que prejudicariam a
Samsung, apresentados por uma deputada ligada a ele.
O Procurador-Geral Rodrigo Janot por duas vezes pronunciou-se sobre
acusações de Cunha contra a ação de investigação, uma ao Supremo Tribunal
Federal e outra à própria Câmara, respondendo a questionamento do deputado do
PSOL Chico Alencar. Nos dois casos,
Janot acusou Cunha de usar a Câmara em seu benefício próprio, sendo acionando a
Advocacia Geral da União (AGU) ou acusando os Procuradores de terem invadido a
privacidade dos 513 deputados federais para investigar Cunha.
Alguns parlamentares já preparam o pedido de investigação de Cunha pelo
Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, o que pode, em tese, resultar
na perda de seu mandato. O hoje presidente do Senado, Renan Calheiros, já teve
que renunciar ao cargo quando uma denúncia contra ele foi levada ao Conselho de
Ética. Cunha garante que não renunciará, mas o futuro a Deus pertence.
Mesmo que o movimento seja
incipiente no momento, Cunha hoje está isolado politicamente e é provável que
passe a ser um fardo muito pesado para ser carregado por seus aliados, que lhe
devem favores mas não lealdade. Sua teoria da conspiração de que o governo,
mancomunado com o Procurador-Geral da República, montou toda a denúncia contra
ele e protegeu políticos que estão aliados ao governo num “acordão” para salvar
a presidente Dilma – referência indireta ao antigo aliado Renan Calheiros – não
tem base real nem fôlego para motivar a oposição a apoiá-lo, nem vai emocionar
seus aliados.
Tanto ele quanto Calheiros montaram inicialmente uma estratégia de
proteção, depois de surgirem na lista de Janot de investigados. Os dois tiveram
um ativismo político para protagonizarem as ações no Congresso e se passarem
por vítimas caso fossem denunciados. No momento da denúncia, Cunha não tem
histórico político para se apresentar como vítima de um governo corrupto, e
Renan mudou a aposta, mas não é certo que escapará do Ministério Público.”
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