Por Zezinho de Caetés
Hoje não amanheci bem, e nem iria enviar nada para
publicação nessa distinta AGD. Entretanto, li o artigo, no Blog do Noblat, de
Ruy Fabiano (“Lula, Lênin e a Petrobrás”),
e não aguentei.
O cerne do texto é a pergunta que ele faz: “Onde foram se meter os 88,6 bilhões de reais
que a Graça Foster admitiu oficialmente, que era uma medida por baixo da
safadeza que se cometeu com na Petrobrás nos últimos anos.?”
Eu adoraria que ele tivesse sido doado pelo meu conterrâneo
Lula para erguer nossa Academia Caeteense de Letras, e tomar posse logo na
cadeira 13 que estaria esperando com ele, mesmo contra a vontade do Rafael Brasil.
E agora, depois do câncer, que ele começou a ler muitas biografias, e que já
consegue ditar pelo menos um livro (pois escrever, dizem que ele ainda não vai
além do nome), isto seria de se esperar.
Então resolvi transcrever o texto do Ruy, para enfatizar e
jurar que não recebi nada do montante roubado e, portanto, não me acusem de
nada. Se o meu nome aparecer em alguma delação premiada, eu já antecipo que
estou mais inocente do que o Lula e a Dilma, pois não sei de nada, e ponto
final. Fiquem com o Ruy e meditem no fim de semana.
“Até aqui, quando se aborda o escândalo da Petrobras, pergunta-se quem
a roubou, quanto e como o fez. A resposta é parcialmente conhecida: o achaque
teve o PT no comando, coadjuvado por seus aliados PMDB e PP, e a quantia chegou
à estratosférica casa das dezenas de bilhões.
Conhecem-se alguns operadores, empresários cúmplices e os nomes de
agentes públicos (parlamentares, governadores, ministros etc.) citados nas
delações premiadas. A lista oficial, a ser divulgada pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, está sendo aguardada para os próximos dias.
Não se sabe se virá como denúncia ou pedido de abertura de inquérito, o
que fará toda a diferença. Se denúncia ao STF e STJ (para o caso de
governadores), os citados viram réus; se inquérito, o rito pode ser longo e
diluir-se no tempo.
O prejuízo, no balanço não auditado da empresa, tem cifras oficiais: R$
88,6 bilhões. A ex-presidente Graça Foster disse que foi o que se pôde apurar,
mas, aprofundando-se as investigações, “certamente é mais”. Alguns argumentam:
mas nem tudo aí é roubo; há também o fator incompetência, incluso na mesma
rubrica. Tudo bem. Digamos, então, num raciocínio pra lá de moderado, que o
fator roubo seja um quarto daquele valor: R$ 22,1 bilhões. Ainda assim, é
dinheiro demais, que excede enormemente ambições pessoais e necessidades
partidárias.
E aí entra em cena a pergunta que ainda não se fez, mas que
inevitavelmente se fará: para onde foi essa grana? Escondê-la é impossível;
fragmentá-la de modo a diluir sua rota parece além do talento mesmo de doleiros
experimentados.
Outra coisa: como recuperá-la? O ex-gerente Pedro Barusco se dispôs a
devolver a parte que lhe coube: US$ 100 milhões (R$ 280,8 milhões ao câmbio de
hoje). Considerando-se o seu grau hierárquico, é possível especular quanto
coube aos de cima.
E quem são os de cima? Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento
– que detalhou os percentuais que cada partido da base recebia -, disse que se
situava no nível médio. E que respondia a gente bem mais graúda. Alberto Youssef
garantiu que Lula e Dilma eram os graúdos maiores: sabiam de tudo.
Lula e Dilma negaram a acusação, mas, por ato falho, já a confirmaram.
Dilma, ao comentar o rebaixamento da empresa pela consultoria Moody’s,
considerou-a “desinformada”, o que sugere que ela, presidente – e ex-ministra
das Minas e Energia, ex-presidente do Conselho Administrativo e ex-chefe da
Casa Civil -, tem informações que aqueles consultores não têm. Lula, no
espantoso ato de “defesa da Petrobras”, na sede da ABI, no Rio, na terça
passada, se disse informadíssimo, o que ninguém duvida.
Palavras suas: “Fui o presidente que mais visitou a Petrobras; tenho
mais camisas da Petrobras que o mais velho funcionário da empresa. Fui o
presidente que mais inaugurou plataformas”. Ora, com tamanha intimidade com a
estatal, e tendo nomeado toda a sua diretoria, seria surpreendente que não
estivesse a par de tudo o que lá se passava. Tudo.
Não há como sumirem bilhões e bilhões sem que sejam percebidos, sem que
uma rede ampla e sofisticada estivesse em ação. E como uma rede dessa, montada
pelo presidente da República - e que incluía aquela que viria a sucedê-lo -,
passaria despercebida a ambos? A resposta é desnecessária.
A metáfora do queijo, que ele evocou diante de uma militância
entusiasmada (“se o rato está acostumado a roubar um pedaço de queijo, que fará
diante de um queijo inteiro?”), equivale a uma confissão. E ainda: roubava-se
menos porque havia menos dinheiro; como entrou mais dinheiro na Era PT,
roubou-se mais.
Resta saber para onde foi esse dinheiro. Há especulações, que, de tão
inusitadas, evocam a clássica teoria da conspiração. Mas a própria cifra
envolvida, não constasse ela do próprio balanço da empresa, provocaria o mesmo
ceticismo. Ocorre que tudo nesse escândalo é inusitado, embora real. Fala-se,
por exemplo – e isso acabará tendo que ser apurado –, que parte dessa fortuna
teria abastecido os aliados do Foro de São Paulo, coadjuvantes do projeto da
Grande Pátria Socialista.
A Venezuela, por exemplo, sem dinheiro até para comprar papel
higiênico, renovou a frota de sua Força Aérea; a mesma Venezuela que, no final
do ano passado, por meio de seu ministro para Comunas e Movimentos sociais,
Elias Jaua, firmou convênio para treinar a militância do MST – “o exército do
Stédile”, que Lula quer ver nas ruas contra os “golpistas”.
Não se sabe se Lula conhece a palavra de ordem com que Lênin
impulsionava sua militância: “Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você
é”. Como não é exatamente um estudioso de História – e acha que, por aqui, o PT
a inaugurou – é possível que compense a ignorância com seu poderoso instinto
político. O certo é que, no ato da ABI, seguiu fielmente a lição de Lênin.
Acusou seus opositores de ter feito com a Petrobras tudo o que de fato
ele e o PT fizeram. E os xingou de golpistas. Nada menos. FHC comparou o truque
à ação de um punguista que, após bater a carteira da vítima, sai gritando “pega
ladrão!”. É por aí.”
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