Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
No alto do edifício, 12º andar, na pequena quitinete se
rebolava ao som da vitrola tocando um mambo. No meio da sala uma mesinha com
duas garrafas de cerveja e um litro de Rum Montilha limão e coca. Um pratinho
com tira gosto de queijo do reino e salame. Um maço de cigarros no chão junto
com uma caixa de fosforo. O odor de fumaça e as pontas do cigarro no cinzeiro expelia
o cheiro da nicotina, insuportável. Os
copos pela metade das bebidas ao lado do sofá. Lá de cima ela se debruçava na
janela via a paisagem da Avenida Conde da Boa Vista, tornando-se vazia. As
portas das lojas iam com o seu ruído se fechando e os funcionários cada um tomavam o seu rumo. Os ônibus paravam para apanhar os
passageiros. Na Rua Sete de Setembro, os camelos iam se juntando com barracas
de bebidas e petiscos enquanto os clientes iam se sentando nos tamboretes de
plásticos. Duas amigas faziam companhia na tarde do sábado. Tinham passado a
noite em claro, em companhia de alguns rapazes em um forro lá pra bandas da
Avenida Caxangá. Uma deitada no sofá, outra bebericava alguns goles do Rum com
gelo mexendo com o dedo que levava a boca. Sonolenta. Enquanto Lili se rebolava
de olhos fechados curtindo a musica e a tarde. Ela veio do interior do Estado
para estudar, queria se formar em Medicina, ser médica era o seu sonho. A
boemia não deixou. Começou a sair com algumas amigas percorrendo os bares da
cidade tomando uma e outras, Se envolveu neste modo de vida. As noites eram
para se divertir. Morava no centro do Recife, tudo era mais fácil, para
desenvolver estes prazeres. Às quatro e meia da tarde chegou dois rapazes que
tinham ficado com elas na noite anterior, dançando, se esfregando até o dia
amanhecer quando eles a deixaram na calçada do edifício. Foram recebidas com
alegria e entusiasmo, colocando já a bebida em dois copos que logo começaram a
beber. No entusiasmo o tempo foi passando e a bebida foi tomando conta da mente
de cada um. A noite chegou sem ser sentida pelos boêmios. Ninguém é de ninguém,
diziam. Vamos brincar até ao amanhecer. No domingo pela manhã já estava alguém
batendo na porta. Acordava com uma ressaca braba. Esfregou os olhos e lavou o
rosto na pia antes de atender. Vestida de peignoir branca transparente e com o cabelo
ainda assanhado. Quem será, indagou. Não é possível que eu não tenha sossego! Até
no domingo não tenho paz. Vão pra o inferno. Abriu a porta e deparou-se com um
policial civil pedindo para que lhe acompanhasse até a delegacia de Santo
Amaro. O que foi que eu fiz? Ficou pálida como já estava devido à farra feita
no dia anterior. O delegado lhe
dirá. Botou uma roupa mais decente e
seguiu o policial. Sentou-se e esperou ser chamada. Outras mulheres lá estavam
umas agredidas pelos companheiros, outras por causa das drogas, brigam entre
vizinhos, por ciúmes. Por mais de uma hora ela esperou. Já estava impaciente.
Mas o que fazer? Aguardar. Na presença do delegado, ficou assustada. Desejava
saber o tinha feito, pois passara à tarde todinha em casa, não saiu à rua e
porque estava na delegacia? A senhora veio até aqui, pois perturbou a
vizinhança onde mora, com musica alta e gritos histéricos de seus colegas, durante
a noite o que não pode. É um desrespeito. Existe a lei do silencio e é para ser
cumprida, entendeu? Mas seu delegado foi apenas uma comemoração do aniversario
de uma colega. Mas se for verdade esta versão, e as outras vezes que acontecem de
acordo com a denunciante? Estou lhe
advertindo da próxima vez, vai para o xilindró descansar e pensar melhor. Saiu
desolada, choramingando com um papel na mão. Lili não tomou jeito. Continuou
com as farras todos os sábados e domingo à tarde e muitas das vezes na semana.
Começou usar drogas e foi denunciada. A policia deu uma varredura na quitinete
e apanhou certa quantidade de cocaína e maconha. Foi detida com outros
companheiros levado para a delegacia e autuado por trafico de drogas levada
para Colônia Penal Feminina do bairro do Engenho do Meio. E farra terminou
ali....
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