Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Remexendo no baú antigo, encontrei um envelope com vários
retratos dos idos tempos de 60. Deparei-me com o meu retrato jovem envergando a
farda militar do exercito. Lá estava eu segurando um fuzil em frente do
alojamento. Lembrei-me que não queria servir o Tiro de Guerra da cidade de
Garanhuns, desejava ir mesmo para caserna na Capital. Viajei com este intento e
alistei-me no forte de Cinco Pontas e fui selecionado para a 2ª Cia de Guardas
na Rua Visconde de Suassuna. Apresentei-me e em forma no pátio do Quartel, ali
fiquei ansiosamente esperando se o meu nome seria selecionado para servir o
exercito. E fui. O anuncio feito pelo radio, confirmou à tarde. Recebi no dia
seguinte o fardamento e as exigências que seria submetido durante o tempo que
ali estivesse – cumprimento do horário, respeito pelos superiores,
comportamento fora e dentro do quartel e muitas outras obrigações que seria
atribuído durante o tempo do serviço militar, em caso contrario receberia
punições. Recebi o nome de guerra – José Antônio – Soldado 431. Este era o nome
e o numero oficial de caserna. Fui escalado logo para o rancho. Lavava centenas
de bandejas e limpava todo recinto onde os soldados faziam as refeições. Não
gostei da ideia. Queria mesmo era servir na tropa de frente e consegui junto ao
Tenente a minha transferência e fui transferido para o PPL, onde se cuidava do
armamento. Ali naquele ambiente, limpava e lubrificava as armas. Muitas vezes fui
acionado para tarefa de rua. Gostava da aula de educação física, marchas, corridas,
acampamento, sentinela. Fomos fazer um treinamento em Aldeia, reconhecendo o
terreno durante a noite sob uma forte chuva que fazia neste tempo, final do mês
de abril. Tive que me acostumar com a
rigorosidade do quartel. Obediência, sobretudo. O ambiente era ótimo, desde que
seguisse a normas. A saída à tarde, depois do expediente e ouvir a escala de
serviço para o dia seguinte, fazia-se fila na sala da guarda, onde o sargento
responsável verificava tudo, a farda bem limpa e calça com vinco, coturno
engraxado e brilhando, bibico bem conservado, barba feita e cabelo cortado,
caso não estivesse de acordo voltaria para o alojamento. O mais severo dos
sargentos era Agamenon, o homem era exigente, por qualquer coisa o soldado voltava
para refazer o solicitado. Ao sair muitos iam para suas casas e outros iam para
o Parque Treze de Maio, paquerar principalmente as empregadas domesticas, pois,
outras moças não olham com bons olhos os soldados do exercito. Às cinco horas
da tarde alguns voltavam para o “rancho”. A noite era para conversar, aqueles
que não estavam de “serviço”, da guarda, da faxina. O terceiro pelotão era
formado por soldados altos e fortes para o serviço de rua, quando necessário em
bares, prostibulo, por soldados de outros batalhões, que criava confusão.
Muitos deles tinham apelidos, como Papafigo, Da Mula, Frankenstein, Caveira,
Mula sem Cabeça, Moco Rango, Vira Copo e por ai vai. Em um dia fomos acionados para treinamento de
“prontidão” significava que todos os militares estavam atentos, do Comandante
da Cia ao soldado, ao ser chamado pela sirene. Trabalhamos muitos neste
treinamento, todos compenetrados nas instruções dadas pelos sargentos. Tínhamos
que ficar fardados durante todo treinamento que durou dois dias, roupa de
campanha, coturno, capacete, armas na cintura e fuzis preparados para qualquer
coisa que houvesse. Cinco minutos era o tempo para tomar banho e fazer suas necessidades fisiológicas. Ninguém sabia o que iria acontecer. Tínhamos
que ficar atentos e a qualquer momento sermos acionados pelo toque da
sirene. Tudo era treinamento. Na
primeira noite, fomos liberados depois do “rancho” ficaríamos a vontade, mas
fardado, apenas os botões do colete podiam ser aberto e os coturnos com o cadarço
afrouxado. Quando a sirene tocasse todos teriam que estar em forma no pátio,
imediatamente. Ficamos reunidos no salão do “rancho” entre cadeiras e mesas já
limpas. Existia um cabo que gostava de imitar as musicas de Ângela Maria, Núbia
Lafaiete. Interpretava muito bem estas cantoras populares. Incentivamos a
apresentação, para quebrar a monotonia do treinamento, puxado foi um sucesso
para todos que estavam tensos. Subiu em um elevado e com a voz fina começou a
cantar. As palmas ecoaram e assovios à noite. Começou – Esta noite / eu chorei tanto / sozinha e sem ninguém / por amor todo
mundo chora / um amor todo mundo tem / eu porem vivo sozinha / muito triste e
sem ninguém. A voz fina ecoava no recinto e todos os soldados assoviavam e
disseram – será que eu sou feia? – todos
respondiam – não é não senhor! Então eu sou linda / Todos respondia – Você é um amor – Então me respondam / por que razão / eu vivo só sem ter alguém –
Todos em alta voz cantavam – Você tem o
destino da lua a todos encantam e não é de ninguém. Ai algazarra tomava
conta de todos gritando bis! Bis! Bis! Anunciou depois de se curvar para plateia
barulhenta e disse - Agora a segunda musica é uma bem conhecida – e começou a
cantar lentamente – Coitado de você meu
ex-amor / de triste portador / quem foi que lhe magoou / Quem foi que lhe deu
tantos desgosto / Quem pôs rugas no seu rosto / E tanto lhe maltratou / Parece
que no seu itinerário / dos amores do seu rosário / só o meu amor restou. Malvadas,
mulheres sem coração / fizeram o meu ex-amor / aprender nova lição / Mas eu
farei das suas chagas cicatrizes / E ainda seremos felizes / pra viver nova
ilusão. Foi muita zuadas, palmas e assobios e em coro todos gritavam – mais
uma, mais uma, mais uma e fomos atendidos – Devolvi o cordão e medalha de ouro / E tudo que ele me presenteou /
Devolvi suas cartas amorosas / E as juras mentirosas / Com ele me enganou /
Devolvi a aliança e também o seu retrato / para não ver o seu sorriso / no
silencio / do meu quarto – Nada quis guardar como lembrança / pra não aumentar
meu padecer / devolvi tudo / só não pude devolver / a saudade cruciante / que
amargura o meu viver. As palmas ecoaram e sirene tocou às 22 horas todos
correram para pátio...
Em nossa 2ª Companhia de Guardas estavam presente três
conhecidos meus – o conterrâneo João Antonio do Amaral, bom-conselhense da
gema, e meus amigos José Alfredo e Zaqueu da cidade de Garanhuns.
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