Por Carlos Sena (*)
Escrever é por si só um ofício
difícil. Dos mais difíceis que conheço, principalmente porque se reveste de
aspectos que se inter-dependem. O primeiro deles é o domínio do idioma. Depois
a conexão do assunto com a realidade, não obstante o viés da criatividade
associado que se quer comunicar. Dominar esses elementos não é fácil,
principalmente quando o escritor se dispõe a escrever crônicas e poesias. Esses
dois gêneros da literatura, diferente do que se possam imaginar dependem pouco
da inspiração. O senso popular convencionou atribuir, principalmente à poesia a
inspiração. Pode-se construir um lindo poema com transpiração muito mais domine
com a inspiração. Simples: o poeta é um fingidor! O gênero crônica menos ainda
carece de inspiração, mas de capacidade aguçada de ver o fato de forma
singular. Todo mundo pode ver um acontecimento pelo seu lado obvio. Mas, ao
cronista compete mesmo descobrir o lado lúdico, jocoso, espirituoso do fato.
Mesmo o lado lírico, sarcástico, podem ser flagrados pelo cronista. Isso já
seria o suficiente para, igualmente, ser produto de muita transpiração.
Recorri à esse tema porque depois
de muita transpiração conclui o meu quinto livro CRÔNICAS IN BOX, POESIAS INOX.
Depois de muito trabalho garimpando os
rascunhos, revisando, reescrevendo, copiando e colando aqui e acolá - eis que
chegamos ao fim. Há quem chame um livro escrito de "filho". Discordo.
É mais fácil fazer um filho! Porque um filho se faz por si nos embalos da
natureza pródiga. Os pais que nos digam! Escrever com responsabilidade é uma
tremenda empreitada de coragem. O ato de escrever se embute de renúncia e
subordinação. Renúncia porque as palavras nos massacram, nos levam por caminhos
nem sempre desejados. Também nos libertam. Subordinação porque nós, escritores,
mais somos escriDores - tamanha é a nossa impotência diante do ofício.
Contraditório, mas é. No final a gente se sente "Deus". Porque
independente dos julgamentos nós conseguimos dominar as letras, transformá-las
em palavras e estas em frases e estas em crônicas, poesias, etc. Meu CRÔNICAS
IN BOX, POESIAS INOX é um pouco disso. Dupla responsabilidade: um livro de
crônicas e poesias na modalidade "dois em um". Assim, finalmente
conclui esse projeto. Em breve irei fazer o lançamento na modalidade também
"dois em um" em BomConselho e em Recife. Ufa! Alvíssaras, alvíssaras!
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 02/12/2014
Enfim, o poeta é um fingidor. E a poesia é ficção! - Que nem sempre ou quase nunca requer inspiração! - A crônica é fato. Mas precisa da arte, da maneira de saber contar o fato. - Não é só contar um fato como o fato foi. - Se o canário canta, o menino diz: - "O canário está cantando." Aí, o recado já foi dado. - Então, o cronista reúne os fatos relacionados ao cantar do canário. E faz a crônica. - Narra as circunstâncias do antes, do durante e do depois do cantar do canário. – ("Entrei pela porta da cozinha e vi o canário cantando. João estava pegando os arreios pra botar no cavalo e seguir para o pé da serra. E eu perguntei: João, para onde vai você tão cedo? Nessa hora chegou...") - E por aí vai. /.
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