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sábado, 27 de dezembro de 2014

A DOR DA VELHICE.




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Esta semana estive visitando uma senhora bastante querida. Encontro sentada em uma cadeira bem fofa e ela bem arrumada, no terraço. À tarde era convidativa pela brisa do mar que amenizava o calor sufocante.  Aos 90 anos ainda tem boa memoria e boa conversa e reconhece todos e se delicia quando chega um visitante. Ultimamente vem se cansando, declarou ela, estou no fim! Reconheço que a cada momento chega o final da vida aqui neste torrão belo, cheio de atrativos que muitos não reconhecem. As flores coloridas as arvores frondosas, os rios caudalosos, o mar com o seu verde oliva, o sol brilhante como ouro, a chuva e o orvalho quando vou me distrair pela manhã admirando tocando nas pétalas da rosa do meu jardim. Umedece a ponta do dedo e toco no rosto sentindo a frieza da manhã. A única cor que é perene é o azul do céu, ouvi dizer e depois nas minhas manhãs contemplo olhando para o alto. Contemplo-as e às vezes mesclada de nuvens branquinhas se mexendo e sinto na alma que é uma graça que Deus ainda esta me concedendo. Mas a solidão do dia a dia é que me torna triste e solitária. Sou realmente velha e já me acostumei com esta circunstancia que fomenta solidão em todos os viventes que atinge esta idade. Sinto saudade e esta não se afasta de mim um só momento, do meu querido Jonas, que comigo viveu perto dos sessenta anos de vida dois a dois. Morreu. É uma consequência da vida e aqui estou curtindo quando me sinto só, as boas recordações deste belo tempo. Hoje amanheci tristonha, mole, acabrunhada. A família, não me abandona, mas tem seus compromissos, os filhos trabalham, tem os seus lares, a sua vida e não podem estar presentes há todos instante, e isto me consola, pois a vida continua. Ontem por exemplo sofri ouvindo algumas melodias de tempos atrás, as de hoje eu não ouço por que não valem nada, é uma porcaria, falam somente de pornôfonia, não existe mais amor, afeição, romantismo como existia antigamente. Hoje me acordei recordando o tempo que era moça, quando viajava com o Jonas. Viajamos muito por estas terras brasileira desfrutando do belo que em cada lugar reservava para nós. Ficava feliz. Conhecer terra e costumes desconhecidos. Tagarelar com pessoas de outros lugares e obter sorriso que não estava acostumada ver. O tempo aqui sentado demora a passar. O relógio castiga e o seu tic tac ouço compassado no silencio da casa tão grande. As fotografias que estão estampadas na parede, e os portas retratos na cabeceira da cama me dão tristeza e melancolia. Mas vida é assim. Hoje vocês quebraram a monotonia que eu atravessava. Chegaram para bater um papo comigo, que Deus os abençoe. Menina me dá o remédio! Ele esta na gaveta do consolo no quarto! Gritou. Me trás também um copo d’água nem gelada e nem quente, ouviu? Tão vendo como é a vida do velho? É remédio pra lá é remédio pra cá e assim agente vai vivendo. Conversamos um bom tempo. Alguns sorrisos se sucederam. Comentamos que fomos ao Rio de Janeiro. Passamos quinze dias visitando os pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. Ela se animou e disse já fui muito ao Rio. Tenho filhos morando lá. Visitei o Cristo muita vezes. Gostava de ver a paisagem lá de cima. O bondinho era outra atração que gostava, não sei hoje, mas antigamente era uma subida maravilhosa. Copacabana quantas vezes fui passear no calçadão. Era um tempo bom que passei. Amanhã vou ao médico. À tarde. Não gosto de ir, sorriu. Mas vou ouvir o que ele tem a dizer. Eu já sei, repouso, já vivo repousando, tome os remédios na hora certa, eu já tomo, caminhe devagar pela casa, eu já faço todas as manhãs indo até o jardim para colher uma rosa para botar no jarro que fica na cabeceira da cama, não coma muito sal e nem coma coisa doces, isto eu já faço. Doutor Daniel eu quero o que senhor me diga o que eu posso fazer, pois, é o que falta o senhor me dizer, brinco com ele e vou embora com tantas recomendações medica – Até logo! Digo acenando com a mão e ele sorrindo repete o mesmo gesto.


Olho para o relógio. Marca cinco e meia da tarde. O céu esta escurecendo e a luzes já acesas no poste. Despedimo-nos ela diz tome um cafezinho e quando aparece para batermos um papo, muito embora o papo de velho seja sempre recordações e doenças para contar e ouvir. Sai olhando para ela sentada esperando que a moça venha lhe buscar para a ceia.

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