Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Tocou a campainha. Fui atender e deparei-me com
um papai Noel que não trazia presentes e sim a simplicidade de um cidadão
carente de tudo. Maltrapilho, esfomeado e com um olhar triste que dava dó. O
cabelo branco despenteado, barba pra fazer e uma dentadura faltando-lhe alguns
dentes. Compadeci-me daquele personagem parado ao meio dia, em sol escaldante.
Tristemente conversou sentado em um banco contatando-me a sua dolorida estória.
Enquanto isso lhe dei agua que bebeu sofregamente. Ofereci-lhe um prato
recheado para matar a sua fome naquele momento. É claro que é um paliativo para
a necessidade que ele necessita como tantos outros que peleja neste torrão
brasileiro, sem auxilio. Pois é meu
amigo, você foi a primeira pessoa que me atendeu nesta manhã. Já bati em
algumas casas mais o povo me repele como se eu fosse ladrão ou um doente
contagioso que transmitisse doenças. Nada disso sou uma pessoa pobre, mas
honesta. Nunca roubei apenas peço a caridade das pessoas, se doar alguma coisa
agradeço, caso contrario agradeço da mesma forma, pois deu atenção a mim. A
necessidade é que faz que eu procure as pessoas para sobreviver. Não tenho mais
condições de trabalhar, pois estou com 77 anos. Adoentado. As pernas já não
aguenta a jornada do dia a dia. A vista curta, embraçada. Tenho uma diabete que
o “doutor” disse a mim em uma consulta feita no Pátio da Basílica do Carmo.
Passou alguns remédios, mas como comprar? Sem dinheiro. Fui a um posto fui
recebido com estranheza e desdém pelo empregado do posto. Não tem! Simplesmente
devolvendo a receita que rasguei na sua frente. Arrependi-me, mais já era
tarde. Sentei-me no meio fio da rua olhando para o tempo, já esfomeado. A
família não quer mais saber de mim, não sei por que! Se fui errado no passado o
arrependimento mata este passado pelo tempo, mas o que fazer? Durmo num abrigo
onde dezenas de colegas partilha o espaço não muito confortável, pois falta
tudo para um cidadão de bem. Mas mesmo assim vivo contente. Não tenho raiva da
família, dos filhos, tenho três bem de vida, mas não liga para mim, quando os
fui procurar deu-me as costas. Sai envergonhado, não os procuro mais de jeito
nenhum, vou me virando como posso. Agora digo, ao Senhor, não aceito
arrependimento depois de ninguém. Não venha a chorar quando eu morrer. Deixe
que a casa de caridade enterre os seus indigentes. Não quero que se lembre de
mim, o tempo apaga a lembranças. Se tiver algum retrato na casa que fui dono um
dia, quebre o vidro e rasgue o retrato para não incomodar. Este é um desabafo
natural de quem precisa e não tem algum familiar. Vou seguindo o meu destino.
Se adoecer tem os hospitais públicos, mesmo ruins é pra lá que vou e não quero
que avise a ninguém onde estou. Quero morrer sossegado. Tem uma musica de
Nelson Gonçalves, grande cantor e o meu preferido, ainda hoje, mesmo nesta
vida, que diz – Quem quiser fazer alguma coisa comigo que faça agora. Desculpe
este desabafo de um homem solitário Vou seguindo, caminhando em busca de mais
alguma coisa, para o nosso Natal no abrigo. Vai ser um Natal alegre, pois todos
estão empenhados em realizar, pelo menos num dia a Alegria que já fora há muito
tempo. Feliz Natal paras toda família. Saiu como um homem sertanejo carregando
no ombro uma trouxa pendurada em uma pequena vara. Este é o papai Noel que
devemos receber. Um Papai Noel que necessita de amor, carinho, solidariedade,
pois os ajuda melhorar o seu bem estar. Mas a sociedade fecha os olhos para
estas pessoas. Não considera um ser humano. É uma pessoa descartável que vive a
margem da estrada, nas marquises, nos bancos das praças, nas palafitas que arrodeia
os grandes conglomerados de edifícios de luxo. A rua é o seu lar. É o abrigo
que tem para intempéries da vida é o seu refugio. Nada mais, nada menos do que
isto é apresentada a sociedade.
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