Por Zezinho de Caetés
Eu estou voltando hoje de um exílio forçado para resolver
problemas que todos os brasileiros têm, mas, quem é velho tem mais ainda. Como
para bom entendedor poucas palavras bastam, vamos em frente, pois atrás vem
gente, como se dizia lá no nosso interior, meu e do Lula que o esqueceu
completamente e se comporta com um pragmatismo político que faria enrubescer o
Lampião no inferno.
Ontem estava para ser votado um projeto (PLN 36/2014), que
pretendia dar carta branca ao governo para fixar suas próprias medidas para os déficits
ou superávits fiscais no país. Trocando em miúdos, o que ele diz é que algumas
despesas não eram despesas e algumas receitas deveriam aparecer dobradas, com
uma criatividade digna do Mantega. Ou seja, a confusão, em termos de contas
públicas, seria tal que jamais poder-se-ia cobrar nada dos governos de plantão,
levando para o ralo a Lei de Responsabilidade Fiscal, criada no governo FHC e
que, junto com o Plano Real, deu sentido à nossa economia, para marchar junto
com outras nações em busca do bem estar do seu povo, pelo menos com a criação
de um “moeda”, o que fazia tempo que
não tínhamos.
No momento em que escrevo, não sei do resultado da votação.
O que espero é que nossos congressistas, mesmo alguns em fim de carreira, pelo
menos pensaram nos seus filhos quando tiveram votar e o resultado seja a
verdade, que nunca entrou na Comissão da Verdade: Mostrar o descalabro gerado
pelo governo da gerenta presidenta nas contas públicas. Nunca na história deste
país se viu tal coisa. Nem na época do “encilhamento”.
Mas, como sempre, o PT que poderia ser chamado de o Partido da Tramoia, já lançou um
decreto chantagista que pune aqueles que não votarem a favor, não se pode ser
otimista. No caso do PT isto vem de longe. Leiam abaixo um texto da Dora Kramer
onde ela relata o que significa “coerência
para o PT” e tirem suas próprias conclusões. Eu já tirei as minhas e penso
que não há salvação sem oposição cerrada este governo.
Hoje, tanto o Lula quanto a Dilma sabem, além das falcatruas
na Petrobrás, que se este decreto 36 não for aprovado, só violentando ainda
mais as leis do país é que a Dilma poderá se livrar de um processo de
impeachment. E se a Justiça deste país ainda funcionar o Temer já poderá tirar
terno do armário para sua posse, brevemente. E, como se sabe, eles fazem o
diabo para fugirem do inferno da verdade, que certamente os condenaria por
crime de responsabilidade.
Mas, fiquem com a Dora Krarmer, com o texto que ela
intitulou de “Deixem que eu diga”,
(Estadão – 02/12/2014), e vejam se vocês
se comportaram diante do mencionado decreto, como termina a música dizendo que “deixe prá lá o que é que tem” que é o
que o PT tanto deseja. Eu mesmo, já pintei minha faixa e vou para as ruas,
fazendo minha parte, mostrando que as circunstâncias agora são outras.
“Se você acredita que Dilma Rousseff e Luiz Inácio da Silva estão dando
grande importância aos reclamos de petistas indignados com a virada na economia
ou às críticas de "estelionato" feitas pela oposição devido aos atos
contrários às palavras ditas na campanha, é porque não está com a memória em
dia.
Não lembra que há 12 anos o PT percebeu que para chegar ao poder, e
nele conseguir se manter, seria indispensável abrir mão da coerência e aderir
sem restrições ao mais absoluto pragmatismo? Sob todos os aspectos. Para o bem
e para o mal. A parte boa disse respeito à economia. Como agora. Não faz muito
tempo o ex-presidente Lula andou dizendo que assinou contrariado a Carta aos
Brasileiros.
Pois sim. Foi a fiança que o permitiu se eleger, governar e ser
celebrado pelo bom senso de ter esquecido tudo o que o PT tinha escrito e dito
anteriormente. O País não lhe cobrou satisfações. Ao contrário, respirou de
alívio. E, na ocasião, deixou barato o fato de aquele bom legado ser chamado de
"herança maldita".
Houve aqui e ali inquietações. Inesquecível o dia em que, logo no
início do governo, o marqueteiro recentemente vitorioso, Duda Mendonça, diante
da indagação sobre a aparente contradição de ter feito uma campanha baseada na
promessa de mudança da política econômica saiu-se com esta: "E você (esta
aqui que vos fala) quer mudança maior do que essa?". Ou seja, mudando de
posição estava cumprida a promessa.
Mas quase ninguém estava ligando para esse tipo de detalhe. Quando veio
a adesão do governo à reforma da Previdência (setor público) que tanto
combatera enquanto oposição, tampouco me esqueço. Cobrado, o então chefe da
Casa Civil, José Dirceu, em entrevista ao Estado, respondeu secamente que o
governo não devia explicações.
Um dos únicos a reconhecer que seria necessário o partido ao menos
fazer uma autocrítica, a fim de rever posições, reconhecer os erros do passado
e tocar a vida em frente com transparência foi Aloizio Mercadante. Falou no
assunto só uma vez e calou-se para sempre. Já um grupo de deputados e
militantes continuou inconformado e logo deixou o partido. Daí surgiu o PSOL,
embora nem todos tenham aderido ao projeto.
Como também a crítica não era só essa. Incluía a exacerbação do
pragmatismo nas alianças feitas com figuras notórias da pior qualidade, em nome
de uma política que segundo Lula, ainda na Presidência, dizia ser a única
possível de ser exercida no País. Resumiu à época numa frase: "No Brasil,
Jesus teria de fazer aliança com Judas".
E assim foi o partido perdendo-se em seus desvãos, dando o dito pelo
não dito, desqualificando a crítica, a oposição e até mesmo a opinião dos seus.
Até que uma voluntariosa tentativa de volta às origens na área econômica
juntou-se à vocação autoritária e o governo da presidente Dilma Rousseff quase
pôs ao chão o projeto de poder.
Fez-se o diabo e mais um pouco para segurar aquela cadeira no Palácio
do Planalto. Uma campanha tão obviamente sustentada em mentiras que nem mesmo a
candidata conseguia desenvolver os raciocínios. Não faziam sentido, pois uma
vez que as premissas eram falsas não havia lógica que conseguisse carregar
ideia alguma até o fim do caminho.
Nada do que se vê agora é estranho. A não ser a estranheza. Vai se
repetindo a toada: deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso para lá,
vamos lá, o que é que tem. A esquerda reclama e cobra que o governo insista nos
erros; a oposição denuncia uma incoerência que ao governo serve muito bem
quando necessita dos quadros oposicionistas.
Enquanto isso, Lula e Dilma ganham tempo para acalmar o centro e
reconquistar-lhe a confiança com as armas de 2003. Há, porém, um detalhe: as
circunstâncias são outras.”
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