Por Carlos Sena (*)
Juntei dinheiro e passei 30 dias
na Europa. Isso nos idos do ano de 2002. Desses 30 dias 15 foi em Paris e os
demais foram divididos por outos países. De Paris guardo memórias de coisas
simples como seus cafés. Caminhar nas ruas até tarde! Vixe como eu gostava,
pois a gente ficava deambulando sem medo de assalto nem de bicho papão. Tudo lá
é interessante, mas nunca tão extremamente diferente e bom como certas coisas
daqui. Fato é que diante de tantas paisagens belas e bem cuidadas, passear
pelas ruas de lá talvez seja o que há de melhor. Paris é bucólica. A feira das
Pulgas é tudo de bom - é uma feira tipo troca-troca, só que mais voltada para a
arte e a cultura. Das cenas cotidianas duas me marcaram. A primeira foi ver um
homem de terno e gravata num ponto de ônibus com duas baguetes nas mãos. Nem um
papelzinho em volta dos pães existia, era, literalmente, nas mãos. Isso num
calor do cão. Outra foi no Magazine Lafayete. Era uma concorrida liquidação
mais parecendo aquelas nossas antigas lojas
Mesbla e Viana Leal. Pois bem, uma madame e duas filhas discutiam entre
si para comprar o que pudessem para para levar pro Brasil, mais precisamente
para São Paulo. Tratava-se da mãe e duas filhas. Elas não contavam que eu era brasileiro e estava entendendo tudo. Diziam,
dentre outras coisas, que tinham que levar roupas para tal e qual festa ou
casamento. O melhor foi a pirangagem. Eram pessoas falidas ao que tudo fazia
crer. Em determinado momento a mãe disse para as filhas que o cartão de crédito
já estava no limite. Então uma delas deu um "bale" na mãe que por
gosto se poderia ouvir. Lembro-me bem que uma das filhas quase chorando disse a
mãe que "o que as MINHAS amigas vão dizer se eu não levar roupas de
Paris"? Detalhe: eram roupas baratíssimas, mas cheias de ajustes a serem
feitos. Mesmo assim, pra elas, o importante era sair de Paris, mesmo contando
trocados, com muita roupa feia que ficariam bonitas porque eram de Paris.
Certamente quando chegaram em SAMPA desfilaram com roupas démodés compradas em
liquidação, mas isso elas, com certeza não diziam às amigas. Tive tanta
vergonha de ver aquela cena que sai de fininho e deixei aquelas mequetrefes se
digladiando para comprar molambos em Paris.
Contando essa história lembrei de
Danuza Leão, que recentemente disse que não vai mais a Europa porque todo pé
rapado agora também vai. Acho que na época que eu fui ela ainda ia por lá. E eu
daria tudo pra vê-la numa liquidação das lojas Lafayette. Diante da sua feiura
certamente eu corria longe pensando que era um bicho papão. Como ela fala
francês fluentemente eu não ia entender
direito se ela pirangava ou não. Acho que não, pois grana ela tem de sobra.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 28/10/2014
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