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sábado, 6 de dezembro de 2014

O PT perdeu o monopólio das ruas e a vergonha




Por Zezinho de Caetés

Para não dizerem que eu escrevo quilometricamente, hoje apenas transcrevo dois textos, muito bons para vocês lerem e meditarem no final de semana. Mesmo com os dedos coçando, refreio-me e deixo o Sandro Vaia e Maria Helena R. R. de Souza (“O PT perde o monopólio das ruas” , e “Reviravoltas na LDO, ambos publicados ontem no Blog do Noblat, respectivamente) excitarem suas sinapses cerebrais. Vem prá rua você também, vem!

“Numa república futebolística, a diferença entre o bem e o mal está na cor da camisa que o seu time veste.

Os heróis são os que usam a cor de seu time. Os bandidos, os que vestem a camisa do outro.

Há um certo alarido político nas ruas depois que os seus ocupantes de sempre foram substituídos por outros, que vestem a camisa da cor errada. As ruas, como se sabe, são de propriedade exclusiva do PT, que está acostumado a ocupá-las com os diversos “movimentos sociais” que são ramificações subsidiárias do corpo central do partido.

Quando alguém sai às ruas vestindo camisas de outros tons e entoando palavras de ordem que desafinam da cartilha licenciada do grupo “hegemônico”, há sempre uma artilharia pesada pronta para primeiro desmoralizar e depois destruir a credibilidade de quem ousa marchar na contramão do fluxo oficialmente permitido e incentivado.

A última batalha eleitoral deixou no ar um gosto de pólvora queimada e fez aflorar um fenômeno que ainda carece de uma melhor tradução sociológica: as pessoas foram para as ruas destilar um sentimento de insatisfação/indignação com o governo e com o partido “hegemônico” que lhe dá sustentação política e justificação ideológica.

O rumor dessa corrente, nas ruas e nas redes sociais, fez a oposição instituída, partidária e parlamentar, despertar de sua longa letargia e empenhar o corpo e a alma numa memorável batalha congressual contra a lei que autoriza o governo a mandar a Lei de Responsabilidade Fiscal para o cemitério das boas ideias e das boas práticas administrativas.

O governo, com a habilidade e a sutileza que o caracterizam, ajudou a oposição a ganhar energia para uma batalha de antemão perdida, editando um decreto onde condicionava a liberação de uma elevação de 748 mil para as emendas parlamentares à aprovação da lei que oficializa a ficção do déficit superavitário, a mais extraordinária das jabuticabas. Precificou o voto sem disfarces e aumentou o clima de indignação.

O movimento das ruas, inorgânico e informal, surgiu fora dos quadros partidários, e com o vago objetivo de pedir o “impeachment" da presidente reeleita, não se sabe exatamente como e nem por qual razão específica, mas como reação ao mau cheiro que exala do novo monturo de corrupção e das mentiras usadas sem pudor e como método na campanha eleitoral.

A verdade é que os partidos de oposição foram a reboque dos descontentes e tiraram deles a energia que exibiram em plenário. Também se penduraram no movimento meia dúzia de lunáticos saudosos da ditadura militar, que não conseguiram atinar com o paradoxo de defender a democracia atentando contra ela.

A expulsão das galerias do Congresso dos manifestantes contrários ao projeto de lei que legalizou a irresponsabilidade fiscal, ordenada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, deixou mais evidente do que nunca que a “participação social” que o governo defende é condicionada ao controle que o aparelho partidário exerce sobre os diversos “movimentos”.

A verdade é que o PT está perdendo o monopólio das ruas e vai usar a sua “banda de música” organizada ou voluntária para tentar destruir a legitimidade de quem ousa manifestar-se fora da cartilha do partido. A máquina de moer reputações já está fazendo picadinho de quem tem a ousadia de cantar por outra partitura.”

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“Tive que ler mais de uma vez os comentários sobre o decreto publicado no Diário Oficial da União em 28 de novembro deste ano, no qual dona Dilma, com a tranquilidade dos superpoderosos, condicionou a liberação de verbas extras aos parlamentares que votassem a favor da mudança na LDO.

Em suma: "vocês fazem o que eu quero e receberão R$748 mil cada um, para usar, como bem entenderem, em seus redutos eleitorais... Se não fizerem a minha vontade, não verão a cor desse dinheiro".

Ninguém é ingênuo a ponto de não saber que essa manobra repulsiva já foi usada outras vezes.

Mas assim, às claras, e publicada no Diário Oficial da União, foi a primeira vez. Por isso, assustou muito: uma vez aberta essa trilha, quem nos garante que nunca mais será usada?

As galerias do Congresso, que é a Casa do Povo, ficaram vazias por ordem de seu presidente, Renan Calheiros, como sempre aliado dos Governos, porque, na véspera, das galerias saiam palavras de ordem contra o governo de dona Dilma.

Dizem que uma das deputadas, para quem o povo gritava "Vai pra Cuba!", achou que a chamavam de "vagabunda". Sabe-se lá por que...

Renan Calheiros mandou esvaziar as galerias mas esqueceu de interromper as transmissões por rádio e TV. Resultado, a transmissão, fosse em nossas casas, ou nos botequins da vida, foi uma campeã de audiências, até porque certos parlamentares são impagáveis ao falar... Imperdíveis!

A sessão plenária durou mais de 18 horas. Surpreendente quando se sabe que o governo tem maioria esmagadora. Mas compreensível quando nos lembramos que a base aliada está unida por sentimentos egoístas, mesquinhos, nenhum deles ligado ao bem do Brasil, o que a torna esfrangalhada.

Durante a sessão, já bem avançada a madrugada, quando um dos mais idosos parlamentares da situação queria falar e a oposição tumultuava, ouviu-se claramente um “Olha o Estatuto do Idoso!”.

Estatuto ignorado na terça-feira, quando um segurança do Congresso deu uma gravata numa idosa que estava lá para exercer seu direito de protestar.

A oposição, ainda muito distante da expertise da oposição petista, os mestres em tumultuar tudo aquilo que não lhes interessa, aprende lentamente, mas com determinação.

Não conseguiu impedir que as contas estrambóticas de dona Dilma fossem aprovadas, mas conseguiu interromper a fieira de votação dos destaques ao constatar que não havia mais o quorum mínimo de 257 deputados.


O espetáculo continua na terça-feira que vem, 9 de dezembro. Espero que com as galerias ocupadas pelos donos da Casa.”

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