Por Zezinho de Caetés
Para não dizerem que eu escrevo quilometricamente, hoje
apenas transcrevo dois textos, muito bons para vocês lerem e meditarem no final
de semana. Mesmo com os dedos coçando, refreio-me e deixo o Sandro Vaia e Maria
Helena R. R. de Souza (“O PT perde o
monopólio das ruas” , e “Reviravoltas
na LDO, ambos publicados ontem no Blog do Noblat, respectivamente)
excitarem suas sinapses cerebrais. Vem prá rua você também, vem!
“Numa república futebolística, a diferença entre o bem e o mal está na
cor da camisa que o seu time veste.
Os heróis são os que usam a cor de seu time. Os bandidos, os que vestem
a camisa do outro.
Há um certo alarido político nas ruas depois que os seus ocupantes de
sempre foram substituídos por outros, que vestem a camisa da cor errada. As
ruas, como se sabe, são de propriedade exclusiva do PT, que está acostumado a
ocupá-las com os diversos “movimentos sociais” que são ramificações
subsidiárias do corpo central do partido.
Quando alguém sai às ruas vestindo camisas de outros tons e entoando
palavras de ordem que desafinam da cartilha licenciada do grupo “hegemônico”,
há sempre uma artilharia pesada pronta para primeiro desmoralizar e depois
destruir a credibilidade de quem ousa marchar na contramão do fluxo
oficialmente permitido e incentivado.
A última batalha eleitoral deixou no ar um gosto de pólvora queimada e
fez aflorar um fenômeno que ainda carece de uma melhor tradução sociológica: as
pessoas foram para as ruas destilar um sentimento de insatisfação/indignação
com o governo e com o partido “hegemônico” que lhe dá sustentação política e
justificação ideológica.
O rumor dessa corrente, nas ruas e nas redes sociais, fez a oposição
instituída, partidária e parlamentar, despertar de sua longa letargia e
empenhar o corpo e a alma numa memorável batalha congressual contra a lei que
autoriza o governo a mandar a Lei de Responsabilidade Fiscal para o cemitério
das boas ideias e das boas práticas administrativas.
O governo, com a habilidade e a sutileza que o caracterizam, ajudou a
oposição a ganhar energia para uma batalha de antemão perdida, editando um
decreto onde condicionava a liberação de uma elevação de 748 mil para as
emendas parlamentares à aprovação da lei que oficializa a ficção do déficit
superavitário, a mais extraordinária das jabuticabas. Precificou o voto sem
disfarces e aumentou o clima de indignação.
O movimento das ruas, inorgânico e informal, surgiu fora dos quadros
partidários, e com o vago objetivo de pedir o “impeachment" da presidente
reeleita, não se sabe exatamente como e nem por qual razão específica, mas como
reação ao mau cheiro que exala do novo monturo de corrupção e das mentiras
usadas sem pudor e como método na campanha eleitoral.
A verdade é que os partidos de oposição foram a reboque dos
descontentes e tiraram deles a energia que exibiram em plenário. Também se
penduraram no movimento meia dúzia de lunáticos saudosos da ditadura militar,
que não conseguiram atinar com o paradoxo de defender a democracia atentando
contra ela.
A expulsão das galerias do Congresso dos manifestantes contrários ao
projeto de lei que legalizou a irresponsabilidade fiscal, ordenada pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros, deixou mais evidente do que nunca que a
“participação social” que o governo defende é condicionada ao controle que o
aparelho partidário exerce sobre os diversos “movimentos”.
A verdade é que o PT está perdendo o monopólio das ruas e vai usar a
sua “banda de música” organizada ou voluntária para tentar destruir a
legitimidade de quem ousa manifestar-se fora da cartilha do partido. A máquina
de moer reputações já está fazendo picadinho de quem tem a ousadia de cantar
por outra partitura.”
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“Tive que ler mais de uma vez os comentários sobre o decreto publicado
no Diário Oficial da União em 28 de novembro deste ano, no qual dona Dilma, com
a tranquilidade dos superpoderosos, condicionou a liberação de verbas extras
aos parlamentares que votassem a favor da mudança na LDO.
Em suma: "vocês fazem o que eu quero e receberão R$748 mil cada
um, para usar, como bem entenderem, em seus redutos eleitorais... Se não
fizerem a minha vontade, não verão a cor desse dinheiro".
Ninguém é ingênuo a ponto de não saber que essa manobra repulsiva já
foi usada outras vezes.
Mas assim, às claras, e publicada no Diário Oficial da União, foi a
primeira vez. Por isso, assustou muito: uma vez aberta essa trilha, quem nos
garante que nunca mais será usada?
As galerias do Congresso, que é a Casa do Povo, ficaram vazias por
ordem de seu presidente, Renan Calheiros, como sempre aliado dos Governos,
porque, na véspera, das galerias saiam palavras de ordem contra o governo de
dona Dilma.
Dizem que uma das deputadas, para quem o povo gritava "Vai pra
Cuba!", achou que a chamavam de "vagabunda". Sabe-se lá por
que...
Renan Calheiros mandou esvaziar as galerias mas esqueceu de interromper
as transmissões por rádio e TV. Resultado, a transmissão, fosse em nossas
casas, ou nos botequins da vida, foi uma campeã de audiências, até porque
certos parlamentares são impagáveis ao falar... Imperdíveis!
A sessão plenária durou mais de 18 horas. Surpreendente quando se sabe
que o governo tem maioria esmagadora. Mas compreensível quando nos lembramos
que a base aliada está unida por sentimentos egoístas, mesquinhos, nenhum deles
ligado ao bem do Brasil, o que a torna esfrangalhada.
Durante a sessão, já bem avançada a madrugada, quando um dos mais
idosos parlamentares da situação queria falar e a oposição tumultuava, ouviu-se
claramente um “Olha o Estatuto do Idoso!”.
Estatuto ignorado na terça-feira, quando um segurança do Congresso deu
uma gravata numa idosa que estava lá para exercer seu direito de protestar.
A oposição, ainda muito distante da expertise da oposição petista, os
mestres em tumultuar tudo aquilo que não lhes interessa, aprende lentamente,
mas com determinação.
Não conseguiu impedir que as contas estrambóticas de dona Dilma fossem
aprovadas, mas conseguiu interromper a fieira de votação dos destaques ao
constatar que não havia mais o quorum mínimo de 257 deputados.
O espetáculo continua na terça-feira que vem, 9 de dezembro. Espero que
com as galerias ocupadas pelos donos da Casa.”
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