Por Carlos Sena (*)
Minha terra tem sido alvo de
preocupação de autoridades. O motivo? Taxa elevada de suicídio nos últimos
anos! Até o Padre Marcelo Rossi já se pronunciou nesse sentido, mas não tive
acesso. Mesmo sem ter lido, entendo fundamental um diagnóstico religioso, pois
nesse momento temos que encontrar uma justificativa que nos possa compreender
melhor esse fato social, principalmente pela sua característica de ter
ocorrido, prioritariamente entre os jovens. O nosso “Ponto de Vista”* acerca
disso não ignora as questões religiosas, mas incursiona no viés mais
sociológico do fato. Romper com a própria vida, acabando com ela é deixar claro
que houve conflitos interiores de toda ordem. A vida social é sustentada na
base das expectativas sociais e estas, sedimentam-se no conjunto de símbolos
que diariamente interagimos com eles. Porque a gente nasce e somos lançados a
um universo de símbolos e significados. Primeiro pela família, depois pelas
demais Instituições Sociais. Adultos,
não raro temos conflitos: ora em função de valores que nos foram ensinados, mas
que nós, depois de grandes não concordamos com eles. Afora isso, há questão
inclusive genética que não se pode ignorar para compreender um suicida. Mas, nesse
breviário, preferimos incursionar no mundo simbólico, principalmente os da
afetividade – aqui incluídos o afeto no seio familiar e o afeto no seu sentido
mais direto entre pessoas no desfrute da sua sexualidade. Não necessariamente
do sexo, mas da sexualidade em seu sentido mais absoluto.
As cobranças da sociedade são o
grande componente das expectativas sociais que podem tranquilamente, levar uma
pessoa de estrutura de personalidade instável, a chegar aos extremos de si
mesmo dando cabo da sua própria vida. Evidente que no mundo dos suicidas há
solidão. Evidente que há no seio da nossa sociedade valores frouxos além da
conta. Eles não são capazes de suprir anseios, pois nosso sistema social é
extremamente competitivo e muita coisa da “ética e da moral” que bem poderiam
dar esse substrato não o fazem. Motivo: como pode uma juventude que vive de
balada em balada, que não desgruda do celular, que não tem relação sincera com
os pais e estes não lhes dão o limite necessário para a vida, conseguir objetivo
de vida? Como pode uma juventude que não tem nos pais uma autoridade, mas um
amigo? Amigo é uma coisa, pais é outra coisa. Nossos jovens estão sem saber
amar e sem ter quem lhes inspire nessa direção. Dentro de casa os pais são
permissivos demais e tudo fazem pelo filho no quesito “conforto de bens
materiais”, paz interior nem sempre. Colocam-nos para estudar nos melhores
colégios, mas se esquece de saber, pelo menos qual a linha de conduta
pedagógica daquele colégio. Os pais, no geral, se orgulham de dizer que seus
filhos estão numa escola com piscina, academia, ar condicionado nas salas,
etc., mas não vão às reuniões das escolas quando são chamados, imaginem sem ser
chamados! A escola, por sua vez, administra sua incapacidade de ser critica e
libertadora, ou seja, não se preocupa com a felicidade dos alunos, mas com o
repasse de um currículo nem sempre apropriado aos alunos e seus tempos
interiores e exteriores. Seus professores temem perder o emprego porque um pai
pode pedir sua cabeça à diretoria porque está “puxando demais pelo seu filho”.
O suicídio mereceu estudo
sistemático do Sociólogo Frances Émile Durkheim. Merece ser lido pelas
autoridades de Bom Conselho. Merece ser debatido pelas escolas, o que acho
pouco provável, pois não estaria na pauta escolar esse tipo de debate, salvo
melhor juízo. A ESCOLA MODERNA o é no pior sentido e isso é grave!
Independente de outras
conjecturas, fato é que os nossos jovens são flagrados sem ter futuro. Porque
viver a vida consumindo Aviões do Forro, Garota Safada e outras baboseiras;
viver em cidades em que os prefeitos gastam milhões com essas bandas, mas pagam
miséria aos seus professores; viver consumindo drogas nas barbas dos pais, além
de dividirem copos de cervejas com os pais e até professores, convenhamos, isso
não sedimenta símbolos, nem valores.
Portanto, a juventude de nossa
terra padece do mal da grande maioria de outros jovens em diversas outras
cidade: não são felizes! Quem é feliz não mata nem morre. Quem é feliz é
temente a Deus. Quem é feliz não tem medo de solidão, nem fica em depressão por
muito tempo. Quem é feliz sabe que há dias que a gente não está bem. Quem é
feliz vai a luta, porque o que dá pra rir dá pra chorar e não se faz omelete
sem quebrar os ovos. Mas, convenhamos,
com essa sociedade que só estimula o consumo de valores sociais frouxos,
suicidar-se é tarefa de nenhuma dificuldade, tendo de lambujem pais de família
permissivos... Não poderia ser diferente.
* ”Ponto de Vista” é o titulo da
minha inserção na Rádio Papacaça, semanalmente, falando para os meus
conterrâneos acerca de diversos temas. Certamente irei falar sobre o Suicidio,
mas vou estimular em minhas crônicas tudo em função do amor – pois em ele tudo
se torna pequeno demais...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 26/09/2014
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