Por Carlos Sena. (*)
Quando alguém fala de musica eu
só fico na espreita. Porque todo mundo acha que entende de musica. Talvez
entenda mesmo, mas de boa musica eu duvido. Porque o povo chama de musica essas
tranqueiras de Calypso, Calcinha Preta, Aviões, Garota Safada, etc. Como se não
bastasse tem agora o "meu bebê" dum caba chamado Pablo. Nada a
rotular na onda do brega ou chique. Não. Brega ou chique é um sentimento.
Porque nem tudo que é brega é ruim e nem
tudo que é chique presta. Porque música, repito, é um sentimento. O que condeno
nessas bandas de papel crepom é que não fica nada delas no tempo real,
imaginário e social. Todas as musicas são parecidas. Todas as cantoras (exceção
honrosa a cantora de Aviões) tem o mesmo timbre vocal e, não raro, tem um bando
de moças e rapazes mostrando o rabo num balé nem sempre sincronizado como
deveria. Mas, são coisas de um tempo de valores frouxos, de consumo exagerado
de qualquer tipo de coisa que a midia divulgue, inclusive musica ruim. Pra não
me delongar muito nesse argumento, sempre me lembro de uma passagem antológica:
quando eu ensinava numa importante Faculdade do Recife, fui surpreendido come
uma turma de alunas catarolando a esmo a música "Alguém me disse". Eu
fiquei super feliz. Mas, uma das alunas se saiu com essa pérola:
"professor, o senhor já escutou o novo sucesso de Gal Costa"? Eu
disse: qual? Essa que vocês estavam cantarolando? Pois bem, deixe que eu lhes
atualize a cultura musical: essa musica é da idade em que minha mãe namorava
meu pai. Gal Costa regravou e fez uma excelente releitura dela. Pra vocês não
pensarem que eu estou blefando vou cantar com vocês. Cantei a letra todinha
acompanhado das alunas e ficou um coral lindo. Elas, certamente, aprenderam que
musica é um estado de espírito e não tem idade. Tem musica ruim tem. Mas, aí
são outros quinhentos neste contexto dado. Porque essa musica é de Evaldo
Gouveia e Jair Amorim. Gravada também por Nelson Gonçalves, Maria Carolina e
Gal Costa além de outros. Para o meu gosto, a melhor interpretação é de Nelson
Gonçalves.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 24/09/2014
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