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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Os Débitos Existenciais ou "Reflexão de Final de Noite"




Por Carlos Sena. (*)

Tem gente que eu peço a Deus que envelheça. Primeiro porque não se deve desejar que ninguém morra jovem, exceto se for por ordem do "Homem lá de cima". Mas, juro que gostaria que muita gente envelhecesse, porque tem gente que morre jovem e, por serem pessoas tão boas a gente diz que "Deus levou porque aqui não é lugar de anjo"... Por isso eu queria ver muita gente morrer velhinha para poder purgar tudo que um dia elas não souberam construir. Pela lógica do "quem planta vento sempre colhe tempestade", certamente essas pessoas iriam purgar em plena terra o que pouparia satanás de fazer esse trabalho nas profundezas dos infernos. Certamente isso não seria de todo mal. Explico: um traste que viveu só fazendo maldade na terra tem mesmo que morrer velhinho para adquirir estabilidade em vida para se redimir das merdas que fez quando jovem ou quando adulto. Porque uma pessoa dessas morrendo jovem vai para a companhia do Belzebu direto, via internet. E, certamente, perderia o direito de se purificar na terra onde pintou e bordou abusando do seu livre arbítrio. Desejar isto seria, sobremaneira, um desejo bom, positivo, ou não? Creio que sim. Porque no final da vida, com o peso dos anos nas costas e com todas as limitações que um idoso naturalmente tem, com certeza purgaria tudo que tivesse por direito e por avesso. Esse meu desejo se faz neste tear de letras, por conta da prática abusiva dos que hoje, jovens, acreditam que um dia não ficarão velhos. E por assim acreditarem, não respeitam os pais, nem os professores, nem os próprios amigos. Sem contar que vivem cultivando a maldade em tudo que fazem e em tudo que pensam se sobressai o extenuante dilema de levar vantagem em tudo. Assim, diante dos dissabores que é envelhecer numa sociedade como a nossa que ignora seus idosos e fica caolha para as nossas crianças, certamente essas pessoas teriam muito a aprender com o sofrimento do abandono. Também com a ingratidão dos filhos. Com a dificuldade de viver com uma aposentadoria do INSS e ser surrupiado pelos netos, além de outros vícios como o do alco e das doenças outras da idade associada a pior delas - a perda de tudo que um dia quando jovens tiveram em excesso como visão, audição, etc..

No fundo o rumo dessa prosa é espiritista. No melhor sentido do que possa ser compreendido, pois desejar vida longa para todos é melhor do que desejar vida breve mesmo para as "almas sebosas"... Assim, não creio que quando uma pessoa boa vai "embora" antes do tempo é porque Deus não quer pessoas boas conosco. Esse é um raciocínio imediatista e retórico - mais reto do que rico. Porque o mundo está aí para todos viverem conforme seus designos. Só que nada que fazemos é por acaso que fazemos. Nada que sentimos é por acaso que sentimos. E, certamente quando algo nos acontecer contrariando nossas expectativas não será por acaso que iremos sentir tudo em nossa pele. É a lei do retorno. A lei da causa e do efeito. As combinações cósmicas que gravitam em nós por conta e risco do que gravitamos em nossa mente em cada gesto nobre ou não. Em cada bom desejo aos outros. Em cada perdão chancelado pelo coração. Em cada sentimento de humildade que tenhamos como forma de vida e permanente convicção existencial.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 26/09/2014

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