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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Direto de São Paulo - Chuvas e muriçocas




Por Zé Carlos

Passou uma semana entre meu último texto e este que começo aqui. Parece que São Pedro me ouviu e mandou chuva para este sertão sofredor, embora eu reconheça que o meu sertão e o do Luiz Gonzaga é mais sofredor ainda. Porém, talvez porque o santo não tenha ficado plenamente satisfeito como o resultado das eleições, mandou também uma chuva de muriçocas, para se aproveitarem da sujeira dos rios e córregos paulistas e para festejarem mais do que os nordestinos, quando chove no Dia de São José.

O caos do trânsito não mudou de lugar, é o mesmo. Com uma diferença para mim. Agora já estou ambientado, ou me ambientando na cidade, e tudo está parecendo mais fácil, se não exigirmos muito da condição humana. Esta só seria plenamente satisfeita se voltasse aos tempos de Bom Conselho, do meio do século passado, onde ouvia até o barulho da chuva, quando dormia. Hoje só ouço os carros. É óbvio que não posso voltar àqueles tempos, e para ser sincero, nem queria.

Meu pai sempre me dizia, quando eu reclamava das modernidades daquela época, sabiamente, que em sua infância era muito pior, e eu já disse isto para minhas filhas e espero que elas o digam também para os meus netos. Até hoje penso que o mundo melhorou, na média, e não tenho o que reclamar, mas, quando estamos numa cidade como São Paulo não devemos nos entusiasmar muito. Tudo parece excessivo e peculiar.

Como já ocorre, num menor nível, em Recife, aqui, ligamos a TV e é muito difícil um telejornal mostrar algo diferente do que motoqueiros caídos nas ruas. Santo Deus, eu penso que, pelo número de acidentes que vi até agora, a motocicleta deve ser um “serial killer”  pronto para suplantar o Jack o Estripador, o Stalin, ou qualquer outro. Penso que se continuar desta forma até o final do próximo ano não haverá mais motoqueiros na cidade, pois todos devem ter morrido. Exageros à parte, os acidentes de moto são epidêmicos.

E agora, com a chuva, apareceram os mosquitos, que quebraram um pouco o roteiro de acidentes, e a TV já mostra as consequências deste fato. E, como disse, sendo tudo excessivo nesta cidade, o que se vê são hordas de muriçocas a sugar o sangue do povo, que recorre aos mais variados artifícios de proteção. Nos supermercados, os estoques de inseticidas foram para espaço e outros meios modernos já estão no fim. Elas são um páreo duro para determinados políticos, para ver quem suga mais.

Mesmo que, no local onde estou, não existam tantos pernilongos (penso que os paulistas não sabem o que é muriçoca), eu, ao passar numa rua da cidade, comprei uma raquete antimosquito. Tecnologia de ponta, “made in China”. Ao chegar em casa, igual a um criança, o que esperava era ver um mosquito para estrear o precioso instrumento, que antigamente era usado para jogar tênis. Não estou satisfeito porque, até agora, consegui apenas fazer uma vítima entre os alados chupadores de sangue. Como fui economista um dia, e terminei, pelo hábito, ficando com a boca torta, pensei logo em termos de custo/benefício. Até agora, a raquete foi muito cara. Espero que apareçam mais insetos, que justifiquem sua compra.

O que senti mesmo de verdade foi, com a chuva, o desaparecimento de um programa de rádio, que, para aumentar a audiência, ao invés de sortear carros, brinquedos ou outra coisa, ele resolveu sortear 500 litros d’água. Foi um sucesso. Também, o litro de água mineral por R$ 2,00, o sorteado levava uma boa quantia. Estou esperando agora eles sortearem inseticidas ou raquetes.

E como se não bastasse a neurose pela ausência do precioso líquido que tanto nos faltou em nossa região nordeste, uma grande notícia, com cenas horripilantes, mostrava, pasmem, um roubo de água. E não se tratava, como já vi no nordeste, de roubo de água do açude do vizinho, e sim de dois galões numa fila de um caminhão pipa, para, segundo o ladrão, lavar os pratos e tomar banho. Foi preso e autuado devidamente. Ou seja, em nosso país quem rouba água é ladrão e quem rouba petróleo é barão. Tempos estranhos estes.

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