Por Carlos Sena (*)
Perguntei a uma prima acerca do
que fazer em Bom Conselho hoje, domingo. Ela me disse “nada”. Pois é, mas tudo
é meio relativo. Mais ativo do que real. Mais real do que superlativo se a
gente considera o cotidiano, o dia-a-dia de uma cidade do interior que se banha
a si mesma, que se bebe a si mesma. As cidades do interior – e isso é ótimo –
ainda guardam nos seus baús muita tranqüilidade, principalmente aos domingos
que nem sempre tem “pé de cachimbo, nem touro valente”. E é assim que construo
meu domingo. Sabendo das coisas de sempre e optando, se assim desejar, pela
missa na igreja Matriz, ou no Colégio das Freiras. Ou subir e descer ladeiras a
esmo. Assim mesmo a esmo. Porque quem não tem mar constrói sua maré. Lá em
Recife a gente vai caminhar no calçadão, aqui não. Aqui a gente sobe e desce
ladeiras, como que embalando uma criança numa rede e ela insiste em ficar
acordada. No balanço da rede a criança uma hora dorme, na subida das ladeiras
da minha terra não! A gente para em cada porta e conversa. Para em cada esquina
e conversa. Para em cada ontem e desconversa... Porque de ontem, nem me contem.
De amanhã muito menos, pois aqui a gente tem que alinhavar o presente do nosso
indicativo, nunca o futuro do pretérito nem do passado mais que perfeito.
Diante de um dia assim
dorminhoco, decidi ouvir uma coisa que lá no Recife pouco se pode fazer:
escutar o silêncio! Isso a gente ainda pode fazer por aqui, mas só aos
domingos. Porque de segunda a sábado isso aqui mais parece uma terra sem lei no
quesito transito desorganizado e som de carro toda hora e todo instante tirando
o sossego do povo, sem falar na praga das motos. Pior: ninguém faz nada. Mas,
pelo menos hoje eu estou ouvindo e escutando o silencio. Ouvindo musica no
rádio e escutando o tempo. Como que numa feliz coincidência, o radio toca “nada
melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você”... Mas, sozinho
(não tenho com quem deitar e rolar) no fundo do quintal da minha casinha, teço.
Alinhavo o pensamento para que amanhã eu seja de mim mesmo o meu silencio e o
meu barulho – pela mania de ser assim um cronista meio irreverente e cheio de
art-manha.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 21/09/2014
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