Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho
“Seu Manoel e Dona Rita tinha a filha Violeta”. Esta moça
sempre foi alvoraçada, sapeca e conhecida na Rua do Progresso pelas suas
estripulias. Morava em uma pequena casa onde o pai era pedreiro e a sua mãe
domestica, fazia serviço de faxina na residência da zona sul. Violeta nunca se
conformara com a vida que levava, queria luxo para esta condição precisava de
dinheiro. Passeava pelos shoppings e em cada vitrine desejava roupas, sapatos e
sandálias, mas dinheiro nunca tinha. Não conseguia emprego, porque os empregos
eram sempre de balconista, o que não aceitava, queria ser modelo, pois corpo
tinha, era bela e com estes apetrechos ela pensava ganhar o mundo. E, assim a
cobiça falou mais alto. Começou a sair de casa todos os dias para encontrar
alguns amigos nos shoppings e frequentava outras festas chamadas pelas meninas
ricas. Mentia sempre. Dizia que morava em boa casa no Espinheiro, porém nunca
levou nenhuma das amigas por lá, sempre arranjava alguma desculpas. Certo dia
saiu de casa. Foi morar na zona sul do Recife, no prédio Holiday, com uma amiga
dividindo o kitnet. Foi vista por alguns amigos do casal, a Violeta na esquina
da Rua Bruno Veloso com a Domingos Ferreira, com varias outras “moças” em pé
toda emperiquitada. Quando os pais souberam ficaram indignados com aquela
situação, criar uma filha com todos carinhos, fazendo das tripas o coração para
dar-lhe o melhor que pôde e ver sua filha como “menina de programa” era uma
tristeza. Procurou mais não a encontrou logo de imediato. Voltou varias vezes
ao local onde a tinha visto, e nada. Mais não desistiu. Certo tempo soube que
ela trabalhava na Boate Princesa e lá foi ele até o local. Encontrou-a sentada
em uma cadeira de pernas cruzadas, de saia curtíssima, blusa decotada e toda
pintada, um copo de bebida e cigarro nos dedos. Quando a viu quase tomava um
ataque de coração. Ela, por sua vez, tomou um susto vendo seu pai ali em pé
defronte a ela. Cambaleou mais se ergueu fitando nos olhos do velho pai – o
senhor por aqui? O que aconteceu? Seu Manoel respondeu: vim olhar você porque o
que me disseram não acreditei, queria ter certeza vendo com os meus próprios
olhos a minha filha num ambiente desgraçado como este vendendo o corpo por
qualquer dinheiro. Filha eu e sua mãe lhe ensinamos esta profissão? Você não
sabe que em breve você estar um bagaço e ninguém vai querer lhe olhar de
frente. Não sabes que o cansaço atinge todas as pessoas e que a miséria vem a
galope. Estou perplexo com esta situação e eu não sei como resolver, ver você
neste estado lastimável que encontrei. Violeta chegou a lacrimejar com esta
dialogo do pai. Sentou-se acendeu mais um cigarro, tomou um gole da bebida já
no fim e disse – Pai, o senhor e a mamãe nunca me ensinaram estas coisas, pelo
contrario aconselhava para outro modo de vida. Mas, eu queria mais e sabia que
o senhor não tinha condições de arcar com o meu desejo. Sei que todos estão
decepcionados comigo, mas vou em frente e assumindo as consequências desta
minha vida. Seu Manoel saiu arrasado daquele ambiente escuro e fumacento com
musicas estridentes. Saiu foi para a rua tomar um ar fresco. Que podia fazer?
Aconselhou pediu para voltar para casa, mais não obteve êxito, entregava a
filha a Deus para ele a regenerasse e mudasse de vida. O tempo passou, as
noites mal dormidas pelo Seu Manoel e Dona Rita se sucediam. Mas, a sua fé
nunca foi abandonada, rezava sempre por esta filha que Deus a protegesse mesmo
sabendo do ato pecaminoso que ela praticava e dizia – Deus é pai e não
padrasto-. Dois anos se passaram. Um belo dia, por volta das onze da manhã, ao
chegar à casa vinda da feira, encontrou a porta entreaberta. Não desconfiou,
porque tinha a deixado encostada. Na sala lá estava sentada a sua filha
Julieta. Uma maleta encostada na poltrona e ela sentada de cabeça baixa. Não
acreditou no que via. Era um milagre que estava acontecendo, ou que aconteceu.
Ela olhou para ele com os olhos vermelhos de chorar pedindo-lhe para voltar
para casa, pois estava doente e com doença grave e precisava de ajuda e as
pessoas com que convivia a lhe viraram as costas. Ainda
era nova, tinha uns 27 anos de idade. Seu Manoel e Dona Rita a acolheram
chorando de abraços abertos apertando-lhe ao peito, dizendo – você esta em sua
casa, que Deus me abençoe pelo sua volta. (esta estória me foi
relatada por Dona Sonia em uma conversa na sua casa no bairro de Casa Amarela –
As personagens e locais são nomes fictícios)
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