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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Imagina em junho!




Por Zezinho de Caetés

Eu trago para perto de mim, e prevejo para uma data mais próxima, aquilo que a jornalista Ruth de Aquino mostra no texto abaixo (transcrito da Revista Época, publicado em 28/01/2014). Sua estupefação diante do quadro da infraestrutura que se apresenta no Rio de Janeiro e o relaciona com as Olimpíadas que serão realizadas naquela cidade em 2016. Começa pelo título que é: “Imagina nas Olimpíadas”, que parafraseia o mais próximo e já bastante manjado: “Imagina na Copo do Mundo”.

Quem estiver interessado apenas na situação do Rio, que pule estas mal traçadas linhas e vá direto ao artigo da jornalista, que é muito bom. Aqui eu fico em meu Recife querido enfatizando nosso desempenho, como cidade sede na Copa do Mundo, que está ali no tempo, faltando apenas poucos dias como mostram alguns painéis pela cidade. E me mantenho no refrão: “Imagina na Copa”.

Só quem mora longe desta cidade para dizer que estamos em dia com as obrigações para Copa, mesmo que se pense muito longe do Padrão Fifa. Até agora, tentem chegar à entrada para São Lourenço, pela BR-232, e veja, sem jogo nem nada, o tempo que se tomará para chegar à Arena Pernambuco. Pelo que vejo, e pelo números de turistas que virão, será muito pior do que na Copa das Confederações. E naquela época já foi muito ruim lá chegar.

Imaginem em junho! Mesmo feriado, coisa que só se passa em país do terceiro mundo ao perder um dia de trabalho inteirinho para poder se chegar a um evento esportivo, penso que será um caos. E se houver as tais de manifestações que são previstas para o período, não sei não!. E vejam que estou falando de um Estado onde temos um estádio já pronto. Imaginem em junho em outras sedes onde os estádios ainda patinam na ineficiência do setor público, multiplicada por 1000 se o governo é petista! Ninguém chegará lá, como não chegará aqui na Arena porque não teremos a devida “mobilidade urbana” para aportar nos estádios.

Tudo será feito a toque de caixa, como é sempre feito pelo atual governo federal, isto quando termina. O que temo, e todos os brasileiro, é que além de sermos derrotados fora de campo, também sejamos derrotados dentro dele. Mas, existirá uma situação pior ainda, é se ocorrer tudo isto e ainda reelegermos a presidenta. Então estará na hora de partir. Espero que não seja pelo meu já fraco coração e sim pela compra de uma passagem para a Argentina. Caos por caos, lá faz menos calor.

Fiquem com texto da Ruth e reflitam. Tudo poderá ocorrer outra vez nas Olimpíadas. Vade-retro, presidenta.
 
“"Eles tratam a gente igual a gado.” Vanessa Rocha, cozinheira, foi uma das 600 mil vítimas do inferno do transporte no Rio de Janeiro. Um trem descarrilou, bateu num poste de energia e interrompeu todo o sistema sobre trilhos. Durante 11 horas! Sem plano alternativo, sem orientação, a multidão que sai de casa com o dinheiro contado para a passagem de ida e volta se sentiu desrespeitada. O caos se instalou sob uma sensação térmica e emocional de 50 graus.

Vanessa saiu da Zona Oeste do Rio às 4 horas, para chegar ao emprego às 5h30. Às 8 horas, ainda caminhava nos trilhos. Suada. Esgotada. Revoltada. Sem dinheiro para pagar uma passagem de ônibus. Sem informação da SuperVia, empresa que administra os trens do Rio e que ganhou a concessão até 2048. A Odebrecht é dona de 60% da concessionária. De super, a empresa não tem nada. Talvez apenas SuperIncompetente. Vanessa não chegou a ver a cena que revoltou ainda mais os cariocas: o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, esbanjando sorrisos com o presidente da SuperVia, Carlos José Cunha, nos trilhos vazios. Riam de quê?

Carlos José Cunha não mexe um músculo facial quando fala sobre descarrilamentos e problemas técnicos. Chegarão novos trens, estamos gastando não sei quantos bilhões, são investimentos “de longa maturação”. A multa, quando é aplicada, nem faz cócegas. O secretário Júlio Lopes sai pela tangente: “Décadas de abandono”. O Rio foi abandonado? Foi. Mas não dá para tratar a multidão como gado.

Muitos trens em decomposição. Sem ar-condicionado. Atrasos constantes. Péssimo sistema de som. Num acidente grave, passageiros ficam parados 40 minutos dentro do trem no calor. Gente passa mal. Jovens incitam ao quebra-quebra. Multidão é obrigada a descer. Alto-fa­lante só diz: “A SuperVia agradece pela preferência”.

Acidentes urbanos acontecem no mundo todo. O problema, tanto no Rio quanto em outras cidades brasileiras, é a falta de um plano imediato de contingência e a falta de informação. Não só nas grandes linhas. Lembra o trenzinho vermelho para o Corcovado? Parou na virada do ano. Durante duas horas, turistas brasileiros e estrangeiros ficaram na mata no escuro. Sem a menor ideia de quando o pesadelo acabaria. Era o reality “Brazil”. Passaram para outro trenzinho usando a luz dos smartphones, porque nem lanterna havia. E o Cristo foi privatizado. Imagina nas Olimpíadas.

Quando há acidentes de carro nas avenidas do Rio – isto é, a cada minuto –, não há, como nas cidades civilizadas, painéis eletrônicos avisando para voltar ou pegar rotas alternativas. Só quem tem acesso ao Google dentro do carro consegue saber o que está bloqueando o trânsito. Para que serve a tecnologia do centro futurista da prefeitura? Imagina nas Olimpíadas.

A espuma espessa e a coloração marrom de nossos mares não fazem mal algum, diz o governo. São apenas algas, um fenômeno típico e sazonal do Rio de Janeiro! Saiu publicada a carinha das algas microscópicas que produzem a espuma nojenta quando o mar bate nas pedras. Biólogos desmentem a versão oficial. Segundo eles, a alga só vira espuma em blocos quando misturada à poluição humana. Na semana passada, vimos uma imagem assustadora: uma cachoeira de esgoto caindo do Morro do Vidigal direto no mar de São Conrado. Autoridades se apressaram a fechar o “cano rompido” e a prometer que o esgoto in natura seria lançado “lá fora”. E de fora não vem para dentro?

Fico pensando nas modalidades esportivas nas águas – mar, lagos, lagoas, baía. Alguém viu as ilhas de cocô nas lagoas da Barra e do Recreio, em fotos aéreas? Para onde foram todos os bilhões e bilhões que iriam despoluir as lagoas e a Baía de Guanabara? Imagina nas Olimpíadas.

Alguém viu o teleférico parado no Morro da Providência? Ficou pronto em maio do ano passado.  Custou R$ 75 milhões. Foi concebido para ligar a Cidade do Samba, a Central do Brasil e a Providência. Mas até hoje não saiu do lugar. As gôndolas estão lá há oito meses, como um monumento à incompetência. “É o museu do teleférico, só para a gente ver”, disse Luciana Ribeiro, moradora da Providência, que sobe o morro a pé. O prefeito Eduardo Paes pessoalmente testou o bondinho em dezembro de 2012. A prefeitura esclareceu que está “finalizando o modelo de operação para atender à comunidade”. Imagina nas Olimpíadas.

O alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, chegou ao Rio no dia da pane na SuperVia. “O que está acontecendo no Rio?”, perguntou. Bach confia que, “se cada dia for utilizado adequadamente, tudo estará pronto” antes dos Jogos.


Nem é preciso imaginar o que vai acontecer na Copa. A gente já sabe. A criatividade anda solta. Aeroporto do Cea­rá poderá ter terminal de lona. O país do circo arrasa! Esqueça 2014, porque os prazos foram para o beleléu. Pense em 2016. Imagina nas Olimpíadas.”

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