Por Zezinho de Caetés
Eu trago para perto de mim, e prevejo para uma data mais
próxima, aquilo que a jornalista Ruth de Aquino mostra no texto abaixo (transcrito
da Revista Época, publicado em 28/01/2014). Sua estupefação diante do quadro da
infraestrutura que se apresenta no Rio de Janeiro e o relaciona com as
Olimpíadas que serão realizadas naquela cidade em 2016. Começa pelo título que
é: “Imagina nas Olimpíadas”, que
parafraseia o mais próximo e já bastante manjado: “Imagina na Copo do Mundo”.
Quem estiver interessado apenas na situação do Rio, que pule
estas mal traçadas linhas e vá direto ao artigo da jornalista, que é muito bom.
Aqui eu fico em meu Recife querido enfatizando nosso desempenho, como cidade
sede na Copa do Mundo, que está ali no tempo, faltando apenas poucos dias como
mostram alguns painéis pela cidade. E me mantenho no refrão: “Imagina na Copa”.
Só quem mora longe desta cidade para dizer que estamos em
dia com as obrigações para Copa, mesmo que se pense muito longe do Padrão Fifa. Até agora, tentem chegar à
entrada para São Lourenço, pela BR-232, e veja, sem jogo nem nada, o tempo que
se tomará para chegar à Arena Pernambuco. Pelo que vejo, e pelo números de
turistas que virão, será muito pior do que na Copa das Confederações. E naquela
época já foi muito ruim lá chegar.
Imaginem em junho! Mesmo feriado, coisa que só se passa em
país do terceiro mundo ao perder um dia de trabalho inteirinho para poder se
chegar a um evento esportivo, penso que será um caos. E se houver as tais de
manifestações que são previstas para o período, não sei não!. E vejam que estou
falando de um Estado onde temos um estádio já pronto. Imaginem em junho em
outras sedes onde os estádios ainda patinam na ineficiência do setor público,
multiplicada por 1000 se o governo é petista! Ninguém chegará lá, como não
chegará aqui na Arena porque não teremos a devida “mobilidade urbana” para aportar nos estádios.
Tudo será feito a toque de caixa, como é sempre feito pelo atual
governo federal, isto quando termina. O que temo, e todos os brasileiro, é que
além de sermos derrotados fora de campo, também sejamos derrotados dentro dele.
Mas, existirá uma situação pior ainda, é se ocorrer tudo isto e ainda
reelegermos a presidenta. Então estará na hora de partir. Espero que não seja
pelo meu já fraco coração e sim pela compra de uma passagem para a Argentina.
Caos por caos, lá faz menos calor.
Fiquem com texto da Ruth e reflitam. Tudo poderá ocorrer
outra vez nas Olimpíadas. Vade-retro,
presidenta.
“"Eles tratam a gente igual a gado.” Vanessa Rocha, cozinheira,
foi uma das 600 mil vítimas do inferno do transporte no Rio de Janeiro. Um trem
descarrilou, bateu num poste de energia e interrompeu todo o sistema sobre
trilhos. Durante 11 horas! Sem plano alternativo, sem orientação, a multidão
que sai de casa com o dinheiro contado para a passagem de ida e volta se sentiu
desrespeitada. O caos se instalou sob uma sensação térmica e emocional de 50
graus.
Vanessa saiu da Zona Oeste do Rio às 4 horas, para chegar ao emprego às
5h30. Às 8 horas, ainda caminhava nos trilhos. Suada. Esgotada. Revoltada. Sem
dinheiro para pagar uma passagem de ônibus. Sem informação da SuperVia, empresa
que administra os trens do Rio e que ganhou a concessão até 2048. A Odebrecht é
dona de 60% da concessionária. De super, a empresa não tem nada. Talvez apenas
SuperIncompetente. Vanessa não chegou a ver a cena que revoltou ainda mais os
cariocas: o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, esbanjando
sorrisos com o presidente da SuperVia, Carlos José Cunha, nos trilhos vazios.
Riam de quê?
Carlos José Cunha não mexe um músculo facial quando fala sobre
descarrilamentos e problemas técnicos. Chegarão novos trens, estamos gastando
não sei quantos bilhões, são investimentos “de longa maturação”. A multa,
quando é aplicada, nem faz cócegas. O secretário Júlio Lopes sai pela tangente:
“Décadas de abandono”. O Rio foi abandonado? Foi. Mas não dá para tratar a
multidão como gado.
Muitos trens em decomposição. Sem ar-condicionado. Atrasos constantes.
Péssimo sistema de som. Num acidente grave, passageiros ficam parados 40
minutos dentro do trem no calor. Gente passa mal. Jovens incitam ao
quebra-quebra. Multidão é obrigada a descer. Alto-falante só diz: “A SuperVia
agradece pela preferência”.
Acidentes urbanos acontecem no mundo todo. O problema, tanto no Rio
quanto em outras cidades brasileiras, é a falta de um plano imediato de contingência
e a falta de informação. Não só nas grandes linhas. Lembra o trenzinho vermelho
para o Corcovado? Parou na virada do ano. Durante duas horas, turistas
brasileiros e estrangeiros ficaram na mata no escuro. Sem a menor ideia de
quando o pesadelo acabaria. Era o reality “Brazil”. Passaram para outro
trenzinho usando a luz dos smartphones, porque nem lanterna havia. E o Cristo
foi privatizado. Imagina nas Olimpíadas.
Quando há acidentes de carro nas avenidas do Rio – isto é, a cada
minuto –, não há, como nas cidades civilizadas, painéis eletrônicos avisando
para voltar ou pegar rotas alternativas. Só quem tem acesso ao Google dentro do
carro consegue saber o que está bloqueando o trânsito. Para que serve a
tecnologia do centro futurista da prefeitura? Imagina nas Olimpíadas.
A espuma espessa e a coloração marrom de nossos mares não fazem mal
algum, diz o governo. São apenas algas, um fenômeno típico e sazonal do Rio de
Janeiro! Saiu publicada a carinha das algas microscópicas que produzem a espuma
nojenta quando o mar bate nas pedras. Biólogos desmentem a versão oficial.
Segundo eles, a alga só vira espuma em blocos quando misturada à poluição
humana. Na semana passada, vimos uma imagem assustadora: uma cachoeira de
esgoto caindo do Morro do Vidigal direto no mar de São Conrado. Autoridades se
apressaram a fechar o “cano rompido” e a prometer que o esgoto in natura seria
lançado “lá fora”. E de fora não vem para dentro?
Fico pensando nas modalidades esportivas nas águas – mar, lagos,
lagoas, baía. Alguém viu as ilhas de cocô nas lagoas da Barra e do Recreio, em
fotos aéreas? Para onde foram todos os bilhões e bilhões que iriam despoluir as
lagoas e a Baía de Guanabara? Imagina nas Olimpíadas.
Alguém viu o teleférico parado no Morro da Providência? Ficou pronto em
maio do ano passado. Custou R$ 75
milhões. Foi concebido para ligar a Cidade do Samba, a Central do Brasil e a
Providência. Mas até hoje não saiu do lugar. As gôndolas estão lá há oito
meses, como um monumento à incompetência. “É o museu do teleférico, só para a
gente ver”, disse Luciana Ribeiro, moradora da Providência, que sobe o morro a
pé. O prefeito Eduardo Paes pessoalmente testou o bondinho em dezembro de 2012.
A prefeitura esclareceu que está “finalizando o modelo de operação para atender
à comunidade”. Imagina nas Olimpíadas.
O alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional,
chegou ao Rio no dia da pane na SuperVia. “O que está acontecendo no Rio?”,
perguntou. Bach confia que, “se cada dia for utilizado adequadamente, tudo
estará pronto” antes dos Jogos.
Nem é preciso imaginar o que vai acontecer na Copa. A gente já sabe. A
criatividade anda solta. Aeroporto do Ceará poderá ter terminal de lona. O
país do circo arrasa! Esqueça 2014, porque os prazos foram para o beleléu.
Pense em 2016. Imagina nas Olimpíadas.”
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