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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dois mil e catou-te




Por Carlos Sena (*)

Em 2014 deixe alguém te catar. A gente sempre manda alguém  "catar coquinho" ou mesmo com cara abusada num sonoro "vai te catar". No ano que vem deixe que te catem, sem preconceito. Deixe catarem de vocês o que tiver de sobra. Porque todos temos coisas boas de sobra pra dar ou vender e, portanto se permitir a catação.
No mangue se cata caranguejo. No namoro se cata beijo. Na reza se cata desejo. No desejo se cata: o sol nos dias de praia; o o frio nos dias de inverno; o brilho no vestido longo, a formalidade dentro do terno. No afago se cata o beijo, no fechecler aberto o desejo  brota qual tacape indisciplinado.

Lá fora o lixeiro cata o lixo. Dentro de casa o lixo mesquinho do egoísmo se esconde no tapete e poucos catam. Catapulta. Bodoque que atira a pedra que não se cata como preciosa. Precioso é o que se nos catam na hegemonia do prazer absoluto. O pluto catando a pluta, enquanto no meretrício baixo se catapulta por devoção ao prazer do macho.

Portanto, em 2014 cate. No final dele ninguém irá dizer que ninguém te catou. Catou-te? Cate e se deixe catar. Cante, porque quem canta seus cata-ventos estimulam e se desfaz o gesto frio que separa quem tem medo de se entregar totalmente e flexamente.
Eu vi o menino correndo e não vi o tempo atrás dele. Criança é livre e feliz porque não tem medo do chão em que tudo cata... O tempo tem medo das crianças, mas não tem dos adultos. Porque adulto sempre quer trocar uma coisa pela mesma coisa, mas tem medo de catar e ser catado... Como o tempo é atrevido sempre termina nos catando. E nos chancela com a prata nos nossos cabelos, mas cata o ouro que nem sempre se esconde em nossos bolsos ou em nossos mealheiros.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 13/12/2013

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